|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Uso de remédio gera embate entre médicos
DA REPORTAGEM LOCAL
Há hoje nos EUA um embate
entre pesquisadores que alertam
para o perigo da indicação exagerada de remédios para controle
do colesterol e os que consideram
essas drogas seguras e fundamentais para conter o avanço das
doenças cardiovasculares.
O médico John Reckless, presidente da sociedade de cuidado
com o colesterol Heart UK e consultor em endocrinologia na Universidade de Bath, chegou a recomendar a inclusão dessas drogas,
chamadas estatinas, no fornecimento de água, argumentando
que elas são efetivas e extremamente seguras. Hoje, esses remédios são vendidos sem receita médica nos EUA.
Ano passado, 30 pesquisadores
e clínicos de universidades e centros médicos renomados, como
Harvard, Cornell e Johns Hopkins, encaminharam uma carta
aberta para os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e o Programa Nacional de Educação sobre Colesterol, na qual pediram
uma reavaliação radical das linhas
de direção que regem o uso de estatinas, principal classe de drogas
usada para controle do colesterol.
Nessa carta, os pesquisadores
fazem duas afirmações que impressionam: não haveria evidências de que as estatinas beneficiam mulheres não-infartadas, e a
redução dos níveis de colesterol
em pacientes idosos aumentaria o
risco de desenvolver outras doenças, como câncer. Para eles, o benefício estaria restrito a pessoas
que apresentam risco elevado para doença cardiovascular.
Em entrevista à Folha, o médico
John Abramson, professor da Escola de Medicina de Harvard, citou estudos feitos no Canadá
mostrando que 88% das pessoas
que usam as drogas para baixar o
colesterol não precisam delas.
No Brasil, em geral, os cardiologistas defendem as estatinas e não
consideram que esses números
canadenses sejam aplicáveis aqui.
Para Raimundo Marques Nascimento, presidente da Funcor,
desvios de prescrição ocorrem
com qualquer doença e em qualquer lugar do mundo.
Na sua opinião, no Brasil não há
essa febre de consumo das estatinas porque os medicamentos são
prescritos pelos médicos e há uma
diretriz a ser seguida que define os
riscos cardiovasculares.
"Os americanos não costumam
mudar o estilo de vida. Preferem
tomar remédio. A realidade no
Brasil é outra", afirma.
Os primeiros dados de uma pesquisa que está sendo realizada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, em parceria com laboratório AstraZeneca, revelam que a
maioria dos brasileiros sabe que
tem doenças que vão levar ao infarto ou derrame, mas não toma
medicação preventiva.
Dos entrevistados, 78% dizem
que sabem o que é colesterol, mas
61% nunca fizeram um exame para avaliá-lo. Dos que sabem que
têm colesterol elevado, 86% não
fazem tratamento e 91% levam vida sedentária, mesmo sabendo
que a falta de exercício pode prejudicá-los. O estudo abrange 70
municípios de 21 Estados. (CC)
Texto Anterior: Regime e exercício reduzem risco de doença no coração Próximo Texto: Fashion: Pulseira "anticâncer" chega ao Brasil Índice
|