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Para Bicudo, comodismo explica arquivamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Promotor que liderou, na década de 70, o combate ao Esquadrão
da Morte, grupo de extermínio
formado por policiais, o ex-deputado e vice-prefeito de São Paulo,
Hélio Bicudo, não poupa seus ex-colegas de Ministério Público.
Segundo ele, o número de pedidos de arquivamento revela "comodismo" dos promotores. Autor da lei que transferiu os homicídios dolosos cometidos por
PMs para a Justiça comum, ele
também se diz "frustrado" com os
resultados da pesquisa.
Folha - Por que o senhor acha que
os promotores pedem o arquivamento da grande maioria dos casos, como revela a pesquisa?
Hélio Bicudo -Por desconhecimento, porque ele não atuou no
inquérito, e comodismo. Você pede o arquivamento e o juiz, também por comodismo, arquiva.
Folha - Também não é por compartilhar de uma mentalidade de
que o suposto bandido pode morrer em qualquer circunstância?
Bicudo -Pode ser que tenham alguns juízes e promotores com esse tipo de mentalidade, de que lugar de bandido é no caixão. Mas
não podemos generalizar. É mais
uma questão de comodismo e má
ciência do caso. Aliás, quando eu
fiz a investigação sobre o Esquadrão da Morte, uma das coisas
que eu notei foi exatamente isso.
Os inquéritos feitos pela Polícia
Civil, porque os fatos eram praticados por policiais civis, vinham
preparados e o promotor, com
volume de serviço bastante razoável, pedia o arquivamento.
Folha - Então, isso não é um fenômeno novo?
Bicudo -É um fenômeno já antigo que se escora, busca se acomodar através dessa vontade que a
gente tem de não trabalhar.
Folha - Preguiça?
Bicudo - Exatamente. O sujeito
pensa: "o inquérito deve estar certo, arquive-se".
Folha - Mas as posições dos IPMs e
dos promotores coincidem em 85%
dos casos. Não é muito para se explicar só com comodismo?
Bicudo -É comodismo, falta de
conhecimento e também é essa
mentalidade de que os policiais
são os sentinelas da ordem e que
bandido é bandido, que eu acho
que não é muito generalizada. Para você não concordar com aquilo
que está no inquérito, seja civil ou
militar, você precisa ler o documento, precisa estudar.
Folha - O senhor, ao receber dados como os dessa pesquisa, não se
sente um pouco frustrado?
Bicudo -Bastante frustrado. Porque trabalhamos a vida inteira para que isso não ocorresse, e continua ocorrendo. Os dados revelam
impunidade. Era mais ou menos
o que acontecia quando eu investiguei o esquadrão.
Folha - De lá para cá, as coisas
mudaram?
Bicudo -Acho que pouca coisa,
ou quase nada ou piorou. Talvez o
esquadrão, como um organismo
formalizado dentro da Polícia Civil, acho que não acontece mais.
Mas eu acho que a polícia, como
um todo, atua nesse sentido da
eliminação.
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