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DIREÇÃO PERIGOSA
Ocorrências sobem 9% em rodovias de SP em 2004 e feridos crescem 7%; mortes na Tamoios vão de 16 para 38
Acidentes batem recorde nas estradas
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Saímos de Paraty (RJ) umas
20h em direção à serra de Taubaté
(SP). Quando estávamos subindo
a serra, ele estava correndo um
pouquinho a mais do que deveria
naquela estrada e fiquei com um
pouco de medo. O Paulo, que estava dirigindo, perdeu o controle
do carro e ele caiu a uns 15 metros,
capotando numa curva nessa serra que chama "curva da morte"."
O relato da publicitária Mara
Gabrilli, 37, é do acidente que a
deixou tetraplégica, ocorrido em
agosto de 1994, numa das rodovias que levam ao litoral norte.
Gabrilli ficou 22 dias na UTI.
Demorou sete anos para voltar a
viajar com alguém numa estrada.
Conseguiu neste ano a suplência
de uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo e foi anunciada
ontem como titular de uma pasta
voltada a portadores de deficiência na gestão José Serra (PSDB).
2004 marca dez anos do acidente de Gabrilli, dez anos da implantação dos primeiros radares fotográficos de controle da velocidade
no Brasil, seis anos da implantação do novo código de trânsito.
Mas também ficará registrado
por uma nova escalada de violência na malha rodoviária estadual
de São Paulo, superior a 20 mil
km, num ano em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) elegeu a segurança viária como tema
de sua campanha mundial.
As estatísticas computadas pelo
DER (Departamento de Estradas
de Rodagem) de janeiro a novembro de 2004 apontam a alta de
9,3% nos acidentes, 7,4% nos feridos e 3% nas mortes, na comparação com 2003. Mantida a tendência neste mês, será recorde de acidentes e feridos em dez anos.
Traduzidos em números, esses
indicadores significam 16 novos
acidentes por dia, praticamente
sete novos feridos por dia e mais
de uma nova morte a cada semana em relação ao ano anterior.
Acesso às praias
O problema tem se revelado
ainda maior nas estradas que serão os principais destinos dos turistas: as que dão acesso às praias
paulistas. No sistema sob responsabilidade da Ecovias (Imigrantes/Anchieta/Padre Manoel da
Nóbrega/Cônego Domênico Rangoni), que leva ao litoral sul e por
onde passam mais de 1 milhão de
veículos entre as festas de Natal e
Réveillon, os acidentes até novembro já saltaram 19%, os feridos, 23%, e as mortes, 8%.
Entre as que levam ao litoral
norte, as mortes mais que dobraram na Tamoios -de 16 para 38.
Na Mogi-Bertioga, além da alta de
9 para 13 nas mortes, os feridos
saltaram 42%. No trecho estadual
da Rio-Santos, os feridos subiram
18% -e já são quase seis por dia.
A exceção é a Oswaldo Cruz, onde
Gabrilli se acidentou, com uma
queda simbólica nas mortes (de
14 para 13) e de 29% nos feridos.
São diversas as explicações para
a nova escalada de violência no
trânsito, após uma contenção
parcial dos principais indicadores
a partir de 1998, quando as regras
do novo código passaram a valer.
Uma delas é a crescente circulação de motos nas rodovias -a
quantidade mais que triplicou
nos últimos anos naquelas que foram concedidas pelo governo do
Estado, onde não há cobrança de
pedágio para esse tipo de veículo.
Os dados na malha da Ecovias
apontam que, até novembro de
2004, já houve 829 acidentes e 21
mortes de motociclistas, alta de
47% e de 62% em relação a 2003.
"A maioria é de baixa cilindradas e não tem potência boa para
uma rodovia", afirma Fábio Ortega, engenheiro da concessionária.
Outro fator pode estar ligado à
própria melhoria tanto das condições da via como dos veículos,
num dilema que desafia os técnicos. "Quanto mais segurança tem,
mais os motoristas entendem que
podem correr riscos", afirma Laurindo Junqueira, ex-secretário
dos Transportes de Santos e de
Campinas, citando Gerald Wilde,
um pesquisador holandês.
Wilde desenvolveu a teoria "homeostase de risco", pela qual os
indivíduos maximizam seus níveis de risco para se sobressair numa atividade. Ou seja, um condutor acostumado a andar a 90 km/h
tende a pensar que pode andar a
120 km/h se estiver com um automóvel mais moderno em uma rodovia mais segura, sem buracos.
Relaxados
O resultado é a ocorrência de
acidentes que se concentram inclusive em retas e com tempo
bom, quando os motoristas estão
"mais relaxados", diz José Montal, da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).
O próprio crescimento da frota
-de 4% ao ano- chega a ser citado pelo governo como uma das
razões de alta dos indicadores,
mas essa comparação é relativizada por técnicos. A razão é: se, por
um lado, quanto mais carros,
maior a possibilidade de haver algum motorista que se acidente,
por outro, um tráfego maior tende a diminuir as velocidades e
provocar menos acidentes.
Os atrasos do Estado na difusão
de programas de controle da velocidade também são apontados
como algo que contribuiu para os
novos resultados negativos.
Enquanto as principais capitais
e até municípios de médio porte
implantavam novos radares fotográficos ainda no final da década
passada, as rodovias paulistas sob
comando do DER começaram a
expandir os radares recentemente, sob a alegação de "problemas
orçamentários". Só em outubro
30 novos aparelhos passaram a
funcionar, somando-se a outros
18, em operação desde abril.
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