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GUERRA DE MENINOS
Em depoimento no Tribunal, ex-interno diz ter sido pressionado por policiais para assumir o crime
Adolescente nega ter degolado interno
da Reportagem Local
O adolescente F.A.C., 18, o Mãozinha, negou ontem, durante depoimento no 1º Tribunal de Júri
de São Paulo, ter decepado com
uma machadinha a cabeça de um
dos quatro menores mortos em
rebelião na Febem Imigrantes,
entre os dias 24 e 25 de outubro.
Três dias após o maior motim
da história da Febem, ele disse ter
sido o responsável pelo crime.
"Fui obrigado a falar, senão iria
apanhar da polícia", afirmou.
Mãozinha -que não possui a
mão esquerda e parte do dedo
médio da mão direita- disse que
estava sendo pressionado quando
assumiu a autoria e que policiais
lhe diziam que cortariam sua perna e dariam sumiço em seu corpo.
Ele afirmou que nem sequer estava na Febem Imigrantes no momento em que aconteceu o crime
-madrugada de 25 de outubro.
Segundo Mãozinha, por volta
das 21h de domingo, ele foi levado
junto com um grupo de internos
ao 3º Batalhão de Choque da PM.
"Deixaram a gente lá para bater."
Disse que deveria ser transferido para a unidade Tatuapé, mas
que foi trazido de volta à Imigrantes às 4h de segunda. Nessa hora,
um dos internos -que ainda não
foi identificado- já havia tido a
cabeça decepada.
No período em que ficou no batalhão, de acordo com ele, os policiais teriam lhe batido. Mãozinha
afirmou que ficou com as marcas
da violência nos braços, o que levou o juiz José Ruy Borges Pereira, após o depoimento, a requerer
exame de corpo de delito.
"Diziam que dariam paulada na
cabeça e que quem mandava era o
choque", disse.
O ex-interno afirmou ainda que
não colocou fogo nos menores
mortos e que não era rival do interno que teve a cabeça decepada.
"Nem sei quem ele é."
Ele disse que os policiais o fizeram assumir a autoria do crime
porque ele é maior de idade e, por
isso, pode ser incriminado.
"Tu é o único de maior. Vai ter
que segurar o B.O. (boletim de
ocorrência)", teria dito, segundo
ele, alguns policiais.
Mãozinha afirmou que resolveu
falar a verdade agora porque se
sente mais seguro no local onde
está preso -29º DP, em Vila Diva
(zona leste de SP), onde também
se encontram o ex-vereador Vicente Viscome e o estudante Mateus da Costa Meira, acusado de
atirar contra a platéia do cinema.
Ele disse que não tem problemas mentais e que nunca fez tratamento para isso. "Sou normal,
graças a Deus".
No final de seu depoimento,
Mãozinha disse que uma foto publicada pela revista "Veja" comprovaria que ele não é o autor do
crime. Na foto, há um interno segurando uma machadinha com
os cinco dedos da mão direita
-ele só tem quatro dedos nessa
mão.
(ALENCAR IZIDORO)
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