São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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Especialistas debatem relação entre acidentes e álcool

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

No Brasil há cerca de 31 mil mortes em acidentes de trânsito por ano. São 19 mortos por 100 mil habitantes/ano, três vezes mais que em países europeus.
Na França, em 20% dos acidentes com vítimas fatais o motorista tinha bebido acima do limite. Na Dinamarca, são 8%. No Hospital da Restauração do Recife, a principal porta de entrada das lesões graves da região metropolitana, 70% dos feridos no trânsito, causadores ou vítimas do acidente, estavam alcoolizados.
Especialistas acreditam que em diferentes regiões do país esse número oscile de 30% a 60%. A primeira constatação é que faltam pesquisas e informações no Brasil sobre o assunto. Apenas agora o Ministério da Saúde está começando a implantar o Sisav, um sistema que torna obrigatório a notificação dos acidentes e violência. Ainda assim, o formulário não prevê informações sobre o nível de álcool no sangue.
O país ainda não sabe nada sobre a segunda causa de óbito dentro das mortes violentas, que são os acidentes de trânsito -a primeira é o homicídio.
A gravidade da situação e a falta de pesquisas na relação entre bebida e direção foram temas ontem da 1ª Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos, que acontece em Recife.
Os pesquisadores destacaram a relação direta entre álcool e acidente e, mais especialmente, a relação entre medidas preventivas de redução de danos e a queda no número de vítimas do trânsito.
A tese dos especialistas -20 estrangeiros e cerca de 80 do Brasil- segue o princípio que norteia a conferência, o de que é mais importante e realista reduzir os danos da bebida do que impedir que as pessoas bebam.
Robin Room, do Centro para Pesquisa Social em Álcool e Drogas da Suécia, é dos maiores conhecedores das práticas de redução de riscos na relação bebida e direção. Ele defende mudanças que começam pelo ambiente de trânsito, como a retirada de árvores e postes de locais com maior ocorrência de acidentes.
Equipamentos de segurança como cinto e airbags, que protegem todos no carro, são ainda mais necessários para os alcoolizados, na direção ou fora dela. Vários estudos mostram que vítimas alcoolizadas sofrem mais fraturas e ferimentos mais graves.
Room também relaciona os acidentes de trânsito ao transporte coletivo. Onde há ônibus e metrô disponíveis à noite, há menos motoristas alcoolizados dirigindo.
Na relação dos fatores que reduzem a equação álcool-direção-acidentes, Room cita a lei, desde que a punição seja aplicável, rápida, e o infrator tenha a certeza de que será punido. Cita também a fiscalização e orientação com o uso de bafômetros, que na Nova Zelândia diminuiu muito o número de acidentes. Cita também a responsabilidade dos donos de bares e restaurantes. Em alguns países, eles perdem a licença se venderem bebida a menores ou a quem já está alcoolizado. A vigilância de amigos e da mulher ou namorada, que impede alguém alcoolizado de dirigir, é outra forma de reduzir os riscos.


O repórter Aureliano Biancarelli viajou a convite da 1ª Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e Redução de Danos

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