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Nos EUA, polícia pode obrigar preso a comer
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Greves de fome têm sido usadas
há séculos como forma de protesto e instrumento de desobediência
civil. Mas, em alguns países, como
os EUA, sem grande eficiência.
O suicídio é proibido pelas leis
norte-americanas. Embora a sua
ilegalidade seja inócua no caso de
êxito do suicida, ela tem efeitos
práticos em greves de fome.
Quando autoridades médicas
constatam que o grevista corre risco de vida, a polícia pode prendê-lo e o forçar a se alimentar.
O governo dos EUA recomenda
a todos os responsáveis por presídios no país que cheguem até o recurso da gastrostomia (procedimento cirúrgico de formação de
fístula gástrica ÄcanalÄ para introduzir alimentos no estômago)
para manter o grevista vivo.
É raro que se chegue a tal ponto,
inclusive porque muitos médicos
se recusam a agir assim.
Em outubro de 1975, a 29ª Assembléia Médica Mundial aprovou a Convenção de Tóquio, que
no seu artigo 5º afirma: "Quando
o prisioneiro recusa alimentação e
é considerado, por médico, capaz
de avaliação racional das consequências de sua recusa, ele não deve ser alimentado artificialmente".
No Brasil, o Código Penal não
menciona o suicídio como crime.
O artigo 122 proíbe o auxílio ou
instigação ao suicídio, e o artigo
135 prevê penas para omissão de
socorro. Mas deixar de alimentar
uma pessoa em greve de fome dificilmente se encaixaria na definição de omissão de socorro.
Não é só por razões legais que
greves de fome não funcionam
muito nos EUA. A cultura nacional não valoriza martírio auto-infligido. Muitos consideram a greve
de fome uma forma de coação, um
tipo de "terrorismo moral".
Mesmo assim, o recurso à greve
de fome tem sido utilizado com
frequência no país. É raro, no entanto, que essas greves se estendam por mais de duas semanas.
A greve de fome se popularizou
como método de pressão política
no século 20, primeiro no Reino
Unido, onde diversas líderes feministas a utilizaram para luta pelo
direito de voto para as mulheres.
Depois, Mohandas Gandhi
(1869-1948), na Índia, se valeu de
longos períodos de greve de fome
(o maior deles em 1932) para protestar contra o domínio britânico.
Durante a Guerra do Vietnã, a
greve de fome foi usada por opositores da presença militar norte-americana no sudeste da Ásia.
Os casos recentes mais dramáticos de greve de fome ocorreram na
Irlanda do Norte e na Turquia.
Em 1981, dez líderes do IRA
(Exército Revolucionário Irlandês) morreram após terem se recusado a receber alimentos de 45 a
61 dias. Entre eles, estava Bobby
Sands, eleito para o parlamento
britânico 26 dias antes de morrer.
A principal reivindicação de
Sands e seus colegas era que fossem considerados prisioneiros políticos pelo governo britânico.
A então primeira-ministra Margaret Thatcher não cedeu à pressão internacional para que atendesse às exigências do IRA.
Ela argumentava que não desejava "encorajar a chantagem e o
apoio ao terrorismo". Os prisioneiros que substituíram os mortos
na greve encerraram-na em setembro, seis meses após seu início.
Em 1996, 12 integrantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão morreram após período de 51 a
67 dias de greve de fome.
Eles protestavam contra o regime de isolamento que lhes havia
sido imposto pelo governo da Turquia. Suas reivindicações (as principais eram o direito de conviver
com seus colegas e tempo de recreação) foram recusadas.
Em março deste ano, após 55
dias de greve de fome de dezenas
de outros prisioneiros curdos, o
governo da Turquia atendeu às
suas principais reivindicações.
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