São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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Uso de remédio gera embate entre médicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Há hoje nos EUA um embate entre pesquisadores que alertam para o perigo da indicação exagerada de remédios para controle do colesterol e os que consideram essas drogas seguras e fundamentais para conter o avanço das doenças cardiovasculares.
O médico John Reckless, presidente da sociedade de cuidado com o colesterol Heart UK e consultor em endocrinologia na Universidade de Bath, chegou a recomendar a inclusão dessas drogas, chamadas estatinas, no fornecimento de água, argumentando que elas são efetivas e extremamente seguras. Hoje, esses remédios são vendidos sem receita médica nos EUA.
Ano passado, 30 pesquisadores e clínicos de universidades e centros médicos renomados, como Harvard, Cornell e Johns Hopkins, encaminharam uma carta aberta para os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e o Programa Nacional de Educação sobre Colesterol, na qual pediram uma reavaliação radical das linhas de direção que regem o uso de estatinas, principal classe de drogas usada para controle do colesterol.
Nessa carta, os pesquisadores fazem duas afirmações que impressionam: não haveria evidências de que as estatinas beneficiam mulheres não-infartadas, e a redução dos níveis de colesterol em pacientes idosos aumentaria o risco de desenvolver outras doenças, como câncer. Para eles, o benefício estaria restrito a pessoas que apresentam risco elevado para doença cardiovascular.
Em entrevista à Folha, o médico John Abramson, professor da Escola de Medicina de Harvard, citou estudos feitos no Canadá mostrando que 88% das pessoas que usam as drogas para baixar o colesterol não precisam delas.
No Brasil, em geral, os cardiologistas defendem as estatinas e não consideram que esses números canadenses sejam aplicáveis aqui.
Para Raimundo Marques Nascimento, presidente da Funcor, desvios de prescrição ocorrem com qualquer doença e em qualquer lugar do mundo.
Na sua opinião, no Brasil não há essa febre de consumo das estatinas porque os medicamentos são prescritos pelos médicos e há uma diretriz a ser seguida que define os riscos cardiovasculares.
"Os americanos não costumam mudar o estilo de vida. Preferem tomar remédio. A realidade no Brasil é outra", afirma.
Os primeiros dados de uma pesquisa que está sendo realizada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, em parceria com laboratório AstraZeneca, revelam que a maioria dos brasileiros sabe que tem doenças que vão levar ao infarto ou derrame, mas não toma medicação preventiva.
Dos entrevistados, 78% dizem que sabem o que é colesterol, mas 61% nunca fizeram um exame para avaliá-lo. Dos que sabem que têm colesterol elevado, 86% não fazem tratamento e 91% levam vida sedentária, mesmo sabendo que a falta de exercício pode prejudicá-los. O estudo abrange 70 municípios de 21 Estados. (CC)

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