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LIXO
Tribunal aponta irregularidades que vão da varrição ao aterro e que contam com a falta de controle como aliada
Prefeitura paga sem fiscalizar, diz TCM
da Reportagem Local
A empreiteira diz que varreu toda a cidade, diz que coletou toneladas e toneladas de lixo, diz que seu
caminhão fez o trajeto mais curto e
diz que alojou tudo como manda o
figurino. A prefeitura acredita e
paga. Milhões.
Trocando em miúdos é isso o que
constatam 14 auditorias feitas nos
serviços de limpeza urbana pelo
TCM (Tribunal de Contas do Município) entre 96 e abril deste ano.
"Entendemos que a falta de análise das quantidades apresentadas
na medição, aliada à precária fiscalização exercida, impossibilita que
o Limpurb tenha certeza de que os
serviços medidos correspondem
aos efetivamente executados e estejam de acordo com os previstos
no contrato", dizem reiteradamente auditores do TCM. Ou seja,
a prefeitura paga sem fiscalizar.
O pior vem a seguir. Depois de
dizer diversas vezes que a prefeitura não tem mecanismos para
saber se os serviços estão
mesmo sendo
feitos, o TCM
lista indícios de
que há falhas
que possibilitam o desvio de
quantias de dinheiro ainda
incalculáveis.
São mais de
duas dezenas
de irregularidades (veja quadro ao lado), que
começam na varrição, seguem pela
coleta de lixo e remoção de entulho, se repetem em usinas de compostagem e incineradores e terminam nos aterros.
A prefeitura rebate as acusações
e diz que pode haver problemas
pontuais, mas nada que comprometa toda a operação do sistema.
Mas sua argumentação não tem
convencido o próprio TCM -órgão frequentemente acusado de
ser aliado do Executivo. As irregularidades apontadas nesta reportagem são falhas para as quais a prefeitura não deu respostas satisfatórias, segundo pareceres do TCM.
Um dos mais claros indícios de
que a falta de fiscalização está
abrindo caminho para fraudes está
em relatórios sobre varrição feitos
pela Logos Engenharia entre março de 96 e fevereiro de 97.
Os fiscais da Logos fizeram o que
cabia aos funcionários públicos:
foram às ruas e, por amostragem,
checaram o que não estava sendo
feito. Constataram que, em média,
no período citado, 13% dos serviços de varrição contratados foram
pagos sem ser realizados.
Os relatórios têm dados semanais de todas as administrações regionais. Em cada uma delas, foi fiscalizada 10% da extensão total que
deveria ser varrida.
Durante toda a manhã, o fiscal
passava pelas ruas de determinada
região para as quais estava prevista
ação matutina e diária.
Na Regional de Santo Amaro,
por exemplo, foram vistoriados
48,8 km em março de 96. Desse total, 24,9 km não foram varridos
-um índice de 51%. Na Penha, em
abril do mesmo ano, não houve
varrição em 23% dos 16,4 km vistoriados. Na Vila Mariana, em fevereiro de 97, 24% dos 43,5 km vistoriados não foram limpos.
Da coleta ao aterro do lixo, as
fraudes também parecem pegar
carona na falta de fiscalização.
O problema começa nas regionais, onde o TCM não achou nenhuma planilha preenchida no
campo de fiscalização da coleta.
A falta de inspeção pode
permitir, por
exemplo, que
os coletores retirem mais de
100 litros de lixo de estabelecimentos comerciais -o
que é proibido
por lei.
O procedimento irregular aumentaria
o lucro das empresas, mas seria impedido se a
prefeitura tivesse controle sobre o
trajeto dos caminhões e sobre
quem são os grandes produtores
de lixo. Ela não tem.
Os problemas continuam no
transbordo, um pátio onde o lixo é
transferido dos caminhões para
carretas maiores, que levam os resíduos ao aterro. Houve carretas
que, nesse estágio, apresentaram
material transportado com densidade incompatível com a do lixo.
O conceito é complexo, mas pode ser entendido por um raciocínio simples: basta imaginar que
certo veículo tem tamanho para levar no máximo 10 unidades de algodão, mas na pesagem apresentada à prefeitura aparecem 20 unidades transportadas. Ou o material
era chumbo, não algodão, ou a pesagem foi superestimada.
A densidade média do lixo que
não foi compactado, segundo o
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), é de 0,20 ton/m3. No entanto, o TCM aferiu que algumas
carretas tinham 1 ton/m3, isto é, o
lixo levado pesava mais que o normal.
(SÍLVIA CORRÊA)
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