São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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ENGENHARIA DO CRIME

Dinheiro, que ainda tinha lacres do banco, pagou participação no crime das cinco pessoas presas, diz a PF

Casa em Fortaleza escondia R$ 12 mi do BC

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Uma parte do dinheiro furtado do Banco Central em Fortaleza há quase dois meses, cerca de R$ 12 milhões, foi encontrada ontem pela Polícia Federal na periferia da cidade. Cinco homens foram presos, e três carros, apreendidos.
O dinheiro estava escondido embaixo do piso de um dos quartos de uma casa térrea, comprada por cerca de R$ 70 mil pela quadrilha há mais ou menos 50 dias, segundo vizinhos. O período coincide com a data do crime.
A casa fica na avenida Presidente Costa e Silva (mais conhecida como Perimetral), número 1.950, na periferia de Fortaleza, e estava à venda há mais de dois anos, ainda de acordo com vizinhos, antes de ser comprada pela quadrilha.
A maior parte do dinheiro ainda estava do mesmo jeito de quando foi levada do BC, dividida em pacotes com R$ 5.000, em notas de R$ 50, e com os lacres bancários.
O furto ao Banco Central aconteceu entre os dias 5 e 6 de agosto. A quadrilha conseguiu arrombar a caixa-forte do banco e tirar de lá R$ 164,8 milhões, por meio de um túnel de 80 metros, escavado de uma casa alugada a dois quarteirões de distância.
Além dos cerca de R$ 12,3 milhões encontrados ontem, já haviam sido recuperados outros R$ 5 milhões, que estavam sendo transportados em um caminhão-cegonha da empresa JE Transporte, de Fortaleza. José Charles Machado de Morais, dono da transportadora, é suspeito de ligação com o assalto. Um dos carros apreendidos ontem pertenceria a ele, segundo a PF.
A quantia descoberta ontem foi contada primeiro na própria casa, pelos agentes da PF, mas em seguida levada ao BC, para uma recontagem. Os cinco presos, cujos nomes não foram revelados, permaneciam na casa, sendo interrogados. Segundo a PF, eles confirmaram que o dinheiro estava sendo dividido e que era a parte deles no assalto. Todos tinham passagens aéreas e rodoviárias para viajar para fora do Ceará. Segundo o superintendente da PF no Estado, João Batista Santana, um dos presos era do Ceará e os outros, de São Paulo e de Minas.

Investigação
A ação da PF começou às 11h. Policiais à paisana chegaram a uma mercearia em frente à casa, onde os suspeitos costumavam almoçar diariamente. Eles foram presos quando iam almoçar.
Na casa onde estava o dinheiro, havia muito material de construção no quintal e três veículos, uma Mitsubishi Pajero cor prata, de Santana de Parnaíba (SP), uma picape Montana preta, de Mossoró (RN), e uma perua Kombi.
Segundo vizinhos, freqüentavam a casa pelo menos sete pessoas, entre elas uma grávida. "Eles almoçavam aqui ou no restaurante ao lado, às vezes em três, quatro, até sete pessoas, e pareciam normais, não dava para desconfiar de nada", disse Pedro Paulo de Oliveira dos Santos, dono de uma mercearia em frente à casa.
Segundo o superintendente da PF no Ceará, delegado João Batista Santana, os cinco homens presos ontem fazem parte de um grupo maior, com conexão em outros Estados e sobre os quais os investigadores já têm pistas.
Os bandidos presos em Fortaleza vinham sendo seguidos pela PF há um mês e meio. Ao acompanhar a rotina dos assaltantes, os policiais descobriram que eles compraram uma grande quantidade de sacos plásticos e ligas de elástico. O material foi usado para organizar as notas, todas de R$ 50.
A polícia antecipou a ação porque, na noite anterior, chegou ao local um automóvel Pajero preto, com os três paulistas. A movimentação revelou indícios de que o grupo estava deixando o local.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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