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SAIA JUSTA
Núcleo para Gushiken causa desconforto
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
A criação do Núcleo de Assuntos Estratégicos, órgão ligado à
Presidência da República encarregado de formular um plano de
desenvolvimento para o país,
criou uma saia justa entre os ministros Luiz Fernando Furlan
(Desenvolvimento) e Luiz Gushiken (Comunicação). O núcleo será coordenado por Gushiken.
No domingo passado, Gushiken telefonou para Furlan para
reparar o que ele chamou de
"mal-entendido". Gushiken explicou que o núcleo não se encarregará de propor uma política industrial, mas de subsidiar o presidente nas decisões estratégicas
para o desenvolvimento do país.
Segundo Furlan, a criação do
núcleo é uma decisão de Lula e
que não tem o que se opor a isso.
"Não há conflito de interesses."
Furlan disse que seu ministério
se encarregará do curto e médio
prazos e que o núcleo irá pensar o
longo prazo. Ele disse que ontem
conversou bastante com o presidente Lula sobre o tema.
A Folha apurou, no entanto,
que Furlan manifestou a algumas
pessoas próximas um certo desconforto com a criação do núcleo.
A idéia inicial era que o vice-presidente, José Alencar, se encarregasse de cuidar do núcleo estratégico, mas ele não quis. Lula escolheu Gushiken para a coordenação do núcleo.
O Núcleo de Assuntos Estratégicos terá como principal objetivo
o de prospectar investimentos em
produtos e serviços que sejam de
alto valor agregado para o país. O
núcleo identificará a potencialidade dos investimentos e formulará propostas diretamente ao
presidente da República.
Uma das peças-chave do núcleo
será o empresário Eugênio Staub,
presidente da Gradiente, que chegou a ser convidado para o ministério ocupado por Furlan.
Staub atuará como uma espécie
de interlocutor da iniciativa privada no núcleo. Ele irá reunir um
grupo de cerca de 30 empresários
para formular uma ampla proposta de desenvolvimento para o
país. O objetivo do núcleo é ambicioso. A pretensão é que ele tenha
papel comparável ao do Plano de
Metas de Juscelino Kubitschek.
Não é a primeira vez que Furlan
se vê numa saia justa no governo
Lula. A primeira foi, ainda no final de 2002, quando Carlos Lessa
foi convidado por Lula para presidir o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), que é subordinado ao Ministério do Desenvolvimento.
Furlan queria dividir o BNDES
para criar uma área voltada à exportação, mas Lessa vetou a idéia.
Furlan recuou e os dois chegaram
a um entendimento. "Meu entendimento com o Lessa é muito
bom, conversamos todas as semanas, só não vamos ficar irradiando isso", disse o ministro.
Furlan afirmou que se sente
muito à vontade no ministério,
principalmente com o desempenho das exportações no início
deste ano. Nos primeiros quatro
meses, as exportações tiveram
crescimento de US$ 4 bilhões -a
metade da meta de expansão das
vendas externas para este ano. O
superávit comercial foi de US$ 5,5
bilhões. "Não dá para ficar animado com um resultado desses?"
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