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Sobrevivente de Realengo busca força no esporte

Vítima de massacre em escola do Rio, jovem de 15 anos vira remadora

Thayane Tavares perdeu os movimentos das pernas; técnico que a treina há três meses diz que ela é talentosa

DIANA BRITO
DO RIO

Quase um ano e meio após perder os movimentos das pernas ao ser atingida por quatro tiros no ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, a estudante Thayane Tavares, 15, encontrou força no esporte para superar a dor do trauma.

Os treinos nas pistas de atletismo foram substituídos pelas aulas de remo.

A força física antes concentrada nas pernas com o salto em distância e a corrida passou para os braços. E trouxe de volta a sensação de liberdade à adolescente.

"Voltei a enxergar a vida de forma diferente, vindo da água. É como se voltasse a ter os meus movimentos ali dentro", conta, emocionada.

Com aulas três vezes por semana, Thayane pratica o esporte há três meses na Urca (zona sul carioca) e já se prepara para participar do Campeonato Mundial de Remo na Argentina, no próximo mês de novembro.

A jovem deverá competir em duas categorias: individual e equipe, com seis atletas.

FALTA PATROCÍNIO

A estudante, no entanto, lamenta não contar com nenhum patrocínio.

Ela recebe aulas voluntárias de Jorge Souza, 45, massoterapeuta e coordenador do projeto Rio Va'a, e diz que sua família junta dinheiro para arcar com os custos.

"Meu sonho é trazer uma medalha de ouro para o Brasil. Mas para isso eu preciso de apoio", diz.

Dedicada, Thayane é vista pelo instrutor como um novo talento do remo brasileiro.

"Em menos de três meses, ela mostrou um empenho muito melhor do que atletas que treinam há mais de três anos", destacou.

A estudante conta que as lembranças do dia 7 de abril de 2011 não se apagam, mas que amenizam com os treinos. Na ocasião, ela foi uma das alvejadas por Wellington Menezes de Oliveira, 24, ex-aluno que invadiu a escola.

Ele assassinou 12 alunos e feriu outros 12, antes de se matar dentro do colégio.

"Penso no que aconteceu todos os dias, mas quando entro no mar esqueço e começo a pensar em outras coisas. É muito bom, um alívio", diz.

BALAS ALOJADAS

Andréia Tavares, 34, mãe de Thayane, conta que o momento mais difícil para a filha é à noite, antes de dormir.

"Ela ainda chora, tem momentos de depressão e fala que só ela sabe o que passa em uma cadeira de rodas", diz a mãe da adolescente.

Segundo Andréia, Thayane ainda tem esperança de voltar a andar.

Ela explica que exames constataram que a medula ainda está muito inchada, mas que os médicos afirmam que os movimentos podem voltar um dia.

Com duas balas alojadas na coluna, a jovem já havia restabelecido alguns movimentos da perna esquerda com a fisioterapia. Com o remo, tem movimentado aos poucos a perna direita.

"O esporte transformou a vida da Thayane. Ela fica mais alegre e bem disposta. É a grande realização dela e isso me deixa muito orgulhosa", afirma a mãe da atleta.

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