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TRABALHO
Divergências dentro da CUT, que ajudou a eleger Lula, podem levar a ala de esquerda a criar uma nova central
Força faz evento; CUT pulveriza 1º de Maio
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Força Sindical e CUT escolheram estratégias distintas para comemorar o primeiro Dia do Trabalho sob a presidência de Luiz
Inácio Lula da Silva.
A Força Sindical quer atrair
mais de 1 milhão de pessoas na
festa que promove na praça Campo de Bagatelle (zona norte de São
Paulo). Haverá shows e sorteios
de apartamentos, carros e motos.
"Já avisamos ao Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda] que vamos bater duro na
política econômica do governo.
Nosso lema é 'Mais emprego,
mais salário'", diz o presidente da
Força, Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho. "Se for preciso, vamos
fazer mais greves para que o trabalhador possa recuperar em seu
bolso as perdas da inflação."
A central estima gastar R$ 2,2
milhões na programação da festa
do 1º de Maio, bancada por empresas que compram cotas de patrocínio e por sindicatos filiados.
A CUT espera reunir cerca de
300 mil pessoas em seus eventos,
que, juntos, custaram cerca de R$
250 mil e foram patrocinados por
sindicatos e sedes regionais.
Na Confederação Geral dos Trabalhadores, não haverá comemoração. "Com o achatamento dos
salários e 1,8 milhão de desempregados em São Paulo, não há motivos para festa", diz Washigton
Santos, diretor da central.
Os sindicalistas da CBTE (Central Brasileira dos Trabalhadores
e Empreendedores) vão fazer ato
no interior de São Paulo contra o
desemprego no campo. "Só na região de Araçatuba 20 mil empregos podem ser extintos com a lei
aprovada em 2002 de mecanização no setor rural", afirma o presidente da central, José Avelino
Pereira, o Chinelo. Na SDS (Social
Democracia Sindical), as comemorações ocorrerão na quadra da
Escola de Samba Unidos de Vila
Maria (zona norte de São Paulo).
Desemprego
O presidente Lula sugeriu publicamente um ato único das centrais para poder participar do
evento, mas os sindicalistas negaram que ele tenha feito a proposta
de forma oficial.
De qualquer forma, a comemoração vai passar longe do que esperava o presidente Lula. Desemprego recorde, greves por reposição da inflação nos salários e divergências dentro da CUT -a
central que ajudou a eleger o governo petista- podem trazer
tensão ao governo.
Divergências entre sindicalistas
da CUT chegaram a tal ponto que
dirigentes ligados às correntes de
esquerda da central cogitam a formação de uma nova central.
Embora essas correntes representem apenas cerca de 7% dos
delegados que vão eleger no próximo mês o novo comando da
central, elas incomoda cada vez
mais. Os dirigentes ligados à Articulação Sindical, corrente majoritária na CUT, tem posição mais
alinhada à política econômica do
governo. Para a ala de esquerda, é
preciso ter mais independência.
A disputa se acirrou nos últimos
15 dias, quando os metalúrgicos
de São José dos Campos (ligados
ao PSTU) paralisaram as atividades na GM (General Motors) para
pedir reposição e gatilho salarial.
"Enquanto saíamos em busca de
perdas, a Federação dos Metalúrgicos da CUT [que representa 250
mil trabalhadores paulistas" assinava um acordo que previa pagamento de abono salarial para não
alimentar a inflação como recomenda o governo", diz José Maria
de Almeida, da direção nacional
da CUT e presidente do PSTU.
"Não vamos aceitar a subordinação da central ao governo."
Anselmo Luis dos Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho
da Unicamp, diz que o cenário
político e econômico provocou
ainda mais tensão entre as correntes internas na CUT. É no 8º
Congresso Nacional da central,
que acontece em junho, diz o economista do PT, que deverá ficar
ainda mais clara essa disputa.
A idéia é dar mais um mês de
prazo ao governo Lula para que
mostre sua linha de atuação. Até
agora entendem que a política
econômica dá continuidade à de
Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo tucano.
"O problema não é rachar ou
não a estrutura da central. A CUT
não tem chefe nem dono. As divergências vão ser levadas para a
rua, seja no debate do desemprego, na busca pela reposição salarial ou nas discussões sobre a reforma da Previdência", diz Dirceu
Travesso, da direção da CUT e ligado à corrente MTS (Movimento por uma Tendência Socialista).
As diferenças estão impressas
até nos slogans das manifestações. Enquanto a CUT optou por
manifestações modestas em nove
pontos da periferia da Grande São
Paulo, com o tema "Agora é Participar", a esquerda da central pede
"Desemprego Zero" em manifestação e passeata que acontecem
na região central de São Paulo e
no interior do Estado. Para o presidente da central, João Felício, o
slogan escolhido pelo grupo de
esquerda da CUT é uma forma de
desqualificar o programa Fome
Zero do governo federal.
Sobre as divergências na central, Felício afirma que a CUT não
está rachada nem corre o risco de
se desmembrar pelo fato de seus
dirigentes ter posições políticas
divergentes em alguns temas.
"Não vamos assumir uma posição de quem só quer bater ou
concordar com governo. Vamos
ser duros com a reforma da Previdência. Não concordamos com a
taxação dos inativos", diz.
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