São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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Queda do Boeing motivou protesto

Segundo presidente do sindicato dos operadores de vôo, acidente deixou controladores "visados" pela população

Jorge Botelho nega "greve branca" e diz que atrasos estão ligados à necessidade de contratação de mais profissionais para o setor

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Carlos Botelho, disse que o acidente com o vôo 1907 da Gol, que matou 154 pessoas em setembro, levou os controladores de vôo a reavaliar o regime de trabalho a que são submetidos. Eles dizem operar um número maior de vôos que o recomendado. Uma das hipótese para o acidente com o vôo 1907 é que tenha havido falha nos procedimentos dos controladores. Leia abaixo trechos da entrevista concedida por Botelho. (MARIANA TAMARI)

 

FOLHA - Por que os vôos estão atrasando tanto?
JORGE CARLOS BOTELHO
- O volume de tráfego aéreo na verdade é o mesmo. O que ocorre é que nós estávamos controlando um número de vôos acima do que a nossa própria regulamentação recomenda. Trabalhando com um número a mais de aviões você acaba colocando em risco a segurança. Por isso nós resolvemos que não vamos mais trabalhar nessas condições.

FOLHA - Isso é uma "greve branca"?
BOTELHO
- Não, não é "greve branca". É uma questão de segurança para a população.

FOLHA - A categoria decidiu tomar essa atitude depois do acidente com o vôo 1907 da Gol, que matou 154 pessoas?
BOTELHO
- Sim. Esse acontecimento gerou uma série de questionamentos entre nós, e veio a pergunta: por que é que nós vamos trabalhar em excesso, correndo risco, comprometendo a segurança das pessoas? Essa nossa atitude não é só salarial. A população tem que entender que isso é para a segurança. Nós ficamos visados pela população, pela imprensa [com o acidente]. E, por outro lado, esse acidente sensibilizou muito os controladores mais novos, que não tinham real noção da responsabilidade tão grande que se tem nessa profissão.

FOLHA - E como vai ser o feriado de Finados?
BOTELHO
- Nós vamos operar da mesma maneira, dentro dessas normas que eu falei.

FOLHA - Haverá muito mais atrasos nos vôos?
BOTELHO
- Com certeza, os vôos vão atrasar bastante. No feriado, o número de vôos sempre aumenta. Vai atrasar. Mas eu te dou a certeza de que vai haver segurança.

FOLHA - Qual era a sobrecarga de vôos nos centros de controle?
BOTELHO
- Em relação aos centros de controle [que vigiam o vôo no meio das rotas], o máximo que o pessoal está trabalhando agora é com 14 aviões. Antes esse número podia chegar a 18, 20 aviões por setor. Já no controle terminal [quando o avião está a aproximadamente 100 km do aeroporto], antes cuidávamos de oito a dez aviões. Agora nós estamos trabalhando com, no máximo, cinco aviões.


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