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LIXO
Especialistas confirmam irregularidades e dizem que prefeitura contraria lei ao pagar mais de 25% acima do contratado
Gasto com lixo hoje é ilegal, dizem advogados
da Reportagem Local
Ainda que nenhuma das fraudes
sugeridas pelo TCM (Tribunal de
Contas do Município) seja confirmada pela Justiça, a Prefeitura de
São Paulo já gastou R$ 598,7 milhões irregularmente com os contratos de limpeza da cidade.
A opinião é de especialistas em
direito administrativo que, a pedido da Folha, analisaram o edital de
licitação, os contratos e os aditamentos envolvidos na negociação.
O gasto é considerado irregular
porque ultrapassa os 25% de acréscimo máximo permitido pela lei
8.666/93, que rege as licitações.
O valor equivale a 51% do R$ 1,2
bilhão que foi destinado ao setor
desde abril de 95, quando começaram a vigorar os atuais contratos.
Se seguisse a legislação, a prefeitura só poderia desembolsar R$
573 milhões durante os 54 meses
de vigência desses acordos, segundo os advogados consultados.
Os gastos foram aumentados por
89 aditamentos distribuídos pelos
sete contratos. Eles incluem novas
modalidades de serviços, aumentam a extensão e as quantidades do
que já estava contratado e reajustam o preço unitário (km, tonelada
etc.) que balizam os pagamentos.
"A irregularidade é flagrante",
diz Celso Bastos, ex-procurador do
Estado e doutor em direito constitucional. "É como dizer ao público
que o serviço vai custar só um pouquinho, mas agigantá-lo depois
que seus detentores já estão definidos. E se alguém deixou de participar da licitação porque a considerou pouco vantajosa?", questiona.
A opinião é a mesma do advogado, vice-prefeito e corregedor de
São Paulo, Régis de Oliveira.
"Os 25% estão definidos em lei.
Não há o que discutir", afirma.
Na última quinta-feira, Oliveira
protocolou no Ministério Público
uma representação pedindo que
sejam apurados os reajustes e
acréscimos dos contratos.
Ele sugere que o excedente seja
cobrado dos responsáveis pelos
aditamentos por intermédio de
uma ação civil pública, o que pode
elevar ainda mais o já planejado
pedido de reembolso, hoje calculado em R$ 236 milhões.
Segundo o promotor de Justiça
da Cidadania Fernando Capez, um
dos que apuram as irregularidades
na limpeza pública, o acréscimo de
pagamentos e serviços será o próximo alvo das investigações.
A prefeitura rebate a acusação
exibindo um acórdão do TCM que
permite os aditamentos acima dos
25% com base em uma lei municipal. Os advogados, no entanto, dizem que o TCM cometeu um erro
jurídico (leia texto nesta página).
Outros problemas
Além dos acréscimos excessivos,
Bastos e Oliveira concordam com a
promotoria que é ilegal o cálculo
de novos serviços de varrição a
partir de padrões que contrariam
os parâmetros do edital.
"É amplamente difundido que o
edital é a lei interna da licitação",
diz o vice-prefeito. "A administração tem liberdade em sua elaboração, mas, depois, nada pode modificar suas regras."
"A somatória de indícios torna
inevitável a suspeita de que esses
contratos atendem ao único propósito de aumentar a remuneração
das empresas", completa Bastos.
O fato de a prefeitura ter pago
por serviços que, segundo uma
empresa contratada por ela mesma, não foram executados, também configura uma irregularidade, segundo os especialistas.
"Se os serviços que a empresa
prestava não podiam ser aproveitados, ela não deveria ter sido contratada", diz Celso Bastos. "A prefeitura não poderia ter ignorado
uma comunicação como essa."
"Pode até não ter havido dolo
(intenção de fraude) por parte dos
agentes do poder público, mas a
omissão também pode ser responsabilizada", acrescenta o vice-prefeito.
(SÍLVIA CORRÊA)
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