Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETORNO
Primeira-dama diz ser contra Pagura, Meinberg e Alda Marco Antonio e que participará do secretariado do marido
Nicéa quer voltar e derrubar 3 secretários
MALU GASPAR
de Nova York
Ela conseguiu se conter por três
meses, período em que se afastou
do marido e evitou dar declarações à imprensa. Mas na última
sexta-feira, enquanto se prepara
para voltar ao país e para a administração Celso Pitta, a primeira-dama de São Paulo decidiu falar.
Em entrevista à Folha, no campus da Universidade Columbia,
onde faz curso de inglês, Nicéa
disse que planeja voltar ao governo Celso Pitta como membro do
secretariado. Afirmou também
que planeja ser candidata a cargo
eletivo, mas que, primeiro, vai fazer campanha para a reeleição do
marido, de quem nega ter pensado em se separar. "Nos falamos
todos os dias", ressalta.
Nicéa, que mora com a filha,
Roberta, num apartamento "pequenininho" no Queens, subúrbio de Nova York, garante que a
vinda para a cidade para fazer um
curso de inglês já estava planejada
antes dos boatos de separação.
A primeira-dama diz que quis
fazer o curso para "aprender um
inglês mais técnico", para poder
pleitear financiamento da ONU
(Organização das Nações Unidas)
para seus projetos sociais.
Mas uma úlcera provocada pelo
estresse com as denúncias de corrupção na administração municipal foi, segundo ela, o principal
motivo para a viagem. "Os remédios não faziam mais efeito e eu
não dormia mais."
Nos EUA, ela adotou lentes de
contato azuis e cabelo mais comprido, o que a deixou livre das escovas e do laquê dos cabeleireiros.
Disse também que ganhou fôlego
e inspiração para fazer a campanha do marido e para planejar a
própria carreira política. Para começar, sai atirando no secretariado de Pitta, nos vereadores paulistanos e no ex-prefeito Paulo Maluf, seu inimigo preferido desde
que ele e Pitta romperam relações. "Se ele fizesse as pazes com o
Maluf, aí sim haveria uma separação", afirma Nicéa, que deve se
encontrar com o prefeito no próximo final de semana, na maratona de Nova York.
Folha - Por que a senhora veio
para Nova York?
Nicéa Pitta - Foi por causa desse problema de saúde. Eu acho
que só quem não tem mais respeito por si próprio é que tem cara-de-pau para suportar todas essas
calúnias e difamações sem adoecer. Porque eu gosto de mim, da
pessoa que eu sou, e o poder não
me faz a cabeça. O que eu gosto é
de atender as pessoas. Eu quero ficar em paz comigo, não com as
pessoas que falam de mim.
Folha - Mas a senhora e o seu
marido são pessoas públicas e o
seu marido tem um cargo eletivo. É natural que procurem saber se vocês estão agindo com
correção.
Nicéa - Mas eu acho que as pessoas devem procurar falar a verdade sobre as outras. Agora, calúnia, não, entende? Por exemplo,
dizer que eu estava dançando numa discoteca (referência à nota
publicada pela colunista Joyce
Pascowitch, da Folha, na última
quinta-feira). Eu sou uma mulher
casada. E poderia estar com casais
amigos e com a minha filha, mas
não é verdade. Até porque acordo
muito cedo e tenho de aproveitar
o curso, que não é barato.
Folha -E quem está pagando o
curso? O seu marido está com os
bens indisponíveis.
Nicéa - Eu tive muita sorte de
ter alguém que pagasse para mim.
Eu estou fazendo esse curso com a
ajuda da minha família. Porque
eles não querem me ver acabando
com a minha saúde, eles sabem o
quanto sofro. A maior calúnia é
dizer que eu vendi frango para a
prefeitura. Eu fui corretora a vida
inteira e nunca nenhum cliente
soube quem meu marido era. Eu
paguei um preço muito alto por
ser uma pessoa pública. Mas eu
faria tudo de novo. Eu tenho que
cumprir a minha missão, que é fazer um bom trabalho social.
Folha - E a sua filha, volta para
o Brasil?
Nicéa - Ela não volta mais. Foi
muita perseguição na faculdade.
Você imagina, darem aula sobre
precatório! Para que humilhar a
menina? Sabe, as pessoas não têm
idéia do que é isso para uma família. Quem me ajudou muito a suportar tudo isso foi aquele cachorro, o Pipoca. Porque ele me
dava tanta alegria e tanto amor,
sem cobrar nada... Meu marido,
coitado, eu tinha de ser forte para
ele.
Folha - Mas afinal, então, nunca houve a idéia de separação
entre a senhora e o prefeito Celso Pitta?
Nicéa - Não, nunca houve.
