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Ação desperta a simpatia
de vizinhos
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
Vizinhos dos irmãos Fernando e Esdras Dutra Pinto repetiam ontem discurso parecido
com o que Patrícia Abravanel
fez há três dias, depois de libertada. Eufórica, a filha de Silvio
Santos mostrou simpatia pelos
sequestradores e relacionou o
drama que enfrentara às desigualdades sociais do país.
Os moradores da Vila Progresso, na zona leste, também
associaram o episódio às diferenças entre ricos e pobres. "O
que significam R$ 500 mil para
Silvio Santos?", indagava a dona-de-casa Edna, 27, que não
quis revelar o sobrenome. Referia-se à soma que os sequestradores teriam exigido do
apresentador.
"Nada. R$ 500 mil não é nada
para o Silvio. Toda semana, o
homem distribui quase isso no
"Show do Milhão'", concordava
outra dona-de-casa, Maria Isabel Amorim, 20. Ela atribuiu
certo heroísmo à atitude dos irmãos. "São corajosos. Mais ou
menos heróis."
Uma amiga de Maria -que
preferiu se manter anônima-
explicou melhor: "Não apóio
Fernando e Esdras. Mas não
posso achar que cometeram
um grande erro. Os dois pegaram a filha de um milionário,
um sujeito que brinca com dinheiro. Já viu o Silvio transformar nota de R$ 50 em aviãozinho? Então... Sequestraram
sem desejo de maltratar ninguém. Só pensavam em tirar
dos ricos. Pior seria se roubassem um aposentado".
Para provar "a boa índole"
dos irmãos, as três mulheres citavam declarações da própria
Patrícia. "A moça não contou
que ganhou pipoca no cativeiro?", lembrava Edna. "Pipoca,
gente! Sabe quando nós comemos pipoca por aqui? De vez
em nunca."
A Vila Progresso é um típico
bairro da periferia paulistana.
Jovens desempregados jogam
bola pelas ruas, ouvem rap e
andam de skate. Muros exibem
máximas evangélicas. E as moradias, simples, alternam-se
com botecos.
Fernando e Esdras viviam
desde junho ali, em uma casinha alugada, branca e azul, de
quatro cômodos. Nos fundos
do terreno, uma edícula igualmente modesta abrigava mais
um dos sequestradores, Marcelo Batista dos Santos, o Pirata.
Poucos quarteirões adiante,
encontra-se o sobrado amarelo
do motorista particular Antonio Sebastião Pinto, pai de Fernando e Esdras. A residência
destoa do entorno por ser
maior e bem-acabada.
O motorista -relatam os vizinhos- se mudou para o
imóvel há "uns três meses".
Comprou-o de uma advogada
e um médico. Pagou algo entre
R$ 60 mil e R$ 90 mil.
Nos arredores, ninguém dispõe de muitas informações sobre Antonio Pinto e os filhos.
Todos, porém, definem a família como "sossegada" e se declaram surpresos com o que
aconteceu. Um ou outro rejeita
a tese de heroísmo. Dizem:
"Heróis somos nós, que seguramos a onda sem derrapar".
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