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Aterro no RJ é rejeitado por moradores e empresários
PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO
A construção de um aterro sanitário em Paciência (zona oeste do
Rio) está mobilizando a Aeronáutica, empresários e moradores da
região, que não querem dividir espaço com a obra, cujo objetivo é
acabar com os lixões (depósitos
de lixo a céu aberto).
O terreno de 600 mil m2 receberá 2.200 toneladas por mês de lixo
da zona oeste, durante nove anos.
As empresas que formam a zona industrial da região condenam
a proximidade do aterro e dizem
que a obra é inviável devido a uma
falha geológica apontada por estudos do Departamento de Geologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
As indústrias ameaçam fechar
as unidades, responsáveis por
3.500 empregos diretos e indiretos. A Aeronáutica, cuja base de
Santa Cruz fica a 8 km do terreno,
diz em dois laudos que o aterro
atrairia urubus. As aves poderiam
provocar acidentes com aeronaves da base, sede de quatro unidades da FAB (Força Aérea Brasileira) e alternativa para pousos
emergenciais civis e militares.
A Associação de Moradores exige uma usina de compostagem
para separar e tratar o lixo, esterilização do resíduo hospitalar e garantias da manutenção do aterro.
"A Ebec (Engenharia Brasileira de
Construções) venceu a concorrência pública, mas nunca fez um
aterro sanitário na vida", disse o
diretor da organização não-governamental (ONG) S.O.S. Sepetiba, Francisco Rocha de Oliveira.
A construção é investigada pelo
Ministério Público do Rio, que já
realizou duas audiências públicas
com moradores, empresários, a
Aeronáutica e a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) para discutir o assunto.
"Já encaminhamos os laudos
para a Ceca (Companhia Estadual
de Controle Ambiental) e a Feema
(Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente) e vamos
aguardar as respostas dos empreendedores para os pontos críticos apontados", declarou a procuradora da equipe de meio ambiente do Ministério Público do
Estado, Rosane da Cunha Gomes.
"É o efeito que os norte-americanos chamam de "nimby", not in
my back yard (não no meu quintal). Todos são a favor de aterros
sanitários, pontos de ônibus e
presídios, desde que não fiquem
perto de suas casas", disse o diretor de Destino Final do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, Geraldo
Reichert, pioneiro na implantação de aterros no país.
A pressão contra o aterro sanitário de Paciência envolve empresários da Valesul (alumínios),
Schindler (elevadores) e Novartis,
que fabrica mamadeiras, chupetas e papinhas para a marca Lilo.
A Valesul, que ficará a 150 metros do aterro, lidera a pressão
empresarial contra o projeto da
Comlurb. A empresa já requisitou
dois laudos que tiveram parecer
contrário à obra e apontou 34 falhas no Rima (Relatório de Impacto Ambiental) da Feema, que
aprovou o aterro.
A empresa entrou até com mandado de segurança para impedir a
realização de uma audiência pública sem aviso prévio, pois costuma levar os funcionários às reuniões para protestar.
O diretor da ONG, Francisco
Rocha de Oliveira, admitiu que a
Valesul está fornecendo material
e "viaturas para locomoção" para
que ele defenda a saída do aterro
sanitário da região.
Torcida organizada
"Talvez faça parte do jogo democrático, mas eles chegaram a
inviabilizar o debate nas audiências públicas levando torcidas organizadas", afirmou o diretor industrial da Comlurb, José Bulus.
A polêmica uniu antigos rivais
na preservação do meio ambiente
na zona oeste da cidade. No início
do ano, no abraço simbólico à
baía de Sepetiba, a Valesul foi acusada pelos ambientalistas de despejar alumínio nas águas da baía.
Mas em relação ao aterro, Marcos Imperial, membro da Comissão de Meio Ambiente da Câmara
Municipal e presidente da ONG
S.O.S. Sepetiba, elogia a atuação
da Valesul e acusa a Comlurb de
não submeter o projeto à aprovação dos vereadores do Rio.
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