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Teste do pré-sal começa em meio a frustração
Extração no Campo de Tupi é nublada pela crise e pelo atraso na elaboração de um novo marco regulatório para o setor
Mau tempo impede evento hoje em alto-mar; comissão interministerial que deverá definir regras do setor não se reúne há três meses
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
O governou chegou ao dia do
teste inaugural de produção no
pré-sal na bacia de Santos em
meio a um clima de frustração:
não só o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não participará de
evento na plataforma, como
inicialmente previsto, como sequer há novo marco regulatório
do setor para ser anunciado.
O governo tinha expectativa
de fazer dos testes iniciais de
produção do campo de Tupi,
marcados para hoje, potenciais
dividendos políticos. Por questões meteorológicas e de segurança, houve cancelamento da
cerimônia em alto-mar com a
participação do presidente. Por
causa do mau tempo, o evento
acontecerá em terra, no Rio.
Segundo a Folha apurou, inicialmente Lula queria realizar
a cerimônia em março, mas a
Petrobras pediu que fosse adiada para maio, por questões
operacionais e de cronograma.
Batido o martelo em relação
ao mês do evento, o Planalto
optou pelo dia 1º, dia do Trabalho, para dar um maior simbolismo à operação.
Na tarde de quarta, após reunião com Lula no Planalto, o
ministro Edison Lobão (Minas
e Energia) disse que o presidente estava "absolutamente
frustrado" com o cancelamento. "O presidente lastimou
muito que, por determinação
da segurança, o que é normal,
ele não possa ir. O desejo dele
era de ir de qualquer maneira."
Não é só o evento de hoje que
foge ao previsto pelo governo.
A comissão interministerial
que deveria chegar a uma conclusão sobre as regras para exploração de petróleo e gás no
pré-sal não se reúne há mais de
três meses. Desde sua criação,
em julho de 2008, foram dez
encontros, o último em 27 de
janeiro. A partir daí, o governo
vem alegando desencontro de
agendas, ausência de ministros, entre outros fatores, para
não se reunir. Em tese, a comissão deveria ter entregue
uma sugestão de mudança ao
presidente em setembro.
Regras até final de junho
Agora, a previsão é que as novas regras sejam definidas até o
final do próximo mês, sem o
risco de serem atropeladas pela
agenda eleitoral de 2010, segundo os ministros Dilma
Rousseff (Casa Civil) e Edison
Lobão (Minas e Energia). Os
dois dizem, porém, que não há
uma decisão final sobre o regime de concessão de áreas nem
confirmaram a eventual preferência do governo pelo sistema
de partilha de produção.
"Vamos resolver tudo isso
neste ano até o final do primeiro semestre, como é recomendação expressa do presidente
da República", disse Lobão.
Para a ministra, "esse horizonte até o final do primeiro semestre de 2009 é bastante razoável" e não cria "nenhum
problema" à discussão a respeito do processo eleitoral.
Dilma disse que todos os estudos técnicos estão concluídos, mas que o governo não fechou questão ainda sobre o novo regime de exploração no
pré-sal. "Não podemos fazer
especulação aqui sobre algo
que o governo não tomou uma
posição definitiva."
Segundo ela, "não foi construído um consenso" dentro do
governo, mas isso ocorrerá "o
mais rápido possível" para
atender a uma determinação
do presidente Lula, que tem
"pressa" de ver o novo marco
regulatório aprovado. Já estão
concluídos estudos na área jurídica sobre a eventual necessidade de unificar as diversas
descobertas -em um ou mais
campos-, e sobre hipóteses de
regime de concessão.
Empolgação inicial
No ano passado, no auge da
empolgação do governo com o
assunto, a comissão interministerial chegou a se reunir cinco vezes em um mesmo mês
(agosto). Agora, o assunto ganhou um ritmo bem mais lento.
Alguns fatores ajudam a explicar a falta de entusiasmo do
governo. Desde a criação do
grupo até hoje, o petróleo já
perdeu mais da metade do seu
valor. Além disso, houve o estouro da crise financeira internacional, que tornou mais difícil o acesso a financiamentos.
Nessas condições, o pré-sal torna-se menos atrativo.
A tendência, já anunciada pelo governo diversas vezes, é a
adoção do modelo de partilha
de produção. No modelo atual,
de concessão, o óleo extraído
pertence à empresa que venceu
a licitação para explorar o campo. Nesse sistema, o governo é
remunerado por meio de impostos.
(HUMBERTO MEDINA, LETÍCIA SANDER E PEDRO SOARES)
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