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MERCADO TENSO
Para o economista, país deve pegar o dinheiro emprestado e desprezar as recomendações feitas pelo Fundo
Sachs prevê colapso se Brasil seguir FMI
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos
A economia
brasileira entrará em colapso se
o país continuar
a seguir a orientação do FMI
(Fundo Monetário Internacional).
Palavra de Jeffrey Sachs, diretor
do Instituto para o Desenvolvimento Internacional da Universidade norte-americana de Harvard,
que a revista "Time" já batizou de
o economista mais importante do
mundo.
Sachs dá um conselho maroto ao
governo brasileiro sobre o FMI:
"Peguem o dinheiro deles, mas
desprezem as recomendações".
Sachs não é o único a temer colapso.
A Folha ouviu do vice-presidente mundial de uma gigantesca multinacional de 225 mil empregados
a tese de que Fernando Henrique
Cardoso tem três dias para baixar
o que ele chama de Real-2 e restabelecer a confiança.
Sem isso, a perspectiva de colapso é real, diz o executivo, que pede
para não ter o nome citado.
O roteiro para o colapso, segundo Sachs, funciona assim:
1 - O FMI tem recomendado a
elevação da taxa de juros, o que o
governo vem fazendo.
2 - A elevação dos juros aumenta
o custo da dívida interna, que já
tem monumental incidência no
déficit público (o pagamento dos
juros da dívida representa praticamente a totalidade do rombo, posto que há virtual equilíbrio entre
receitas e despesas do governo, excluídos os juros).
3 - Os investidores começam a
desconfiar que o governo não terá
como honrar seus compromissos e
passam, preventivamente, a retirar
dinheiro do país (um processo, a
rigor, já em andamento).
4 - Com isso, fecha-se o círculo,
pois o governo é, de fato, obrigado
a declarar moratória.
Mas, à margem do conselho maroto, Sachs não vê muito o que fazer na presente situação.
É uma opinião compartilhada
por quase todos os economistas
com os quais a Folha conversou,
durante o 29º encontro anual do
Fórum Econômico Mundial.
As exceções mais ruidosas são o
ex-ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, e Rudiger
Dornbusch, professor de Economia do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusets).
Ambos recomendam a adoção
da "currency board" (caixa da
moeda), sistema pelo qual a moeda
local é atada irreversivelmente ao
dólar.
O país fica sem possibilidade de
emitir reais, a não ser que entrem
dólares na mesma quantidade da
emissão pretendida.
Fred Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional
(EUA), afasta a idéia.
"O sistema pode servir ou para
economias pequenas e muito abertas, como Hong-Kong, ou para
países que passaram pela hiperinflação e estão dispostos a qualquer
coisa para não repetir o trauma,
como a Argentina", diz.
Sachs vai além: acha que, pelo
efeito da crise brasileira, o modelo
argentino estará sob tremenda
pressão, talvez irresistível, dentro
de mais ou menos seis meses.
Bergsten, em todo caso, acredita
que a cotação do dólar acabará retrocedendo.
"Mas pode levar meses, como
ocorreu nos países asiáticos vítimas da crise", diz o economista.
Entre os empresários brasileiros
presentes ao encontro de Davos, o
recuo também é dado como certo,
até porque a desvalorização do real
ultrapassou de muito a sobrevalorização que havia até a mudança
da polícia cambial, dia 13.
Um deles, que prefere reserva sobre seu nome, estava até pensando
em fechar uma de suas fábricas,
voltada para a exportação, enquanto a cotação do dólar estava
em R$ 1,23.
Mas, com o dólar a R$ 1,40, a fábrica voltou a ser plenamente
competitiva. Seria esse, portanto, o
limite máximo de desvalorização.
Com o dólar perto de R$ 2,00, como sexta-feira, está claro o que os
economistas chamam de "overshooting" (chutar para cima, na tradução mais adequada).
O problema é que, mesmo que
haja recuo, dificilmente o dólar ficará em um suposto ponto de
equilíbrio.
Alain Belda, brasileiro que preside a multinacional norte-americana Alcoa, calculava em entre 10% e
15% a desvalorização necessária.
Agora, diz que dificilmente ela acabará sendo inferior a 30%. Conseqüência inevitável, também consensual entre economistas: continuará havendo muito "nervosismo", afirma Fred Bergsten.
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