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Colapso cambial deve reduzir entrada de investimento direto
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
A crise de confiança na política
econômica brasileira deflagrada
pelo colapso da âncora cambial e
da desvalorização do real levou especialistas a reduzirem suas estimativas para a entrada de investimento direto estrangeiro no país
em 1999.
A Sobeet (Sociedade Brasileira
para o Estudo das Empresas
Transnacionais e da Globalização
Econômica) e o Cofecon (Conselho Federal de Economia) projetam agora um investimento direto
(capital que segue para o setor produtivo e não para aplicações financeiras de curto prazo) entre US$ 10
bilhões e US$ 12 bilhões neste ano.
As projeções anteriores à crise
cambial eram de um valor entre
US$ 16 bilhões e US$ 20 bilhões,
com a diferença explicada pela indefinição das privatizações a serem realizadas neste ano.
Em 1998, o país recebeu um investimento recorde de US$ 26,1 bilhões. Esses recursos ajudaram a
cobrir 74,7% do déficit em transações correntes (o resultado de todas as transações do país com o exterior), que foi de US$ 34,9 bilhões.
Na semana passada, duas empresas estrangeiras anunciaram o
adiamento de projetos no Brasil: a
coreana LG Eletronics (fábrica de
telefones celulares no valor de cerca de US$ 200 milhões, em São
Paulo) e o grupo mexicano Imsa
(fábrica de produtos siderúrgicos,
em parceria com a CSN, no valor
de US$ 270 milhões, no Paraná).
Pedro da Motta Veiga, presidente da Sobeet, diz que esses adiamentos indicam uma tendência da
queda do investimento direto no
país neste ano.
²
Privatizações
Além do adiamento de investimentos das empresas multinacionais que já estão no país, devido às
perspectivas de queda da demanda
e da remessa de lucros por causa
da recessão econômica, o colapso
cambial também diminuirá o valor
em dólar das empresas que serão
privatizadas neste ano.
"Acredito que o investimento direto em 1999 será de US$ 10 bilhões
a US$ 12 bilhões, mas se chegar a
US$ 13 bilhões será muito bom."
Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Cofecon, diz que o investimento direto, na melhor das
hipóteses, vai cair pela metade neste ano, para um valor ainda "considerável" entre US$ 12 bilhões e
US$ 13 bilhões.
"Numa situação normal, o Brasil
receberia entre US$ 16 bilhões e
US$ 20 bilhões porque o ano passado foi atípico devido ao grande
volume de privatizações, que chegou a US$ 6,1 bilhões."
James Wygrand, diretor da Control Risks, empresa de avaliação de
riscos de investimento, diz que a
crise cambial afeta o ritmo do investimento direto, mas não a decisão de investir.
Os setores de bens duráveis e de
produtos de consumo vão adiar
investimentos, mas haverá um
"bolsão" de investimentos nas
áreas de infra-estrutura, principalmente no setor de telecomunicações e de energia elétrica.
Wygrand diz que os investidores
estão preocupados com a volta de
modelos econômicos heterodoxos, tais como a indexação. "Por
isso, pelo menos até que o governo
dê sinais de que a inflação não vai
sair de controle, muitos projetos
de investimento vão ficar na gaveta."
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