São Paulo, sexta-feira, 01 de maio de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Crise com gripe: o caso do México



Antes da dita epidemia, previsão para o PIB era de queda entre 3,3% e 5%, pois contágio americano foi forte


NA ECONOMIA da gripe, nada de relevante há para dizer além de lamentar os infortúnios do México. Para o mundo, o cálculo das probabilidades ainda é uma pilhéria, apesar de bancões rodarem projeções com bases nas epidemias mundiais dos anos 1950 e 1960.
Faz pouco mais de uma década, o Brasil era muito suscetível às desventuras do México, que por quase 70 anos do século 20 costumava ser o primeiro da classe latino-americana em novidades e fracassos econômicos, muitos deles logo a seguir experimentados por aqui. Depois dos anos 1990, não mais.
Mas o caso do México nos interessa por contraste, embora ainda soframos dos mesmos problemas de miséria muito mal e mal remediada e da endêmica violência do tráfico.
O México se integrou de modo subalterno à economia americana, o que muito economista tucano defendia que fizéssemos (assim como queriam que imitássemos a Argentina na quase adoção do dólar como moeda). Desde a integração com os Estados Unidos, em 1994, o México cresceu ainda menos do que nós.
Cerca de 80% das exportações de bens mexicanos vão para os EUA. A segunda maior receita "externa" do país são as remessas de trabalhadores emigrados, a maioria deles nos EUA, muitos na arruinada construção civil do vizinho do norte. Trata-se de 2% do PIB. Sem tais remessas, o déficit externo mexicano (em conta corrente) teria mais que dobrado em 2008. A terceira maior receita "externa" é o turismo, pouco mais de 1% do PIB. Caso a epidemia de gripe venha a atingir de fato a um nível parecido com o da histeria atual, o México terá problemas ruins.
Obviamente o problema não será apenas o turismo, nem o México está à beira de um colapso cambial. O país ainda tem US$ 78 bilhões de reservas em moedas fortes e uma linha de empréstimo de US$ 47 bilhões do FMI, equivalente a mais de dois anos do déficit em conta corrente de 2008 (US$ 16 bilhões, para um PIB de US$ 1 trilhão). Suas contas públicas estão em ordem, ao menos em termos quantitativos.
Mas uma epidemia de verdade vai desorganizar o cotidiano produtivo, bater forte na confiança econômica e, claro, lascar um pouco mais das receitas de exportação e de turismo. De hoje até terça-feira, pelo menos, a pedidos do governo estarão fechados comércios e repartições públicas, excetuados supermercados, farmácias, hospitais e polícia.
O PIB do México deve encolher 3,3%, segundo a média das estimativas recolhidas pelo banco central do México em março, publicada em abril. Bancões americanos preveem queda entre 4% e 5% -sem epidemia de gripe. A previsão do FMI é de queda de 4,4% (para o Brasil, o Fundo prevê -1,3%). A produção industrial, avariada pela queda de exportações de carros para os EUA, caiu no primeiro bimestre a um ritmo quase igual à da brasileira (uns 15% lá, uns 17% cá). As exportações caíram 25% sobre março de 2008, afetadas pelo colapso do petróleo.
Também no México brotava em março a sensação de que "a economia passou a piorar mais devagar", com a confiança de consumidores e empresários ainda em território negativo, mas melhorando um tico. Mas a confiança pegou resfriado. Uma gripe vai ser de arrasar.

vinit@uol.com.br


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