Folha - A senhora não brigou
com ele por causa da escolha da
presidente do Casa (Centro de
Apoio Social e Atendimento)?
Nicéa - O que houve é que o
Meinberg (o secretário de Governo, Augusto Meinberg) tinha indicado uma presidente e chegaram denúncias a mim de que ela
havia cometido irregularidades.
Eu pedi para o Celso substituir, e
ele substituiu por essa. Que não tinha problema nenhum.
Folha - E essas irregularidades
que a senhora descobriu, quais
eram? O que foi feito?
Nicéa - Eu encerrei, não permito essas coisas. Eu passei um bom
período apagando incêndio dentro do Casa.
"E pode publicar
aí: se acontecer
alguma coisa
comigo, pode
ter certeza de
que não foi acidente. Eu sofri
ameaças de
morte. Porque
eu falo"
|
Folha - E o que estava errado?
Nicéa - Havia muita coisa errada, muita mesmo. Mas é difícil eu
enumerar aqui, até por causa da
minha segurança. Eu confesso
que tenho medo. E pode publicar
aí: se acontecer alguma coisa comigo, pode ter certeza de que não
foi acidente. Eu sofri ameaças de
morte. Porque eu falo.
Folha - Mas o que a senhora
estava planejando falar?
Nicéa - É que eles (os aliados do
prefeito) achavam que eu era uma
pessoa não política e falavam para
o meu marido "ela é muito transparente".
Folha - E a senhora quer fazer
carreira na política?
Nicéa - Eu sou política desde
que nasci. Agora, é preciso ser político e continuar sendo o que você é. Aí está a minha diferença
com esses políticos. Tenho certeza de que eu incomodei, de que
ocupei muito espaço. Chegaram a
dizer até que eu seria candidata a
vereadora. Eu não tenho talento
para estar numa Câmara, dizendo
"pela ordem, senhor presidente".
Não tenho.
Folha - Mas a senhora quer ser
candidata a algum cargo?
Nicéa - No futuro eu pretendo
ser. Eu não pretendia, mas agora,
aqui, vendo essa experiência da
Hillary (primeira-dama norte-americana), nesse período em
que estou preocupada com os
problemas sociais, fico pensando:
só sendo uma política, não uma
primeira-dama. Porque como
primeira-dama é muito restrito,
eu preciso ter um cargo político
de fato.
Folha -E qual seria o cargo
ideal para a senhora?
Nicéa - Eu iria para o Senado e
futuramente para a prefeitura.
Adoraria administrar uma cidade
como São Paulo. Tenho certeza de
que vou deixar a cidade linda. Durante essa administração eu
aprendi muito.
Folha - O que a senhora vai fazer ainda nessa administração?
Nicéa - Por exemplo, acompanhar mais de perto as reformas
municipais. Porque você tem de
respeitar o dinheiro público. Porque faz-se uma licitação, a empresa chega lá e coloca qualquer material e fica por isso mesmo. E
normalmente ninguém reclama
porque futuramente ele vai ser
patrocinador de um político.
Folha - Mas a campanha do
seu marido foi financiada por
grandes empresas.
Nicéa - Mas na própria campanha eu já criticava isso. Porque na
nossa campanha o material era
muito escasso. E para conseguir
camisetas, era uma guerra. E eu
dizia, não preciso disso. Eu vou
fazer carreata e falar direto com a
população.
Folha - E como a senhora faria
a sua campanha, então?
Nicéa - Eu não vou depender de
grandes empresas para uma campanha, e acho que é viável. A melhor forma de conquistar um eleitor não é o dinheiro. O povo mudou, mas a classe política continua muito antiquada.
Folha - E a campanha para a
reeleição de Pitta, como vai ser?
Nicéa - A melhor campanha é
administrar perto do povo. Nenhum eleitor do meu marido deixou de ser atendido por mim. Então, o povo brasileiro já me conhece. A população brasileira carente me conhece bem, não tenho
dúvida.
Folha - E a senhora já tem filiação partidária para as eleições?
Nicéa - Tenho, mas é segredo.
Ainda é segredo.
Folha - É o PTN?
Nicéa - Não, não é o mesmo do
prefeito. Esse partido dele é uma
experiência.
Folha - A senhora acha que ele
fez uma má opção?
Nicéa - Olha, nesse período eu
já não estava mais lá.
Folha - E ele a consultou?
Nicéa - Sim, mas eu conhecia
muito pouco esse partido.
Folha - Na sua opinião, o que
ele deve fazer até a campanha?
Nicéa - Acho que ele deve melhorar bastante o secretariado dele. O Meinberg, por exemplo. Eu
falo isso para o Celso, e o Celso diz
assim: "O pior é que você acerta
sempre".
Folha - Mas o secretário é poderoso no governo Pitta.
