São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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SAÚDE
Filho de mãe feliz se desenvolve melhor

ANDRÉA PERDIGÃO GAYOTTO
especial para a Folha



O equilíbrio emocional da mãe durante a gestação e a comunicação com o filho nos primeiros dias de vida são fatores determinantes na formação da parte do cérebro que controla a expressão, os sentidos e as habilidades da criança.
A conclusão é da pesquisadora, pediatra e neonatologista Yole da Cunha, que consolidou o conteúdo de vários estudos sobre o tema.
Segundo ela, o bebê humano é geneticamente programado para comunicar-se e tem condições de, ainda na barriga da mãe, ter sensações de bem-estar ou mal-estar.
Essas sensações são transmitidas por substâncias químicas, a partir das emoções da mãe. A insatisfação da gestante com a gravidez, por exemplo, terá reflexo na formação cerebral do filho.
Até a 7ª semana de gestação, a influência é nula. O bebê já traz um projeto genético (registro de informações transmitidas pelos pais) de formação cerebral.
Da 7ª à 20ª semana, conclui-se a formação do córtex (parte mais externa do cérebro responsável pela percepção, movimento, pensamentos e sentimentos).
Esse processo não depende apenas de informações genéticas, mas também da comunicação da mãe com seu bebê, chamada de comunicação empática.
Nessa fase, a tranquilidade, a satisfação e a saúde da mãe podem determinar avanços na boa formação do filho. As sensações desagradáveis, por sua vez, representarão uma carga negativa na constituição do córtex.



Depois do nascimento
O amadurecimento da criança, durante os três primeiros anos de vida, também será determinantemente influenciado pelo tipo de relação estabelecida com mãe, ou adulto que cuida do bebê.
Segundo especialistas, o desenvolvimento adequado do cérebro depende da capacidade da mãe de organizar a rotina e de atender às necessidades básicas do bebê.
O ponto chave da relação, porém, é a comunicação entre mãe e filho. Pegar no colo, tocar a pele, conversar e olhar nos olhos, faz com o que bebê se sinta seguro, tenha mais noção do próprio corpo e desenvolva habilidades.
Uma mãe que estiver deprimida pode cuidar do bebê, satisfazendo suas necessidades básicas, mas é muito provável que não converse com ele ou olhe nos seus olhos.
A incapacidade para se comunicar com o bebê mais intimamente, chamada por especialistas de ausência psíquica, interfere na maneira como a criança, e posteriormente o adulto, lida com as próprias emoções, além de gerar sensação desamparo e até microdepressão (leia sintomas ao lado).
Segundo Vagner Ranna, pediatra, psiquiatra e professor de psicossomática, o quadro depressivo destrói a capacidade da mãe de identificar-se com o bebê, cuidar dele e compreender os seus sinais.
Incapaz de se comunicar pela fala, a criança manifesta as dificuldades nas relações com os pais apresentando sintomas físicos, como alterações no sono, falta de apetite, vômitos frequentes e atraso no crescimento, podendo contrair até mesmo doenças graves.
Para o psiquiatra, os sinais da criança são um caminho para o pai conhecer melhor e aprimorar sua relação com o filho.



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