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MEIO AMBIENTE
Resíduos perigosos são armazenados nas empresas, vão para aterros ou são vendidos para serem queimados
47% do lixo industrial de SP não é tratado
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Levantamento da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo)
aponta que 47% dos cerca de 21
milhões de toneladas de lixo industrial sólido produzido por ano
no Estado de São Paulo não são
tratados pelas indústrias.
Isso representa um total anual
de quase dez milhões de toneladas
-cerca de 250 mil delas de lixo
considerado perigoso- que é armazenado sem tratamento ou jogado em aterros.
"O que não é tratado tem uma
destinação inadequada", disse
ontem à Folha Dione Mari Morita, professora da Escola Politécnica da USP e assessora da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Tratamento, nesse caso, significa, além de processos que "limpem" o lixo de seus componentes
tóxicos, a incineração e a reciclagem dos dos resíduos.
"Tudo é reciclável", afirma Dione. O problema, segundo ela, é
tornar algumas tecnologias viáveis economicamente.
O lixo industrial perigoso é
aquele que, por seu alto nível de
toxicidade, causa problemas de
saúde pública e ambientais. Os resíduos têm alta concentração de
poluentes como metais pesados,
que são cancerígenos.
Há ainda o lixo não-inerte, que
pode, com o tempo, sofrer reações que geram poluentes. Os
pneus são um exemplo. São Paulo
produz anualmente em torno de
19 milhões de toneladas de resíduos industriais não-inertes.
A responsabilidade pelo tratamento e pela destinação final é
dos produtores. A Cetesb faz o
controle e tem poder de autuar,
multar em até R$ 90 mil e interditar fábricas que estejam em desacordo com a lei.
Armazenar esse tipo de lixo em
depósitos nas empresas ou jogá-lo em um dos sete aterros industriais controlados no Estado são
maneiras legais de se livrar dos resíduos, mas representam perigos
à saúde pública e ao ambiente.
Os depósitos precisam de manutenção e fiscalização contínua,
pois há o risco constante de vazamentos que contaminam o solo e
os lençóis subterrâneos de água.
Os aterros também demandam
controle. Além disso têm limitações de espaço e, pior, a própria
Cetesb admite que o controle sobre o lixo que efetivamente vai para esses locais é falho. Muito lixo
que teoricamente vai para o aterro acaba parando em lixões ou é
vendido para ser queimado.
"A partir do ano que vem, vamos intensificar o controle", afirmou o secretário-adjunto do
Meio Ambiente, Paulo Ferreira.
"O esquema de fiscalização da
Cetesb nem sempre é eficiente
porque se baseia em documentos,
que podem ser falsificados ou
adulterados", afirma Délcio Rodrigues, coordenador de campanhas do Greenpeace no Brasil.
Segundo ele, muitas indústrias
contratam empresas para levar o
lixo industrial até aterros, mas
elas acabam vendendo os resíduos para, por exemplo, calcinadoras (que transformam rocha
calcária em cal para construção).
"Em vez de pagar para deixar o
lixo no local controlado, eles vendem para os fabricantes de cal",
conta. Muitas vezes, esses intermediários levam os resíduos industriais para outros Estados.
É o que acontece em Formiga
(MG), segundo o promotor do
Meio Ambiente Lindolfo Barbosa
Lima. Ele tem uma lista de cerca
de 80 empresas que "exportam"
irregularmente lixo industrial para a cidade -34 delas são paulistas. A Secretaria Estadual do Meio
Ambiente reconhece a existência
do transporte clandestino, que
considera hoje o problema mais
grave a ser resolvido.
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