São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


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Aterro no RJ é rejeitado por moradores e empresários

PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

A construção de um aterro sanitário em Paciência (zona oeste do Rio) está mobilizando a Aeronáutica, empresários e moradores da região, que não querem dividir espaço com a obra, cujo objetivo é acabar com os lixões (depósitos de lixo a céu aberto).
O terreno de 600 mil m2 receberá 2.200 toneladas por mês de lixo da zona oeste, durante nove anos.
As empresas que formam a zona industrial da região condenam a proximidade do aterro e dizem que a obra é inviável devido a uma falha geológica apontada por estudos do Departamento de Geologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
As indústrias ameaçam fechar as unidades, responsáveis por 3.500 empregos diretos e indiretos. A Aeronáutica, cuja base de Santa Cruz fica a 8 km do terreno, diz em dois laudos que o aterro atrairia urubus. As aves poderiam provocar acidentes com aeronaves da base, sede de quatro unidades da FAB (Força Aérea Brasileira) e alternativa para pousos emergenciais civis e militares.
A Associação de Moradores exige uma usina de compostagem para separar e tratar o lixo, esterilização do resíduo hospitalar e garantias da manutenção do aterro. "A Ebec (Engenharia Brasileira de Construções) venceu a concorrência pública, mas nunca fez um aterro sanitário na vida", disse o diretor da organização não-governamental (ONG) S.O.S. Sepetiba, Francisco Rocha de Oliveira.
A construção é investigada pelo Ministério Público do Rio, que já realizou duas audiências públicas com moradores, empresários, a Aeronáutica e a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) para discutir o assunto.
"Já encaminhamos os laudos para a Ceca (Companhia Estadual de Controle Ambiental) e a Feema (Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente) e vamos aguardar as respostas dos empreendedores para os pontos críticos apontados", declarou a procuradora da equipe de meio ambiente do Ministério Público do Estado, Rosane da Cunha Gomes.
"É o efeito que os norte-americanos chamam de "nimby", not in my back yard (não no meu quintal). Todos são a favor de aterros sanitários, pontos de ônibus e presídios, desde que não fiquem perto de suas casas", disse o diretor de Destino Final do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, Geraldo Reichert, pioneiro na implantação de aterros no país.
A pressão contra o aterro sanitário de Paciência envolve empresários da Valesul (alumínios), Schindler (elevadores) e Novartis, que fabrica mamadeiras, chupetas e papinhas para a marca Lilo.
A Valesul, que ficará a 150 metros do aterro, lidera a pressão empresarial contra o projeto da Comlurb. A empresa já requisitou dois laudos que tiveram parecer contrário à obra e apontou 34 falhas no Rima (Relatório de Impacto Ambiental) da Feema, que aprovou o aterro.
A empresa entrou até com mandado de segurança para impedir a realização de uma audiência pública sem aviso prévio, pois costuma levar os funcionários às reuniões para protestar.
O diretor da ONG, Francisco Rocha de Oliveira, admitiu que a Valesul está fornecendo material e "viaturas para locomoção" para que ele defenda a saída do aterro sanitário da região.

Torcida organizada
"Talvez faça parte do jogo democrático, mas eles chegaram a inviabilizar o debate nas audiências públicas levando torcidas organizadas", afirmou o diretor industrial da Comlurb, José Bulus.
A polêmica uniu antigos rivais na preservação do meio ambiente na zona oeste da cidade. No início do ano, no abraço simbólico à baía de Sepetiba, a Valesul foi acusada pelos ambientalistas de despejar alumínio nas águas da baía.
Mas em relação ao aterro, Marcos Imperial, membro da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal e presidente da ONG S.O.S. Sepetiba, elogia a atuação da Valesul e acusa a Comlurb de não submeter o projeto à aprovação dos vereadores do Rio.


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