São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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ENSINO SUPERIOR

Nas públicas, apenas 21,6% dos alunos do primeiro ano da graduação mantêm atividade remunerada

48% dos calouros de particulares trabalham

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Instituições particulares de ensino superior, ao serem comparadas com universidades públicas, receberam no ano passado um maior número de alunos que trabalham, muitos deles em período integral, filhos de pais com menor escolaridade e vindos do ensino médio público.
Dados do questionário socioeconômico do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) 2004 mostram que 47,7% dos alunos da rede privada matriculados no primeiro ano da graduação trabalham, enquanto nas públicas são 21,6%. Quando a resposta refere-se ao trabalho em período integral (40 horas semanais ou mais), são 32,3% nas particulares contra 13,8% das públicas.
Em relação ao tipo de escola em que o aluno cursou o ensino médio há uma inversão. Enquanto 51,7% dos ingressantes em universidades públicas vieram de escolas particulares, apenas 33% dos universitários da rede privada pagaram para cursar o médio.
Esses números foram obtidos pela primeira vez pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Isso porque o Enade, criado no governo Lula para substituir o Provão, avalia alunos matriculados no primeiro e no último ano da graduação. Não é possível a comparação com anos anteriores, já que o Provão englobava só formandos.
No ano passado, 83.661 ingressantes e 56.679 concluintes fizeram o Enade. São alunos de 2.184 cursos divididos em 13 áreas. Ao divulgar os resultados do exame, em maio, o Inep havia tabulado apenas os dados gerais. Agora, separou os alunos pelas redes pública e particular.
Para o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do Inep, Dilvo Ristoff, esse perfil reforça a necessidade de medidas para democratizar o acesso ao ensino superior público, como a abertura de mais vagas noturnas.
Dados do próprio MEC mostram que, entre 1995 e 2002, só 31% das novas vagas criadas nas instituições públicas foram de cursos noturnos. Na rede particular, a expansão foi de 67% no mesmo período. Atualmente, dos 2,27 milhões de vagas noturnas, 1,863 milhão são da rede particular.
"Os alunos com renda menor e que precisam trabalhar acabaram, de certa forma, sendo levados à rede privada", diz Ristoff.
A segunda versão da proposta de reforma universitária, que está sendo discutida pelo Ministério da Educação, prevê que as federais deverão oferecer pelo menos um terço de seus cursos e matrículas no período da noite.
Para o presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), Hermes Ferreira Figueiredo, as instituições particulares democratizaram o acesso ao ensino superior. "O aluno de renda mais baixa, que ingressa com dificuldade, tem uma ascensão econômica percebida rapidamente quando termina o ensino superior."
Pelos dados do Enade, 74,1% dos ingressantes nas instituições pagas têm renda familiar de até dez salários mínimos (R$ 3.000) contra 69,4% das gratuitas.
O ministro Tarso Genro (Educação) disse ontem, após audiência pública no Senado, que está sendo estudada a possibilidade de parceria entre o governo federal e instituições comunitárias de ensino superior para expandir vagas públicas e gratuitas.
No início deste mês, o governo já havia anunciado a extensão de 20 campi de universidades federais em 14 Estados, a formação do Consórcio Universitário Metade Sul e a criação de três instituições.


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