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LUÍS NASSIF
O poder e o mediador
A propósito da coluna
"Diplomacia paralela e
showbiz", recebo carta do empresário Mário Garnero. Na
coluna, rebati versões sobre
sua suposta influência nos recentes encontros do ministro-chefe da Casa Civil, José
Dirceu, com o primeiro escalão do governo George W.
Bush.
Menciona entrevista à revista "IstoÉ" de 29 de dezembro de 2000 na qual, provocado pelo repórter, Bush, filho, o
elogiou. Também afirma conhecer a atual secretária de
Estado dos EUA, Condoleezza
Rice, há quase 20 anos.
Sustenta que foi ele quem
apresentou a jornalista Lally
Weymouth, correspondente
diplomática sênior do "Washington Post" e da "Newsweek" (e herdeira do grupo),
ao então presidente do PT, José Dirceu. Menciona colunas
minhas sobre ele, em que
menciono sua rede de relações internacionais.
Vamos aos fatos:
Não se coloca em dúvida
que Garnero é dos brasileiros
com maior círculo de relacionamentos internacionais. No
entanto, de todas as informações da coluna, a única possivelmente incorreta é a de que
Garnero não conhecia Condoleezza Rice.
A partir de um elogio arrancado de Bush, filho, não é possível concluir que tenha influência em sua administração. Aliás, o ex-embaixador
nos Estados Unidos Rubens
Barbosa me liga para confirmar que, no seu período em
Washington, era imperceptível a presença de Garnero na
administração Bush, filho.
Seu contato era com o grupo
de Bush, pai, que pouco tem a
ver com o do filho.
Os contatos do governo
Bush, filho, com o governo
Luiz Inácio Lula da Silva foram conduzidos pelo Departamento de Estado e por outros canais paralelos, sem a
participação de Garnero.
A partir desses contatos do
Departamento de Estado,
Lally conheceu Lula e José
Dirceu em fins de 2002, na sede do PT na Vila Clementina.
Aprofundou o relacionamento em um almoço no Barbacoa, em São Paulo, e no La
Vecchia, em Brasília. Sem
Garnero.
A viagem de Dirceu aos Estados Unidos teve um componente social e outro diplomático. Garnero se incumbiu brilhantemente da parte social.
Na diplomática, não houve o
seu "dedo" nem na conversa
com Condoleezza Rice, conforme sustentou à "Veja",
nem no jantar de Lally em
Washington. Tudo foi acertado pelo Departamento de Estado.
Na política, há as fontes de
poder e os mediadores. A fonte de poder é o Estado brasileiro, no episódio em questão
representado pela Casa Civil.
A serviço dele, estavam na comitiva três dos mais brilhantes diplomatas brasileiros
-Ronaldo Sardenberg, Roberto Abdnur e Américo Fontenelle, como funcionários do
Estado brasileiro. Não tem
cabimento supor a necessidade do "dedo" de um mediador
socialmente bem relacionado.
Não se tire de Garnero o mérito de seus relacionamentos
sociais, de sua capacidade de
juntar a fina flor do capitalismo internacional em seus
eventos. Mas, quando ciceroneia a Citic chinesa para conversar com o governo brasileiro, não é por ter acesso aos
chineses. É por ter acesso ao
governo brasileiro. É uma
grande diferença.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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