São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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EVENTO FOLHA
Economistas reunidos em debate acreditam que atual situação não pode ser mantida por muito tempo
Juro alto é insustentável, dizem especialistas

da Reportagem Local


Os dias tensos da última semana, com o dólar se valorizando constantemente em relação ao real, o Banco Central elevando as taxas de juros e boatos sobre um novo pacote econômico, ainda não permitem saber se o Brasil vive apenas uma fase de ajuste ou se passa por uma grave crise cambial.
Na noite de sexta-feira, a Folha reuniu quatro economistas para um debate em torno dos cenários possíveis para o país após a livre flutuação do câmbio.
Apesar das divergências de análise sobre o momento e as perspectivas futuras para a economia, aparentemente um ponto obteve consenso entre os debatedores: a atual política de juros altos é insustentável a longo prazo.
O encontro reuniu o presidente do Banco do Brasil, Andrea Calabi, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, o ex-diretor do BC Paulo Yokota e o economista Jorge Mattoso, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A mediação coube ao articulista da Folha Gilson Schwartz.
Da mesma forma que a livre flutuação do câmbio gera controvérsias entre os economistas, o mesmo acontece com as análises sobre as políticas receitadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), de alta nos juros e recessão.
O economista Paulo Yokota acredita que "caminhamos de um problema cambial para um problema de pagamentos externos".
Por este raciocínio, o Banco Central teria exagerado no aumento das taxas de juros, criando uma desconfiança entre os investidores sobre a capacidade de pagamento que afeta a credibilidade do país.
Na opinião do economista Jorge Mattoso, a desvalorização abrupta do real feita pelo governo foi tardia e desastrada.
Da mesma forma, a política de juros altos só fez aumentar a desconfiança sobre a capacidade de pagamento da dívida pública.
Já o presidente do Banco do Brasil, Andrea Calabi, afirma que não há dificuldade na gestão da dívida pública e que, a partir das próximas semanas, o mercado financeiro tende a se acalmar.
"Falar em risco de moratória é um despautério", disse Calabi.
"A situação do Brasil é delicada, mas temos todas as condições de ultrapassar esta fase", concordou Gustavo Loyola, que também criticou qualquer alternativa que leve à centralização do câmbio ou ao calote da dívida interna e externa.
O ex-presidente do Banco Central, no entanto, acha que seria bom se houvesse um "adicional de esforço fiscal", mesmo diante das dificuldades de aprovação.
"A questão fiscal deve ser enfatizada neste momento", avaliou Gustavo Loyola.



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