São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Para psicóloga, luto deve ser vivido, mas é importante que a dor seja transitória

MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"A experiência do luto é para ser vivida." É assim que a psicóloga clínica Maria Helena Pereira Franco, 52, resume o modo como os familiares e parentes devem digerir a perda brusca e violenta das vítimas do acidente com o Airbus-A320 da TAM, no último dia 17.
"Não tem como apressar esse processo, especialmente quando há agravantes de morte repentina e violenta", afirma a especialista, que também é coordenadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre Luto da PUC-SP. Considerada a principal especialista em luto traumático no Brasil, ela foi chamada logo depois do acidente que matou 199 pessoas.
Todas as noites, desde o acidente, ela organiza a escala de trabalho do dia seguinte para os cerca de 30 psicólogos que coordena e que estão envolvidos no caso. "Tento não sobrecarregá-los porque é muito pesado. Falo para eles aproveitarem o tempo livre para descansar e ir ao cinema".
Os psicólogos atuam no IML (Instituto Médico Legal), nos dois hotéis que hospedam os parentes das vítimas, nos dois aeroportos de São Paulo -para atender funcionários da TAM que perderam amigos ou viram o acidente-, e em outros três departamentos da TAM.
Quanto à forma como cada parente reagiu à perda de um ente querido, a psicóloga afirma que as reações são diversas.
"As pessoas podem ter raiva, tristeza ou necessidade de achar um culpado. Também é comum que alguma sensação interior se reflita em outra situação. Se um parente começa a achar que está tudo ruim, que o café está fraco, que isso e que aquilo, pode estar transferindo esse sentimento", explica.
Algumas frases como "bola para frente" ou "a vida continua" são proibidas entre os psicólogos que atendem os parentes das vítimas. "Não falamos nada que traga, nas entrelinhas, que não agüentamos vê-los sofrer. Temos postura de validar o que ele está vivendo, reconhecendo que há motivos para estar triste", relata Maria.
No caso do acidente com o Airbus da TAM, o fato de o trabalho de identificação dos corpos ter sido dificultado pela carbonização e, também, a possibilidade de não ter os restos mortais das vítimas acentua o desespero dos parentes. Isso ocorre porque ter o corpo ou parte dele ajuda a entender que a pessoa morreu.
Apesar de passar diariamente por onde ocorreu o acidente, ela diz não conseguir olhar para o local. "Eu preciso focalizar no que tenho de fazer, que já é difícil por si só", justifica.
O serviço de assistência a vitimas e familiares de acidentes aéreos é regulamentado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e determina que o auxílio se estenderá pelo tempo que for necessário.
Também há voluntários ao Peace (Programa Especial de Assistência ao Cliente em Emergência da TAM) prestando auxílio a parentes e funcionários da empresa.
Para Maria Helena, é importante que os parentes das vítimas vivenciem a sua dor, mas entendam que ela vai passar. "A dor e o pesar são transitórios, mas a existência daquela pessoa na vida deles na está na biografia de suas vidas."


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