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Para psicóloga, luto deve ser vivido, mas é importante que a dor seja transitória
MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A experiência do luto é para
ser vivida." É assim que a psicóloga clínica Maria Helena Pereira Franco, 52, resume o modo como os familiares e parentes devem digerir a perda brusca e violenta das vítimas do acidente com o Airbus-A320 da TAM, no último dia 17.
"Não tem como apressar esse
processo, especialmente quando há agravantes de morte repentina e violenta", afirma a especialista, que também é coordenadora do Laboratório de
Estudos e Intervenções sobre
Luto da PUC-SP. Considerada
a principal especialista em luto
traumático no Brasil, ela foi
chamada logo depois do acidente que matou 199 pessoas.
Todas as noites, desde o acidente, ela organiza a escala de
trabalho do dia seguinte para os
cerca de 30 psicólogos que
coordena e que estão envolvidos no caso. "Tento não sobrecarregá-los porque é muito pesado. Falo para eles aproveitarem o tempo livre para descansar e ir ao cinema".
Os psicólogos atuam no IML
(Instituto Médico Legal), nos
dois hotéis que hospedam os
parentes das vítimas, nos dois
aeroportos de São Paulo -para
atender funcionários da TAM
que perderam amigos ou viram
o acidente-, e em outros três
departamentos da TAM.
Quanto à forma como cada
parente reagiu à perda de um
ente querido, a psicóloga afirma que as reações são diversas.
"As pessoas podem ter raiva,
tristeza ou necessidade de
achar um culpado. Também é
comum que alguma sensação
interior se reflita em outra situação. Se um parente começa
a achar que está tudo ruim, que
o café está fraco, que isso e que
aquilo, pode estar transferindo
esse sentimento", explica.
Algumas frases como "bola
para frente" ou "a vida continua" são proibidas entre os psicólogos que atendem os parentes das vítimas. "Não falamos
nada que traga, nas entrelinhas, que não agüentamos vê-los sofrer. Temos postura de
validar o que ele está vivendo,
reconhecendo que há motivos
para estar triste", relata Maria.
No caso do acidente com o
Airbus da TAM, o fato de o trabalho de identificação dos corpos ter sido dificultado pela
carbonização e, também, a possibilidade de não ter os restos
mortais das vítimas acentua o
desespero dos parentes. Isso
ocorre porque ter o corpo ou
parte dele ajuda a entender que
a pessoa morreu.
Apesar de passar diariamente por onde ocorreu o acidente,
ela diz não conseguir olhar para
o local. "Eu preciso focalizar no
que tenho de fazer, que já é difícil por si só", justifica.
O serviço de assistência a vitimas e familiares de acidentes
aéreos é regulamentado pela
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), e determina que
o auxílio se estenderá pelo tempo que for necessário.
Também há voluntários ao
Peace (Programa Especial de
Assistência ao Cliente em
Emergência da TAM) prestando auxílio a parentes e funcionários da empresa.
Para Maria Helena, é importante que os parentes das vítimas vivenciem a sua dor, mas
entendam que ela vai passar.
"A dor e o pesar são transitórios, mas a existência daquela
pessoa na vida deles na está na
biografia de suas vidas."
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