São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Porta-voz do Fundo diz que Argentina deve cumprir exigências para negociar novo empréstimo

Acordo com o FMI deve demorar ainda mais

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O FMI já não dá como certo o envio de uma missão negociadora para a Argentina no mês de maio, como havia previsto a diretoria da instituição e esperava o presidente Eduardo Duhalde.
"Não posso dizer que uma missão negociadora irá em maio, mas ainda é possível", disse ontem o porta-voz do Fundo, Tomas Dawson. "Podem viajar uma ou duas missões técnicas e, depois, uma missão negociadora. Não há como fazer uma previsão porque isso depende do progresso que eles farão", afirmou Dawson, referindo-se ao cumprimento das condições para que a Argentina volte a receber empréstimos do FMI.
Dawson negou ter havido uma alteração oficial do calendário devido à renúncia do ex-ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov. A Argentina parou de receber ajuda do Fundo em novembro passado. Em dezembro, abandonou seu regime de conversibilidade, deu um calote em sua dívida externa e desde então vive a pior crises econômica da sua história. Agora, o país depende do envio de uma missão negociadora para fechar um novo programa e receber novos empréstimos. O Fundo oferece o envio de missões técnicas, mas resiste a dar início às conversas oficiais.
Dawson afirmou que o Fundo ficou "encorajado" com o plano de 14 pontos que o presidente Eduardo Duhalde e os governadores das Províncias do país assinaram na semana passada. Mas negou que o FMI esteja preparando um empréstimo de urgência para a Argentina só para permitir ao país repagar a parcela de suas dívidas que vence em maio com o próprio Fundo (US$ 400 milhões) e com o Banco Mundial (US$ 800 milhões). "O ponto número um do plano de 14 pontos diz que os acordos com credores multilaterais serão honrados...Acreditamos na palavra deles."
A Argentina deve ao FMI US$ 15,15 bilhões, sendo que US$ 4,8 bilhões vencem em 2002.
O porta-voz disse também que a economia do país ainda está "volátil", que há "grandes riscos" e desaconselhou o governo a intervir no câmbio para conter o valor do peso. "A melhor maneira de evitar a desvalorização excessiva do peso não é intervir, mas avançar no processo de reformas."
Dawson informou que o novo ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, conversou "longamente" na segunda-feira com a vice-diretora gerente do Fundo, Anne Krueger. Segundo Dawson, Krueger transmitiu a Lavagna o "forte compromisso" do Fundo em ajudar o governo da Argentina a transformar suas intenções "num programa econômico coerente e sustentável".
O porta-voz deixou claro, no entanto, que "a ação está no lado da Argentina", sugerindo que a instituição não formalizará um novo programa enquanto o país não cumprir as exigências feitas pelo Fundo. "Presumindo que haverá progresso na efetivação de elementos chaves do programa, uma missão plena (do Fundo) retornará a Buenos Aires para continuar as negociações."

Dólar calmo
O dólar encerrou novamente em baixa em um dia de negócios calmos no mercado argentino. A queda de 0,65% fez a moeda norte-americana encerrar vendida a 3,05 pesos. O Banco Central argentino não teve de intervir para evitar a temida escalada no preço da moeda dos EUA. Analistas do mercado financeiro dizem acreditar que o dólar deve permanecer sem maiores pressões nos próximos dias. Na semana, a baixa acumulada do dólar é de 7%.
Já as taxas de juros interbancárias subiram em um mercado com poucos negócios fechados e encerraram o dia a 140% anuais. Quando a crise no sistema financeiro argentino se agravou no fim de novembro, as mesmas taxas superaram os 1.000% ao ano.
A balança comercial encerrou o mês de março com um resultado positivo de US$ 1,48 bilhão. A queda das importações, prejudicadas pela alta do dólar, foi fundamental para o saldo positivo.



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