São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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QUALIDADE DE VIDA
Renda familiar per capita cresceu 32% de 94 a 98, mas aumento foi maior para quem ganhava mais
Desigualdade aumenta entre os mais ricos e os mais pobres da Grande SP

Juca Varella/Folha Imagem
Família vinda de PE que vive há 4 anos na favela Real Parque


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

A renda familiar "per capita" cresceu 32% na Grande São Paulo entre 1994 e 1998. Mas o aumento foi maior para quem já ganhava mais, tornando ainda mais largo o fosso que separa ricos e pobres na principal metrópole do país.
Essas são conclusões da Pesquisa de Condições de Vida (PCV-98) divulgadas ontem pela Fundação Seade, do governo paulista.
Nesses quatro anos, que coincidem com o período de implantação do Plano Real e com o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, a renda média de cada membro da família paulistana passou de R$ 426,00 para R$ 560,70 por mês.
Porém, para os 10% mais pobres da população, o aumento da renda foi de 24%, inferior à média. Seu quinhão mensal passou de R$ 43,50 para R$ 54,10. Já para os 10% mais ricos houve um incremento de 37% nos rendimentos, que saltaram de R$ 1.793,30 para R$ 2.460,40 mensais.
Ao final das contas, ficou ainda maior a distância entre os que estão na base da pirâmide social paulistana e aqueles que estão no topo. A renda da elite, que era 41,2 vezes maior em 1994, passou a ser 45,5 vezes superior à dos pobres.
Segundo Paulo Jannuzzi, analista socioeconômico do Seade, um dos motivos para a piora do perfil distributivo foi a perda de postos de trabalho. Nesse mesmo período a PCV mostra que o desemprego total da Grande São Paulo cresceu de 14,6% para 17,3%.
Há outras razões, porém. O processo de aumento da renda, mas também das desigualdades sociais, está ligado ao papel desempenhado pela capital paulista na internacionalização da economia.
Considerada uma cidade global, São Paulo é a principal responsável pela conexão entre o Brasil e a economia global. Por ela passa, por exemplo, a maior parte do fluxo financeiro do país.
Nesse papel, como aponta a professora de sociologia da Universidade de Chicago Saskia Sassen em seu livro "As Cidades na Economia Mundial", metrópoles como São Paulo tendem a concentrar empregos muito bem remunerados de um lado e ocupações que pagam mal de outro.
Muitas funções com ganhos intermediários, como as de operários fabris, foram "exportadas" para municípios do interior. Segundo a PCV, o peso da indústria no total do emprego da região metropolitana caiu de 23,8% para 19,1% de 1994 para 1998.
E a maior oferta de ocupações no setor de serviços ficou polarizada. Em uma ponta, vagas para consultores, advogados, publicitários e outros prestadores de serviço para as sedes das grandes empresas. Na outra, seguranças, faxineiros, motoristas, garçons.
"Quem teve os maiores aumentos de renda foram os mais qualificados, os mais escolarizados, que trabalham nos ramos modernos de serviços", diz Januzzi.
Esses passaram a ganhar ainda mais do que aqueles que estão na base da pirâmide social, "onde predominam as ocupações informais, de baixa remuneração e de baixa qualificação", completa.
O controle da inflação, porém, teve efeitos benéficos para os indigentes. O número de famílias cuja renda per capita era inferior a R$ 62,26 caiu praticamente à metade, saindo de 11,4% para 5,7% do total de agrupamentos familiares.
O efeito indireto desse movimento é que aumentou ligeiramente a fatia da renda dos 5% mais pobres, de 0,5% para 0,6% do bolo total. Ao mesmo tempo, a fatia dos 5% mais ricos cresceu de 23,4% para 24,9% do bolo.
Em outras palavras, entre 94 e 98 foi possível para metade das famílias sair da indigência para apobreza, mas, a partir daí, ficou maior a distância para continuar a escalada até o topo da pirâmide.



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