São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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Príncipe gay da Índia vai desfilar na parada

Manvendra Singh Gohil, herdeiro da dinastia de Rajpipla, diz que vem ao Brasil conhecer melhor a cultura do país

Parada gay acontece no próximo dia 14, em SP; príncipe foi apelidado de "pink prince", por morar em um palácio cor-de-rosa

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem for à parada gay de São Paulo no próximo dia 14 e vir um homem de meia-idade e traços hindus, vestido de marajá, com turbante e tudo na cabeça, no alto do trio elétrico, não é show de transformismo. É o príncipe indiano Manvendra Singh Gohil, 44, herdeiro da dinastia de Rajpipla, o único, segundo diz, membro de uma família real moderna a se assumir homossexual.
Filho único, causou uma crise institucional na Índia porque não daria sucessão à linhagem monárquica. Em dois tempos, depois de se assumir gay, a fachada cor-de-rosa do palácio em que mora, que ele jura já ter esse tom há séculos, renderam-lhe o apelido de "pink prince". Sem muita ideia do que vai encontrar em São Paulo e na parada gay, pergunta, antes de encerrar a conversa: "Com que roupa eu vou?" Leia abaixo trechos da entrevista concedida por telefone de Rajpipla.

 

FOLHA - Ouviu falar da novela brasileira sobre a Índia?
MANVENDRA SINGH GOHIL
- Para ser honesto não sou muito de assistir à televisão. Se for popular, vou ver em alguns capítulos quando estiver por aí.

FOLHA - Como é ser gay na Índia?
MANVENDRA
- A sociedade não nos aceita. É muito difícil porque ser gay não é crime, legalmente falando, mas o ato homossexual é uma ofensa.

FOLHA - Isso é um contrassenso.
MANVENDRA
- O ato sexual é crime, com prisão de dois a dez anos. O sexo oral e anal entre homens são vistos como atos contra a natureza.

FOLHA - Quem vê o kama sutra acredita que a sociedade indiana é muito liberal sexualmente falando.
MANVENDRA
- Historicamente nossa sociedade sempre foi muito liberal em relação à homossexualidade. Era aceito. O kama sutra tinha um capítulo exclusivo com posições gays. Até a colonização britânica, que fez essas leis homofóbicas.

FOLHA - Por que saiu do armário?
MANVENDRA
- Se uma pessoa como eu se assumisse, começariam a discutir a homossexualidade neste país. Sabia que a mídia ia sensacionalizar.

FOLHA - Os súditos reagiram?
MANVENDRA
- No começo a reação foi muito negativa. Minhas efígies foram queimadas em praça pública. A mídia teve um papel muito importante, inclusive Bollywood e as TVs.

FOLHA - E como o rei e a rainha reagiram à sua homossexualidade?
MANVENDRA
- Primeiro eles me deserdaram, mas depois viram que estavam errados.

FOLHA - Está saindo com alguém ou faz sexo na Índia, já que é crime?
MANVENDRA
- Não tenho namorado. Fiz um compromisso de não sair com ninguém por aqui até que o meu país descriminalize a homossexualidade.

FOLHA - Pretende se casar com um homem agora?
MANVENDRA
- Quero muito me casar com um homem e completar o meu compromisso com a sociedade, nem que eu tenha 100 anos de idade.

FOLHA - A Índia é dividida em castas. Pode se casar com um plebeu?
MANVENDRA
- Não acredito nas castas. Para mim todos os homens são iguais. Não quero que as pessoas me discriminem.

FOLHA - O sr. é filho único, como vai manter a linhagem da família?
MANVENDRA
- Quero adotar uma criança. Não penso em inseminação artificial. Meu filho já vai ter o meu sangue.

FOLHA - Seu palácio é cor-de-rosa?
MANVENDRA
- Sempre foi rosa. Talvez meus antepassados tenham previsto que um dos seus descendentes nasceria adorando essa cor, então pintaram de rosa. Minha cidade é conhecida como a cidade cor-de-rosa, tudo aqui é rosa, até o palácio.

FOLHA - Qual é a sua ideia de São Paulo e da parada gay?
MANVENDRA
- Quero aprender mais sobre a cultura brasileira, como as pessoas se comportam. Aliás, você, que é daí, me diz uma coisa: está frio, faz calor, com que roupa eu vou?



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