São Paulo, Terça-feira, 30 de Novembro de 1999


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GUERRA DE MENINOS
Em depoimento no Tribunal, ex-interno diz ter sido pressionado por policiais para assumir o crime
Adolescente nega ter degolado interno

da Reportagem Local

O adolescente F.A.C., 18, o Mãozinha, negou ontem, durante depoimento no 1º Tribunal de Júri de São Paulo, ter decepado com uma machadinha a cabeça de um dos quatro menores mortos em rebelião na Febem Imigrantes, entre os dias 24 e 25 de outubro.
Três dias após o maior motim da história da Febem, ele disse ter sido o responsável pelo crime. "Fui obrigado a falar, senão iria apanhar da polícia", afirmou.
Mãozinha -que não possui a mão esquerda e parte do dedo médio da mão direita- disse que estava sendo pressionado quando assumiu a autoria e que policiais lhe diziam que cortariam sua perna e dariam sumiço em seu corpo.
Ele afirmou que nem sequer estava na Febem Imigrantes no momento em que aconteceu o crime -madrugada de 25 de outubro.
Segundo Mãozinha, por volta das 21h de domingo, ele foi levado junto com um grupo de internos ao 3º Batalhão de Choque da PM. "Deixaram a gente lá para bater."
Disse que deveria ser transferido para a unidade Tatuapé, mas que foi trazido de volta à Imigrantes às 4h de segunda. Nessa hora, um dos internos -que ainda não foi identificado- já havia tido a cabeça decepada.
No período em que ficou no batalhão, de acordo com ele, os policiais teriam lhe batido. Mãozinha afirmou que ficou com as marcas da violência nos braços, o que levou o juiz José Ruy Borges Pereira, após o depoimento, a requerer exame de corpo de delito.
"Diziam que dariam paulada na cabeça e que quem mandava era o choque", disse.
O ex-interno afirmou ainda que não colocou fogo nos menores mortos e que não era rival do interno que teve a cabeça decepada. "Nem sei quem ele é."
Ele disse que os policiais o fizeram assumir a autoria do crime porque ele é maior de idade e, por isso, pode ser incriminado.
"Tu é o único de maior. Vai ter que segurar o B.O. (boletim de ocorrência)", teria dito, segundo ele, alguns policiais.
Mãozinha afirmou que resolveu falar a verdade agora porque se sente mais seguro no local onde está preso -29º DP, em Vila Diva (zona leste de SP), onde também se encontram o ex-vereador Vicente Viscome e o estudante Mateus da Costa Meira, acusado de atirar contra a platéia do cinema.
Ele disse que não tem problemas mentais e que nunca fez tratamento para isso. "Sou normal, graças a Deus".
No final de seu depoimento, Mãozinha disse que uma foto publicada pela revista "Veja" comprovaria que ele não é o autor do crime. Na foto, há um interno segurando uma machadinha com os cinco dedos da mão direita -ele só tem quatro dedos nessa mão. (ALENCAR IZIDORO)

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