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CIDADE SUJA
Cálculo não é um consenso no setor imobiliário, mas todos concordam que a prática desvaloriza imóveis de São Paulo
Prejuízo com pichação pode chegar a R$ 8 bi
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma fachada pichada em São
Paulo faz o imóvel em questão
perder até 10% de seu valor total.
Os cálculos são de Luiz Fernando
de Queiroz, autor dos livros "TPD
- Direito Imobiliário" e "Guia do
Condomínio IOB" e vice-presidente da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil.
Segundo levantamento do mesmo Queiroz realizado junto a outras entidades imobiliárias, o prejuízo total que as pichações causam à cidade estaria atualmente
em R$ 8 bilhões, ou quase o orçamento anual da cidade (atualmente de R$ 11,4 bilhões). "É um
absurdo, mas é verdade", disse ele
à Folha. O número está longe de
ser unanimidade no setor.
"Infelizmente, não é possível fazer esse cálculo e qualquer tentativa de fazê-lo será chute", rebate o
especialista em mercado imobiliário Luiz Alvaro de Oliveira Ribeiro, da Adviser Consultores e da
Associação Viva o Centro. Ele
concorda, no entanto, que a prática desvaloriza o imóvel atingido.
"A pichação é quase como uma
firma reconhecida de que aquele
pedaço da cidade está em estado
de deterioração inexorável", afirma. Ribeiro cita como exemplos
as construções ao longo dos corredores de ônibus das avenidas
Santo Amaro e Nove de Julho e
grandes partes do centro.
"O ato mostra como você está
vulnerável a um inimigo que não
é claro, não é conhecido e não é
punido pelo poder público." Com
a última parte da frase do especialista concordam alguns pichadores ouvidos pela Folha.
"A polícia está dando um desconto e já dá para pichar até durante o dia", diz Maurício, da gangue Os Loucos. "Não é verdade,
nossa orientação continua a mesma, ou seja, prender os infratores", desmente o subtenente Jorge
Pagano, da seção de Comunicação Social da Polícia Militar.
A infração no caso são duas,
previstas no artigo 65 da Lei de
Crimes Ambientais ("pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano") e no artigo 163 do Código
Penal ("destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia"). As penas
variam de um mês a um ano mais
multa; tudo dobra se o alvo são
monumentos tombados.
Em São Paulo, pelo menos 380
monumentos se encaixam na categoria, dos quais 10% apresentam hoje algum tipo de pichação,
segundo Rafaela Bernardes, chefe
do laboratório de restauros do Patrimônio Histórico da Prefeitura.
"A maioria é na base, pois os pichadores respeitam mais a obra e
menos o pedestal", diz ela. Para
restaurar tudo isso, essa subdivisão do departamento municipal
conta com três pessoas e um orçamento anual de R$ 40 mil.
Poucos vão para a cadeia. "Na
maioria das vezes o delegado
manda lavar a delegacia, varrer a
cela e depois solta a gente. Se chega até o juiz, somos condenados a
prestar serviços comunitários ou
pagar cestas básicas para entidades", diz Jé, da Wolf's. A punição
gerou a expressão "Amarrar cesta
[ter de pagar cesta básica]".
Prender não é mesmo o caminho, pelo menos na visão das
principais ONGs que lidam com o
problema na cidade e do próprio
coordenador da juventude da
Prefeitura, Alexandre Youssef, 28.
"O melhor é educar o pichador,
transformá-lo num grafiteiro e
ensinar a Guarda Municipal a lidar com o problema", diz ele.
Sob sua batuta a cidade lança no
próximo sábado o "São Paulo Capital Grafiti" (sic), em parceria
com o Bank Boston e a Cidade Escola Aprendiz, evento que pretende valorizar a arte do grafite e estimular o trabalho dos grafiteiros,
espalhando 50 grandes painéis
em pontos de destaque.
(SD)
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