São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

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Indústria pode não suprir demanda, diz FGV

Segundo a instituição, sondagem aponta para uma expansão "insustentável" no setor, em descompasso com a alta do consumo

Para a FGV, investimento das empresas não deverá surtir efeito imediato para atender crescimento da economia na casa dos 5%

DEISE DE OLIVEIRA
DA FOLHA ONLINE

A indústria voltou a dar sinais de reaquecimento em março e acendeu a "luz amarela" quanto à capacidade do setor de acompanhar a expansão da demanda no país. Segundo divulgou a FGV (Fundação Getulio Vargas) ontem, a indústria retomou os patamares de crescimento do segundo semestre de 2007, que apontam para uma taxa "insustentável", segundo a FGV, de 6% ao ano.
A instituição divulgou que o ICI (Índice de Confiança da Indústria) apontou alta de 5,8% do otimismo do empresariado, ao passar de 114,7 para 121,4 pontos. Já o Nuci (Nível de Utilização de Capacidade Instalada), indicador que mede o uso de máquinas e equipamentos das indústrias, atingiu 85,2% em março, após 84,7% em fevereiro e quatro meses em queda.
Segundo Aloísio Campelo Júnior, coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV, há uma disparidade entre a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo) e as perspectivas de alta da produção.
"Há sinais de que, se conseguirmos ampliar a taxa de formação de capital fixo para 21% do PIB, podemos falar em expansão de 5% [da indústria]. [...] Mas a taxa não vai chegar a 19% neste ano. Estamos em uma fase favorável, mas não preparados para crescer 5%", avaliou. Em 2007, a taxa de investimento ficou em 17,6% do PIB (Produto Interno Bruto). A FGV trabalha com crescimento potencial do PIB entre 4% e 4,5%, e da indústria, de 5%.
Ainda que os dados da Sondagem Industrial "não sejam explosivos", Campelo considera a necessidade de um "ajuste fino" pelo governo para conter a alta do consumo caso o ritmo de expansão de mantenha.
"A indústria passa por um repique. Há variáveis, como a demanda interna e externa e o emprego, que apontam atividade intensa, próxima ao que vigorou no final do ano passado. [...] Mantido esse ritmo de atividade, que a sondagem sinaliza, é possível haver descasamento entre a oferta e a demanda, não tão pontual [mais generalizado entre os segmentos], e se faria necessária alguma medida para conter o consumo", diz Campelo. Ele sugere o aperto fiscal -nos gastos do governo- como a melhor ferramenta para conter o consumo sem precisar aumentar a taxa básica de juros, a Selic.
Segundo análise do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) sobre um possível aumento da taxa de juros para frear o consumo e conseqüentemente, a inflação -como sinalizou o Banco Central no último Relatório de Inflação, divulgado na semana passada-, "as informações mostram que, após quase um ano de contínua elevação, a utilização de capacidade instalada deixou de aumentar".
Para o instituto, a elevação apontada pela FGV em março "provavelmente não corresponde a um aumento efetivo". Para o Iedi, a indústria se mostra capaz de satisfazer à demanda, já que dispõe de uma folga média entre 17% e 15% do total da capacidade.
Segundo a FGV, no entanto, a demanda por produtos industriais mantém-se aquecida. A proporção de empresas que avaliam o nível atual de demanda como forte subiu de 27%, em março de 2007, para 31%; a parcela das que o avaliam como fraco recuou de 10% para 7%.
Sobre mão-de-obra, 37% das 1.068 indústrias prevêem aumento do contingente nos próximos três meses, e 16%, queda -contra 25% e 14%, respectivamente, em março de 2007.


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