São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rogério Assis/Folha Imagem
O motoqueiro Cláudio Alves Santos (à dir.), de Redenção (PA), vende o leite que compra direto do produtor a Antônio Luís Oliveira, com a vantagem do pagamento fiado e a desvantagem de o produto não ser pasteurizado


SAÚDE
Embora não existam estudos específicos sobre o assunto, especialistas afirmam que o produto é causa de doenças
Leite clandestino pode provocar tuberculose

da Reportagem Local

Como o comércio clandestino de laticínios corre solto pelo país, é natural perguntar se o leite não inspecionado está deixando o brasileiro doente.
A resposta ninguém sabe. Faltam estudos que tratem especificamente do assunto.
Tome-se o exemplo da diarréia. "É causa significativa de morte no Brasil, sobretudo em crianças com menos de 5 anos", informa a enfermeira sanitarista Rejane Maria de Souza Alves, responsável pela área de doenças entéricas do Centro Nacional de Epidemiologia. "Só que não possuímos estatísticas estabelecendo relações entre os distúrbios intestinais e o consumo de laticínios."
Tente-se, então, que a enfermeira dê um parecer pessoal sobre o tema. Ela afirmará, sem rodeios: "Não tenho dúvidas de que o leite cru é um importante desencadeador de diarréias".
O coordenador de pneumologia sanitária do Ministério da Saúde, Antonio Ruffino Netto, segue trilha idêntica.
Desconhece levantamentos que associem os laticínios à transmissão da tuberculose. No entanto, não hesita em dizer, com praticamente as mesmas palavras de Rejane: "Sem sombra de dúvida, o leite cru é uma fonte importante de infecção, embora não a única".
Ruffino ressalta que a incidência de tuberculose vem aumentando no país. Em 1996, registraram-se 85.860 casos, com 6.000 mortes.
"Os números de 1997, apesar de ainda não consolidados, apontam para cerca de 88.000 casos. A proporção de óbitos também deve crescer."

Coliformes fecais
São muitas as maneiras de o leite se contaminar. A vaca não saudável, por exemplo, lhe passa microrganismos que podem afetar os seres humanos.
O bacilo da tuberculose é o mais célebre, mas existe ainda a bactéria da brucelose, que provoca febre, anemia e suores noturnos.
Na ordenha, quando as tetas do animal ou a mão do ordenhador estão sujas, há o risco de o leite se infectar com coliformes fecais (que trazem diarréias) ou leveduras (que lesam a mucosa da boca, causando "sapinhos").
Igualmente perigoso é o transporte sem refrigeração. Se ficar a temperaturas maiores do que 5º C, o produto cru pode assistir à rápida proliferação de microrganismos responsáveis por desarranjos intestinais.
Uma prática comum entre criadores clandestinos -a de "batizar" o leite, para que renda mais- arrisca a saúde do consumidor caso a fraude se faça com água não potável.
Queijos e outros laticínios também se tornam transmissores de doenças quando derivam de matéria-prima contaminada. (AA)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.