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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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HABITAÇÃO

Manifestantes percorreram avenidas da cidade; grupo que estava na Nove de Julho aceitou ir para área na zona leste

Em dia de protestos, sem-teto deixam CDHU

Eduardo Knapp/Folha Imagem
PASSEATA - Sem-teto de diversas cidades de SP realizaram passeata da avenida Paulista até a Brigadeiro Faria Lima (foto), onde fica a Secretaria Estadual da Habitação. Eles reivindicam construção de moradias para a população de baixa renda

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

Em um dia marcado por manifestações de grupos de sem-teto, os cerca de 400 militantes que acampavam havia uma semana na frente de edifício da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, do governo do Estado), em São Paulo, deixaram o local após intervenção da Polícia Militar, no início da noite.
Segundo líderes do movimento, o governo ameaçou retirar à força os manifestantes caso não fossem para um terreno na zona leste.
"O governo colocou uma faca na nossa garganta. Ou aceitamos ou apanhamos", disse Ivaneti de Araújo, uma das coordenadoras do movimento. "Os prédios vazios do centro que se cuidem."
Durante o dia, cerca de mil sem-teto -segundo avaliação da PM- participaram de passeata que percorreu as avenidas Paulista, Nove de Julho e Faria Lima.
Pela manhã, parte do grupo que estava na CDHU, ligado ao MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro), havia impedido a entrada de funcionários da companhia no prédio, que fica em área nobre da avenida Nove de Julho, na zona oeste da capital.
Os funcionários do órgão tiveram de esperar do lado de fora, até que representantes da CDHU convencessem os manifestantes a liberar a passagem. Os sem-teto formaram um "corredor polonês" e gritaram insultos.
"Quem está radicalizando não somos nós, é o governo", dizia Hamilton de Souza, outro coordenador do MSTC, que cobrava alojamento para as famílias, algumas vindas de prédio invadido.
O bloqueio da entrada dos funcionários foi criticado por integrantes do próprio movimento, que atribuíram o "despejo" a uma decisão isolada de Souza.
O secretário estadual da Habitação, Barjas Negri, afirmou que teve de chamar a polícia no início da noite para forçar a retirada porque os sem-teto "cercearam a liberdade dos funcionários".
Negri disse que a oferta de alojamento na zona leste havia sido feita na semana passada e atribuiu a demora na solução do problema a lideranças "que usam parte da população como massa de manobra". O secretário criticou ainda a prefeitura por demorar a encontrar terrenos para programas habitacionais. Representantes do município não foram encontrados para comentar a declaração.
Na semana passada, o MSTC promoveu uma série de invasões na capital. O movimento quer que o governo abra negociação sobre o déficit de moradias no Estado.
A maioria das famílias acampadas na frente da CDHU estava antes no hotel Danúbio, no centro, desocupado na semana passada.

Passeata
Cinquenta ônibus trouxeram sem-teto do interior de São Paulo para participar da manifestação que percorreu as principais avenidas da cidade, e que saiu do vão livre do Masp por volta das 9h e foi até a sede da secretaria estadual da Habitação, na av. Faria Lima, onde uma comissão foi recebida por Barjas Negri.
O protesto foi organizado pela Facesp (Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo) e pela Conam (Confederação Nacional das Associações de Moradores), grupos que dizem não ter relação com o MSTC. Ao passar pela frente da CDHU, fizeram manifestação de apoio.
Segundo Veruska Franklin de Carvalho, a caravana pelo direito à moradia começou a ser organizada em maio, durante congresso da federação. Os grupos reivindicam mais de 8.000 moradias no Estado. Ela estima que a federação tenha organizado cerca de 300 ocupações na capital paulista.
A Justiça negou ontem ontem a reintegração de posse de edifício da rua Aurora, região central. Os sem-teto prometem resistir à reintegração de posse de outro imóvel, o hotel Terminus, na avenida Ipiranga, cuja desocupação já foi ordenada pela Justiça.


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