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"Perdão" pode ter atraído sequestrador
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Por que Fernando Dutra Pinto
decidiu abrigar-se na casa de Silvio Santos, apenas 48 horas depois de ter sido identificado pela
polícia como o mentor da sequestro de Patrícia Abravanel, filha do
apresentador? Especialistas ouvidos pela Folha dizem que ele pode ter sido "atraído" pelo discurso
emotivo que a garota fez sobre os
criminosos ao ser libertada.
Durante conversa com jornalistas, depois de libertada, Patrícia
afirmou ter perdoado os sequestradores. A garota disse que os
criminosos reconheceram que
seu "Deus é poderoso" e que se
"arrependeram" de tê-la sequestrado. Um deles escreveu na sua
Bíblia que Patrícia "é a melhor
pessoa do mundo".
"A Patrícia abriu [simbolicamente" a porta para o retorno do
Fernando", diz a psicanalista Lia
Lage. Para ela, é como se o sequestrador tivesse entendido, ao ouvi-la, que ela o ajudaria. "Essa menina tem força", conclui.
Adelaide de Freitas Caires, do
Instituto de Psiquiatria Forense
do Hospital das Clínicas (autora
do laudo de Francisco de Assis
Pereira, o maníaco do parque),
concorda que Patrícia tenha acolhido o sequestrador. "Ela o abraçou do ponto de vista simbólico e
humanitário", afirma.
Para Adelaide, o fato de Fernando ter sido receptivo à ajuda oferecida por Patrícia mostra que ele
seria um indivíduo com possibilidades de tratamento.
"Os apelos dela [Patrícia" no cativeiro poderiam ter sido ingredientes para torturas mais sutis",
diz Adelaide. Ou seja: Fernando
poderia ter se aproveitado das
pregações religiosas da garota para lhe impor ainda mais angústia
e humilhação.
Edgar de Barros, do HC, diz que
é muito difícil traçar um perfil de
Fernando sem tê-lo examinado
ou mesmo sem que ele tenha se
pronunciado publicamente.
Barros e Guido Palomba, autor
de mais de 10 mil laudos psicológicos de criminosos, dizem, baseados nas ações de Fernando,
que ele apresenta a mesma "audácia" de Leonardo Pareja, o assaltante que, em 1995, manteve uma
menina de 13 anos como refém
por três dias e conseguiu fugir da
polícia de três Estados.
Palomba diz que sequestradores são "algozes terríveis" em razão do sofrimento a que submetem vítimas e familiares.
Para ele, Fernando (a exemplo
de outros sequestradores) tem
afetividade centrada em si mesmo. "Ele não teria voltado à casa
de Silvio Santos se não estivesse
sendo ameaçado. Essas pessoas
não tem sentimentos humanitários", diz ele.
Para Barros, Fernando é o que
se chama de "criminoso eventual" -alguém que passou a
maior parte da vida respeitando
as regras do convívio social e que
um dia comete um ato extremo de
violência. "A ciência ainda não
tem a cura para isso porque é
muito difícil de saber quando essas pessoas vão agir."
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