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Príncipe gay da Índia vai desfilar na parada
Manvendra Singh Gohil, herdeiro da dinastia de Rajpipla, diz que vem ao Brasil conhecer melhor a cultura do país
Parada gay acontece no próximo dia 14, em SP; príncipe foi apelidado de "pink prince", por morar em um palácio cor-de-rosa
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem for à parada gay de São
Paulo no próximo dia 14 e vir
um homem de meia-idade e
traços hindus, vestido de marajá, com turbante e tudo na cabeça, no alto do trio elétrico,
não é show de transformismo.
É o príncipe indiano Manvendra Singh Gohil, 44, herdeiro da dinastia de Rajpipla, o
único, segundo diz, membro de
uma família real moderna a se
assumir homossexual.
Filho único, causou uma crise institucional na Índia porque não daria sucessão à linhagem monárquica.
Em dois tempos, depois de se
assumir gay, a fachada cor-de-rosa do palácio em que mora,
que ele jura já ter esse tom há
séculos, renderam-lhe o apelido de "pink prince".
Sem muita ideia do que vai
encontrar em São Paulo e na
parada gay, pergunta, antes de
encerrar a conversa: "Com que
roupa eu vou?" Leia abaixo trechos da entrevista concedida
por telefone de Rajpipla.
FOLHA - Ouviu falar da novela brasileira sobre a Índia?
MANVENDRA SINGH GOHIL - Para
ser honesto não sou muito de
assistir à televisão. Se for popular, vou ver em alguns capítulos
quando estiver por aí.
FOLHA - Como é ser gay na Índia?
MANVENDRA - A sociedade não
nos aceita. É muito difícil porque ser gay não é crime, legalmente falando, mas o ato homossexual é uma ofensa.
FOLHA - Isso é um contrassenso.
MANVENDRA - O ato sexual é crime, com prisão de dois a dez
anos. O sexo oral e anal entre
homens são vistos como atos
contra a natureza.
FOLHA - Quem vê o kama sutra
acredita que a sociedade indiana é
muito liberal sexualmente falando.
MANVENDRA - Historicamente
nossa sociedade sempre foi
muito liberal em relação à homossexualidade. Era aceito. O
kama sutra tinha um capítulo
exclusivo com posições gays.
Até a colonização britânica, que
fez essas leis homofóbicas.
FOLHA - Por que saiu do armário?
MANVENDRA - Se uma pessoa
como eu se assumisse, começariam a discutir a homossexualidade neste país. Sabia que a mídia ia sensacionalizar.
FOLHA - Os súditos reagiram?
MANVENDRA - No começo a reação foi muito negativa. Minhas
efígies foram queimadas em
praça pública. A mídia teve um
papel muito importante, inclusive Bollywood e as TVs.
FOLHA - E como o rei e a rainha reagiram à sua homossexualidade?
MANVENDRA - Primeiro eles me
deserdaram, mas depois viram
que estavam errados.
FOLHA - Está saindo com alguém
ou faz sexo na Índia, já que é crime?
MANVENDRA - Não tenho namorado. Fiz um compromisso de
não sair com ninguém por aqui
até que o meu país descriminalize a homossexualidade.
FOLHA - Pretende se casar com um
homem agora?
MANVENDRA - Quero muito me
casar com um homem e completar o meu compromisso com
a sociedade, nem que eu tenha
100 anos de idade.
FOLHA - A Índia é dividida em castas. Pode se casar com um plebeu?
MANVENDRA - Não acredito nas
castas. Para mim todos os homens são iguais. Não quero que
as pessoas me discriminem.
FOLHA - O sr. é filho único, como
vai manter a linhagem da família?
MANVENDRA - Quero adotar
uma criança. Não penso em inseminação artificial. Meu filho
já vai ter o meu sangue.
FOLHA - Seu palácio é cor-de-rosa?
MANVENDRA - Sempre foi rosa.
Talvez meus antepassados tenham previsto que um dos seus
descendentes nasceria adorando essa cor, então pintaram de
rosa. Minha cidade é conhecida
como a cidade cor-de-rosa, tudo aqui é rosa, até o palácio.
FOLHA - Qual é a sua ideia de São
Paulo e da parada gay?
MANVENDRA - Quero aprender
mais sobre a cultura brasileira,
como as pessoas se comportam. Aliás, você, que é daí, me
diz uma coisa: está frio, faz calor, com que roupa eu vou?
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