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REVIRAVOLTA
Para Claudio Loser, alta do risco-país de emergentes indica menor euforia
Ex-FMI enxerga fim de "minibolha"
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A turbulência que tem causado
a elevação do risco-país dos emergentes nos últimos dias é o sintoma do fim da "minibolha" que se
formava no mercado.
Inflada principalmente pela baixa taxa básica de juros da economia americana (1%), a bolha começou a murchar diante da possibilidade de aperto da política monetária sinalizada pelo Fed (o
banco central dos EUA).
O diagnóstico é oferecido por
Claudio Loser, 60, ex-diretor do
Fundo Monetário Internacional
para o Departamento do Hemisfério Ocidental (1994-2002).
A seguir, a entrevista concedida
à Folha por telefone.
Folha - A que poderíamos atribuir a turbulência nos mercados
emergentes nos últimos dias?
Claudio Loser - Fundamentalmente, ela tem a ver com o comunicado de Alan Greenspan [presidente do Fed] na última quarta-feira. Ao dar a impressão de que a
taxa deve ser elevada, o mercado
de ações nos EUA sofreu, o dólar
ficou mais forte e houve uma perda de interesse generalizada em
ativos dos mercados emergentes.
Mas não acredito que nada disso
tenha a ver com mudanças nas
economias dos emergentes. A
análise dos indicadores da América Latina, por exemplo, é muito
positiva. Nada mudou. Essas turbulências são causadas por problemas na percepção dos investidores. Eles estão preocupados e
em dúvida a respeito da política
do Fed. Por isso, se movimentam
em direção a ativos americanos.
Folha - Alguns economistas
apontavam que essa euforia dos investidores com os emergentes era
uma bolha. A interrupção desse entusiasmo poderia ser um sinal de
que essa bolha está murchando?
Loser - Eu não gosto da palavra
bolha, mas eu diria que houve
uma minibolha. Vimos um aumento forte de movimentos no
mercado de ações nos EUA e uma
queda sistemática do risco-país. O
sintoma principal do encolhimento dessa bolha é a alta do risco-país dos emergentes. Agora,
estamos passando por um período de auto-ajuste, mas nada que
cause grande preocupação. Não
há semelhança entre a situação
atual e os eventos de 2002 [grande
retração da liquidez mundial] ou
de 1998 [após a crise da Rússia].
Folha - Quanto tempo a instabilidade deve durar? O que acontecerá
com os emergentes quando o Fed
decidir de fato elevar os juros?
Loser - A médio e longo prazos,
vamos ver a melhoria nos mercados emergentes. Hoje [anteontem], vimos indicadores que
mostram que a recuperação da
economia americana não é tão
forte, por isso acho que uma elevação [do Fed] não deve acontecer antes de seis meses. Os mercados já reagiram à possibilidade de
o Fed aumentar os juros, por isso
as coisas não devem piorar.
Quando subirem os juros, deve
haver um impacto positivo porque a incerteza a respeito do patamar da nova taxa vai terminar.
Mas há outra questão em aberto.
Folha - Qual questão?
Loser - O problema é se houver
uma corrida contra o dólar. O enfraquecimento do dólar e essa situação de déficits fiscal e orçamentário dos EUA poderiam levar a um clima acentuado de desconfiança entre europeus, japoneses e chineses. Eles, então, poderiam começar a retirar os seus
investimentos dos EUA de forma
mais acelerada, mas ainda não vejo esse cenário. [Uma corrida] levaria a dois movimentos nos
emergentes. O primeiro é positivo. Quando o dólar declina, os
mercados que estão diretamente
vinculados à moeda americana,
como Brasil, Argentina e México,
ganham mais competitividade na
produção. O segundo é negativo.
Uma fuga de investidores levaria
o Fed a aumentar a taxa de juros
nos EUA. Isso tornaria a obtenção
de recursos e capitais para essas
economias mais cara.
Folha - O sr. acredita no perigo de
uma crise mais grave nos emergentes com a interrupção brusca de
fluxos de capital para a região?
Loser - Isso é sempre uma possibilidade, mas é muito pequena.
Acredito mais numa diminuição
de fluxos para esses mercados,
mas nada muito dramático.
Folha - Quais os emergentes que
teriam maior blindagem diante de
uma situação de menor liquidez?
Loser - Estou muito otimista
com o Brasil, que está claramente
numa posição muito boa. Tem
uma situação fiscal muito boa e
tem uma política monetária que
conta com credibilidade. A taxa
básica de juros deve cair gradualmente e a economia se mostra
muito competitiva. Na Argentina,
as coisas devem ir bem se conseguirem resolver o problema das
negociações da dívida externa.
Folha - Mas a Ásia ainda continua
melhor do que a América Latina...
Loser - Sim. Os asiáticos, como
China, Coréia do Sul e Índia, estão
muito bem. A China está crescendo e tentando melhorar o seu sistema financeiro. Em linhas gerais,
a América Latina ainda tem que
trabalhar muito duro para fazer
avançar as reformas estruturais.
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