São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997.



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EDUCAÇÃO 5
Setor privado questiona necessidade de uma grande produção para instituição ser chamada de universidade
Pesquisa pode virar um atributo de elite

da Reportagem Local

Considerada a principal exigência dentro do conceito de universidade, a pesquisa avançada já é vista por muitos como um atributo a ser mantido apenas na elite das instituições dedicadas ao ensino superior.
"Eu acho que a pesquisa é fundamental e caracteriza uma instituição madura", diz o reitor da Unicamp e ex-presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, José Martins Filho. "Mas reconheço que essa opinião está sendo rediscutida."
Os representantes do setor privado questionam a necessidade de uma universidade ter uma grande produção de pesquisa para ser chamada de universidade.
"Algumas federais não fazem pesquisa, mas nem por isso deixam de ser universidades", diz Edson Franco, da Associação Brasileira de Mantenedoras.
"A pesquisa só pela pesquisa não leva a nada, tem que ser algo relevante", diz o reitor da Universidade Metodista de São Paulo, Jacob Daghlian.
Segundo o artigo 207 da Constituição, as universidades têm de obedecer "ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".
"Há setores, principalmente na universidade pública, que lutam para manter esse tripé", diz Martins Filho.
O presidente do Conselho Nacional de Educação, Hésio Cordeiro, diz que os três pontos definidos na Constituição não tiveram o mesmo desenvolvimento. "O que se observa é que não houve expansão uniforme desses três componentes", afirma.
"Algumas universidades desenvolveram mais os aspectos de graduação, outras, extensão, e outras, pesquisa. O melhor exemplo é que a produção científica continua concentrada no eixo Rio-São Paulo", diz Cordeiro.
Centros
Os centros universitários são hoje uma modalidade que oferece certa autonomia às instituições de ensino superior sem exigir muito investimento em pesquisa.
Essa nova classificação ainda não tem atraído o interesse da maior parte do setor privado.
O reitor da Universidade Metodista diz que, depois da tramitação de um pedido para se tornar universidade, a classificação como centro universitário seria "um desapontamento".
Para o professor de filosofia Roberto Romano, da Unicamp, os centros universitários poderiam dar certo se houvesse uma política de longo prazo para uma futura transformação em universidade.
Os pedidos que têm chegado ao Ministério da Educação são exclusivamente para a criação de universidades. Segundo o governo, ainda não foi demonstrado interesse pela transformação em centros universitários porque a nova categoria não é muito conhecida.
"Pode até ser que o centro universitário seja a mesma coisa que uma universidade. Mas ainda é um conceito novo", diz o diretor-geral da Faculdade Anhembi Morumbi, Gabriel Mário Rodrigues.
Os conselheiros do Conselho Nacional de Educação que rejeitaram a transformação da Anhembi Morumbi em universidade votaram pela adoção pela faculdade do título de centro universitário.

Expansão
Com o pequeno crescimento do setor público de ensino superior, a atual demanda por vagas no terceiro grau terá de ser atendida pelo setor privado.
Segundo o presidente da Câmara de Educação Superior do CNE, Éfrem Maranhão, essa expansão é inevitável. "Tem aumentado o número de estudantes no segundo grau, e o setor público não vai dar conta. A nossa responsabilidade é garantir a qualidade." (RS e FR)


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