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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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TRABALHO

Divergências dentro da CUT, que ajudou a eleger Lula, podem levar a ala de esquerda a criar uma nova central

Força faz evento; CUT pulveriza 1º de Maio

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Força Sindical e CUT escolheram estratégias distintas para comemorar o primeiro Dia do Trabalho sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.
A Força Sindical quer atrair mais de 1 milhão de pessoas na festa que promove na praça Campo de Bagatelle (zona norte de São Paulo). Haverá shows e sorteios de apartamentos, carros e motos.
"Já avisamos ao Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda] que vamos bater duro na política econômica do governo. Nosso lema é 'Mais emprego, mais salário'", diz o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. "Se for preciso, vamos fazer mais greves para que o trabalhador possa recuperar em seu bolso as perdas da inflação."
A central estima gastar R$ 2,2 milhões na programação da festa do 1º de Maio, bancada por empresas que compram cotas de patrocínio e por sindicatos filiados.
A CUT espera reunir cerca de 300 mil pessoas em seus eventos, que, juntos, custaram cerca de R$ 250 mil e foram patrocinados por sindicatos e sedes regionais.
Na Confederação Geral dos Trabalhadores, não haverá comemoração. "Com o achatamento dos salários e 1,8 milhão de desempregados em São Paulo, não há motivos para festa", diz Washigton Santos, diretor da central.
Os sindicalistas da CBTE (Central Brasileira dos Trabalhadores e Empreendedores) vão fazer ato no interior de São Paulo contra o desemprego no campo. "Só na região de Araçatuba 20 mil empregos podem ser extintos com a lei aprovada em 2002 de mecanização no setor rural", afirma o presidente da central, José Avelino Pereira, o Chinelo. Na SDS (Social Democracia Sindical), as comemorações ocorrerão na quadra da Escola de Samba Unidos de Vila Maria (zona norte de São Paulo).

Desemprego
O presidente Lula sugeriu publicamente um ato único das centrais para poder participar do evento, mas os sindicalistas negaram que ele tenha feito a proposta de forma oficial.
De qualquer forma, a comemoração vai passar longe do que esperava o presidente Lula. Desemprego recorde, greves por reposição da inflação nos salários e divergências dentro da CUT -a central que ajudou a eleger o governo petista- podem trazer tensão ao governo.
Divergências entre sindicalistas da CUT chegaram a tal ponto que dirigentes ligados às correntes de esquerda da central cogitam a formação de uma nova central.
Embora essas correntes representem apenas cerca de 7% dos delegados que vão eleger no próximo mês o novo comando da central, elas incomoda cada vez mais. Os dirigentes ligados à Articulação Sindical, corrente majoritária na CUT, tem posição mais alinhada à política econômica do governo. Para a ala de esquerda, é preciso ter mais independência.
A disputa se acirrou nos últimos 15 dias, quando os metalúrgicos de São José dos Campos (ligados ao PSTU) paralisaram as atividades na GM (General Motors) para pedir reposição e gatilho salarial. "Enquanto saíamos em busca de perdas, a Federação dos Metalúrgicos da CUT [que representa 250 mil trabalhadores paulistas" assinava um acordo que previa pagamento de abono salarial para não alimentar a inflação como recomenda o governo", diz José Maria de Almeida, da direção nacional da CUT e presidente do PSTU. "Não vamos aceitar a subordinação da central ao governo."
Anselmo Luis dos Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, diz que o cenário político e econômico provocou ainda mais tensão entre as correntes internas na CUT. É no 8º Congresso Nacional da central, que acontece em junho, diz o economista do PT, que deverá ficar ainda mais clara essa disputa.
A idéia é dar mais um mês de prazo ao governo Lula para que mostre sua linha de atuação. Até agora entendem que a política econômica dá continuidade à de Pedro Malan, ministro da Fazenda do governo tucano.
"O problema não é rachar ou não a estrutura da central. A CUT não tem chefe nem dono. As divergências vão ser levadas para a rua, seja no debate do desemprego, na busca pela reposição salarial ou nas discussões sobre a reforma da Previdência", diz Dirceu Travesso, da direção da CUT e ligado à corrente MTS (Movimento por uma Tendência Socialista).
As diferenças estão impressas até nos slogans das manifestações. Enquanto a CUT optou por manifestações modestas em nove pontos da periferia da Grande São Paulo, com o tema "Agora é Participar", a esquerda da central pede "Desemprego Zero" em manifestação e passeata que acontecem na região central de São Paulo e no interior do Estado. Para o presidente da central, João Felício, o slogan escolhido pelo grupo de esquerda da CUT é uma forma de desqualificar o programa Fome Zero do governo federal.
Sobre as divergências na central, Felício afirma que a CUT não está rachada nem corre o risco de se desmembrar pelo fato de seus dirigentes ter posições políticas divergentes em alguns temas. "Não vamos assumir uma posição de quem só quer bater ou concordar com governo. Vamos ser duros com a reforma da Previdência. Não concordamos com a taxação dos inativos", diz.


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