São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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Moradores do Cambuci querem transformar igreja em um museu

Rotina de cultos ainda não foi retomada na Igreja Renascer, cujo teto desabou em janeiro e matou nove

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores do Cambuci (centro de São Paulo) estão empenhados em transformar o templo da Igreja Renascer da avenida Lins de Vasconcelos, cujo teto desabou em janeiro matando nove pessoas, em um museu sobre o cinema.
Em abaixo-assinado, eles pedem ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) que o terreno seja desapropriado para abrigar um centro cultural que incluiria um grande acervo cinematográfico e um memorial das vítimas do acidente.
O documento cita o excesso de barulho e a enorme concentração de pessoas e veículos provocados pelos cultos da Renascer entre os motivos para a transferência do templo.
De acordo com Roberto Casseb, da Associação de Preservação do Cambuci e Vila Deodoro, entidade que lidera o movimento, a ideia é instalar no local a coleção de 15 mil itens ligados à produção de imagem e de som mantida por Marco Antônio Vituzzo.
Filho de Antônio Vituzzo, amante do cinema que passou a vida reunindo objetos cinematográficos, Marco Antônio assumiu a extensa coleção quando o pai faleceu, em 2004. "Engraçado que eu reclamava do tempo que ele dedicava a cuidar do acervo em vez de estar com a família, com os filhos. E agora quem cuida sou eu", diz.
Antônio, que ganhou o primeiro projetor aos nove anos e na década de 50 trabalhava na distribuição de filmes, sabia de cor a trajetória de cada peça guardada. "Parte da história morreu com ele", diz o filho.
Entre as preciosidades, conta Marco Antônio, há dezenas de câmeras Kodak, incluindo um modelo de 1892, equipamentos que capturavam imagens aéreas durante a Segunda Guerra, gravadores de fio de aço da década de 30, projetor de manivela movido a carvão, um dos primeiros modelos de TV em cores vendido no país -um Zenith-, máquinas lambe-lambe, polaroid com fole, lanterna mágica e filmadora Pathé.
Integram a coleção ainda cadeiras de salas de cinema antigos, pôsteres pintados à mão -há exemplar de 1910-, flashes de pólvora e pipoqueira.
A mudança de endereço do acervo resolveria a precariedade das condições de instalação. Os objetos, amontoados e sujeitos a cupins e infiltrações, ficam trancados em um imóvel generosamente chamado de Museu do Cinema, também no Cambuci. Marco Antônio conta que raramente recebe visitantes no local, mas costuma ceder partes da coleção para exposições temporárias.
Por enquanto, a mudança do Museu do Cinema para a área do templo é apenas sugestão. O abaixo-assinado deve ser entregue à prefeitura quando atingir 5.000 assinaturas -até o momento, reúne cerca de 4.000, segundo organizadores.
A igreja, praticamente destruída após a tragédia, teve a fachada reconstruída, mas ainda não retomou a rotina de cultos.


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