Nicéa - Não, não é não.
Folha - Foi ele quem fez as articulações na Câmara pelo final
da CPI (da máfia da propina).
Nicéa - Mas, olha, para negociar
com os vereadores não precisa ser
nenhum gênio. Até porque também não tem nenhum gênio na
Câmara.
"Aquilo (a Câmara) é a "Escolinha do Professor Raimundo".
Que direito eles
têm de atrapalhar o desenvolvimento de um
país?"
|
Folha - E quais são os membros do secretariado que a senhora acha que deveriam sair?
Nicéa - Eu sou contra o Meinberg, sou contra o (Jorge) Pagura.
Eu o acho um péssimo secretário
da Saúde. Ele é uma estrela, gosta
de aparecer, mais nada. Tanto
que, se ele fosse melhor, a situação da saúde na cidade já estava
resolvida. Então, o Meinberg, a
Alda Marco Antonio, o Pagura. E
se ele conseguir... Porque o Celso
me ouve muito, mas eu digo
"olha, não quero me responsabilizar por nada", eu não quero criar
problema para ele. Ele tem de fazer no momento certo dele.
Folha - Mas sem o Meinberg o
prefeito pode perder o apoio do
PMDB, são 12 vereadores.
Nicéa - Vereadores? Que poder
eles têm? A melhor maneira de fazer um vereador votar é colocar a
população para fazer movimento.
Aquilo é a "Escolinha do Professor Raimundo". Que direito eles
têm de atrapalhar o desenvolvimento de um país?
Folha - A ex-prefeita Erundina,
por exemplo, teve dificuldades
para governar sem maioria.
Nicéa - Mas ela fez um bom governo. Quem atrapalhou a Erundina foi o PT. E, se não for meu
marido, eu prefiro que seja ela.
Folha - E a Marta Suplicy, o
que a senhora acha dela?
Nicéa - Não me sinto segura
com a Marta, ela é elitizada.
Folha -E o que a senhora vai
fazer a partir de agora? A senhora volta para o Casa?
Nicéa - Vou para uma secretaria.
Folha - Isso já foi combinado
com o prefeito?
Nicéa - Já. Eu fico preocupada
porque essa perseguição ao Celso
faz com que gente séria fique insegura de participar do governo dele. E isso faz com que pessoas como o Pagura e o Meinberg se
aproximem, e ele fique na mão
dessas pessoas. E eu peço para as
pessoas que não se intimidem,
que venham participar. Porque
eu acho que valeu a pena, mesmo
que eu tenha ficado doente.
Folha - Para que secretaria a
senhora vai?
Nicéa - Vamos ver. Para qualquer área, estou preparada.
Folha - E quem a apóia no seu
projeto de candidatura?
Nicéa - Olha, nós tivemos uma
grande perda que foi o Calim Eid,
que também foi uma pessoa bastante perseguida. Fizeram muita
maldade com ele. Chegaram a dizer que nós brigamos, eu nunca
briguei com Calim Eid. Foi ele que
fez com que o Maluf colocasse a
gente para ser candidato, porque
o Maluf não queria. E não é verdade que ele queria convencer o Celso a voltar a ter uma relação com
Paulo Maluf. Ele dizia assim: "Fez
muito bem, o Paulo Maluf é isso
mesmo. Isso é Maluf".
Folha - O rompimento dos
dois não era jogo de cena?
Nicéa - Não, eles estão brigados
mesmo. E, se o Celso voltar a se
relacionar com Paulo Maluf, aí
sim haverá uma separação. Isso
eu falei para ele.
Folha - O seu novo partido poderia ser o PSDB?
Nicéa - Eu gosto muito do
PSDB. Tenho uma admiração
muito grande pelo Mário Covas,
dona Lila, dona Ruth Cardoso,
pelo presidente Fernando Henrique. Eu acho que ele é o homem
certo para o país. Eu tenho certeza
que o povo acertou com Fernando Henrique e com o Covas. Mas
eu preferia deixar em aberto.
Folha - Mesmo com a crise de
popularidade do seu marido e
do presidente, a senhora acha
que estão no caminho certo?
Nicéa - Eu não acredito em pesquisas, elas são manipuladas.
Folha - Qual seria seu lugar no
cenário político?
Nicéa - Mais para o lado do
PSDB. Eu sempre fui PSDB.
Folha - No lugar de Pitta, a senhora não teria ido para o PTN?
Nicéa - Não, não teria.
Folha - Quem são seus conselheiros políticos hoje?
Nicéa - Deus. Eu converso muito com Deus. E a experiência. A
gente aprende muito com a experiência.
Texto Anterior: Iniciativa privada esquece projeto Próximo Texto: Saúde: Filho de mãe feliz se desenvolve melhor Índice
|