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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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MUITO ALÉM DOS JARDINS

Manifestações aproximam os sem-moradia de mansões paulistanas

Militantes chegam a áreas nobres

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O movimento dos sem-teto, que se alastra em invasões pela cidade, chegou mais perto do poder ontem. Saiu em passeata da avenida Paulista, passou pelo Jardim América e estacionou numa das áreas mais chiques da cidade, a avenida Faria Lima, junto à avenida Cidade Jardim, tradicional corredor de comércio elegante.
Os cerca de 400 manifestantes (segundo a PM) ali estavam para pedir mais moradias à Secretaria Estadual de Habitação, que fica no edifício Hyde Park.
Enquanto um grupo era recebido pelo secretário, Barjas Negri, o restante agitava bandeiras e gritava palavras de ordem, atrapalhando o trânsito da Faria Lima, composto, naquele trecho, por muitos carros de luxo.
Proveniente de diversos pontos do Estado, a maioria dos sem-teto nunca tinha posto os pés nos Jardins, nem sequer sabia que a região aloja boa parte do PIB nacional e é farta em moradias de luxo. Muito menos que perto dali, na mesma avenida, encontrava-se o "teto" comercial mais caro do país, que é o do Shopping Iguatemi: cerca de R$ 160 o metro quadrado, para locação.
Tampouco tinha noção do "público" que atingia. Francilene de Lima, 17, que integrava a caravana de Bauru, segurava uma bandeirinha numa das mãos e na outra um pedaço de pudim, seu "almoço", que acabara de comprar por R$ 1.
Ela se assustou quando foi informada de que estava em frente de uma das churrascarias mais sofisticadas de São Paulo, a Rubayat, instalada no andar térreo do prédio. Mais assustada ainda quando soube que o principal prato da casa, o famoso Baby Beef, custa R$ 45. "É a metade do que eu ganho por mês", disse.
Embora nenhum tenha concordado em dar declarações à Folha, os frequentadores do restaurante não pareciam assustados com a manifestação. Apenas o gerente da casa, Martin, fez restrições ao movimento, embora com bom humor: "Acho que todo mundo tem o direito de se manifestar. Mas na hora do almoço? Assim acaba atrapalhando o nosso movimento."


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