São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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Colapso cambial deve reduzir entrada de investimento direto

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A crise de confiança na política econômica brasileira deflagrada pelo colapso da âncora cambial e da desvalorização do real levou especialistas a reduzirem suas estimativas para a entrada de investimento direto estrangeiro no país em 1999.
A Sobeet (Sociedade Brasileira para o Estudo das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) e o Cofecon (Conselho Federal de Economia) projetam agora um investimento direto (capital que segue para o setor produtivo e não para aplicações financeiras de curto prazo) entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões neste ano.
As projeções anteriores à crise cambial eram de um valor entre US$ 16 bilhões e US$ 20 bilhões, com a diferença explicada pela indefinição das privatizações a serem realizadas neste ano.
Em 1998, o país recebeu um investimento recorde de US$ 26,1 bilhões. Esses recursos ajudaram a cobrir 74,7% do déficit em transações correntes (o resultado de todas as transações do país com o exterior), que foi de US$ 34,9 bilhões.
Na semana passada, duas empresas estrangeiras anunciaram o adiamento de projetos no Brasil: a coreana LG Eletronics (fábrica de telefones celulares no valor de cerca de US$ 200 milhões, em São Paulo) e o grupo mexicano Imsa (fábrica de produtos siderúrgicos, em parceria com a CSN, no valor de US$ 270 milhões, no Paraná).
Pedro da Motta Veiga, presidente da Sobeet, diz que esses adiamentos indicam uma tendência da queda do investimento direto no país neste ano.
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Privatizações Além do adiamento de investimentos das empresas multinacionais que já estão no país, devido às perspectivas de queda da demanda e da remessa de lucros por causa da recessão econômica, o colapso cambial também diminuirá o valor em dólar das empresas que serão privatizadas neste ano.
"Acredito que o investimento direto em 1999 será de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões, mas se chegar a US$ 13 bilhões será muito bom."
Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Cofecon, diz que o investimento direto, na melhor das hipóteses, vai cair pela metade neste ano, para um valor ainda "considerável" entre US$ 12 bilhões e US$ 13 bilhões.
"Numa situação normal, o Brasil receberia entre US$ 16 bilhões e US$ 20 bilhões porque o ano passado foi atípico devido ao grande volume de privatizações, que chegou a US$ 6,1 bilhões."
James Wygrand, diretor da Control Risks, empresa de avaliação de riscos de investimento, diz que a crise cambial afeta o ritmo do investimento direto, mas não a decisão de investir.
Os setores de bens duráveis e de produtos de consumo vão adiar investimentos, mas haverá um "bolsão" de investimentos nas áreas de infra-estrutura, principalmente no setor de telecomunicações e de energia elétrica.
Wygrand diz que os investidores estão preocupados com a volta de modelos econômicos heterodoxos, tais como a indexação. "Por isso, pelo menos até que o governo dê sinais de que a inflação não vai sair de controle, muitos projetos de investimento vão ficar na gaveta."



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