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Opinião

Haja fôlego para encarar as ladeiras de Perdizes

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Morar em Perdizes é bom para quem gosta de apartamentos com vista bonita, e é ruim para quem se dedica a caminhadas ou passeios de bicicleta.

As ladeiras são muito íngremes, e certas ruas chegam mesmo a perder o próprio fôlego: interrompem-se numa espécie de poço sem saída.

O bairro, em seu conjunto, pode ser considerado uma vasta descida, que começa nos altos cemitérios da avenida Doutor Arnaldo e termina no que já deve ter sido uma várzea do Tietê em algum momento pré-histórico, e hoje corresponde ao parque da Água Branca, à Barra Funda e aos baixos do Minhocão.

A descida, que se segue acompanhando a rua Cardoso de Almeida, tem equivalente no perfil social do bairro: as casas ricas e antigas das imediações do Pacaembu são substituídas pelos prédios de classe média alta, e tudo termina em hoteizinhos fuleiros e lugares degradados quando se chega ao Minhocão.

As transversais da Cardoso de Almeida se prolongam até bem longe, num sobe e desce cada vez pior.

Ainda assim, há muitos pedestres. A PUC, com seus estudantes e guardadores de carro, dá ao bairro seu principal caráter. Outras faculdades e escolas religiosas se organizam à sua volta, e não é raro encontrar freiras e padres por aqui. A igreja de São Domingos, com o convento dos dominicanos, foco importante de resistência ao regime militar, eleva um campanário branco e modernoso à frente das mesinhas de uma Ofner na calçada da rua.

Outro lugar "de esquerda" desapareceu: era a churrascaria A Toca, na rua Traipu, hoje substituída por uma pizzaria. Sobrevive a choperia Krystal, perto da PUC, onde rareiam, entretanto, as discussões sobre semiótica e estruturalismo.

Algumas livrarias sumiram. Mal e mal, com ares de papelaria, existe a Cortez, e tampouco vai muito bem a Azteca, ligada à editora mexicana Fondo de Cultura Económica. O bairro não é ruim, ou não era ruim, para quem se liga em futebol. O estádio do Pacaembu, numa ponta, e o Palestra Itália, na ponta oposta, são os extremos, corinthiano e palmeirense, de Perdizes. O Palmeiras reina, na região do declive mais acentuado.

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