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O caso SDE vs Vale
O caso SDE (Secretaria de Direito Econômico) versus
Companhia Vale do Rio Doce vai
ser o regalo dos especialistas de direito econômico.
A Vale é a maior mineradora do
mundo. Até alguns anos atrás,
controlava o sistema norte de mineração, por meio de Carajás. No
sistema sul, tinha dois competidores, a Caemi (da Minerações Brasileiras Reunidas) e a Serteco.
A mineração depende pesadamente de logística. A Vale controla
a Vitória-Minas, os concorrentes,
a MRS. Ao adquiri-los, a Vale
manteve o controle total da Vitória-Minas e ficou com 10% da
MRS.
Estando em uma situação de
monopólio de fato, a empresa
acertou um acordo com o Ministério da Fazenda -ainda no governo FHC-, pelo qual se dispunha
a balizar os preços internos pelos
preços internacionais (descontado
o frete) e a facultar a ferrovia para
outros usuários. Nesse modelo, segundo a Vale, o minério para a
Usiminas sairia a 65% do preço
pago por seus competidores internacionais.
O SDE admite que o acordo foi
cumprido religiosamente pela Vale. Onde o problema, então?
O primeiro é na linha ferroviária. Em todo lugar, as ferrovias começaram como centro de custos
de seus acionistas, diz Daniel
Goldberg, do SDE. Sócio da Vale,
na MRS, a CSN está querendo expandir a ferrovia, para ligar sua
mina com o parque industrial do
Nordeste. A Vale tem se recusado
a aprovar o investimento, sustentando que não quer se financiar
via frete. Ou seja, não quer financiar a expansão da ferrovia com
pagamento a maior de frete. O
SDE sustenta que essa posição esconderia propósitos monopolistas,
de impedir a MRS de se expandir e
competir com a Vitória-Minas.
O segundo ponto é o acordo de
acionistas com a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), assinado no processo de descruzamento de ações entre elas, pelo
qual a CSN precisa consultar previamente a Vale sempre que quiser vender o excedente de sua produção de minério.
A posição da Vale é que, sem o
acordo, ficaria enfraquecida nas
negociações internacionais. A posição do SDE é que a produção é
pequena, para interferir nas cotações. E que, antes de a Vale adquirir os competidores, os preços internos eram menores ainda, tendo
ocorrido um realinhamento pelo
alto.
Não é discussão fácil. De um lado, há a importância de não enfraquecer internacionalmente
uma empresa brasileira. Na outra
ponta, a necessidade de impedir o
excesso de poder -não apenas da
Vale, mas das siderúrgicas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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