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Retração na economia eleva o endividamento do país
Perspectiva de queda na atividade aumenta relação dívida/PIB em 0,6 ponto percentual
Ainda com a Petrobras no cálculo, aperto fiscal no setor
público cai 51% no primeiro
trimestre e não é suficiente
para o pagamento dos juros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A desaceleração da economia
provocou uma deterioração em
um dos indicadores mais importantes do endividamento do
setor público, a relação entre a
dívida e o PIB (Produto Interno
Bruto). No primeiro trimestre,
segundo o Banco Central, essa
proporção se elevou em 0,6
ponto percentual -o equivalente a R$ 18 bilhões- só por
conta da estimativa de retração
na economia e, no final de março, estava em 37,6%.
Os números oficiais do PIB
neste início de 2009 só devem
ser divulgados no começo de
junho, mas, segundo projeções
feitas por analistas do mercado
financeiro, a economia brasileira deve ter encolhido 1,6% no
primeiro trimestre ante os primeiros três meses de 2008.
Com um PIB menor, a relação entre dívida e PIB sobe. Em
março, o endividamento sob
responsabilidade do setor público (governo federal, Estados,
municípios e estatais) somava
R$ 1,098 trilhão, um aumento
de R$ 28,478 bilhões desde o
começo do ano. O PIB estimado
pelo BC, por sua vez, caiu R$
47,979 bilhões no mesmo período. Como resultado, a razão
entre os dois passou de 36% para 37,6% -somados aí outros
fatores, como a alta do real.
A comparação entre dívida e
PIB é vista como importante
porque ajuda a indicar a capacidade que o setor público tem
para pagar em dia seus compromissos. Em tese, quanto maior
o PIB, mais facilidade o governo tem para arrecadar os recursos necessários para quitar
seus débitos.
Mesmo com essa alta, porém,
o indicador está longe dos níveis recordes observados há alguns anos. Em 2002, a relação
dívida/PIB chegou a 56%.
Para o economista Fabio
Kanczuk, professor da USP, a
queda no endividamento nos
últimos anos é, justamente, o
que deve proteger o equilíbrio
fiscal dos efeitos da atual crise.
"Vão ter que fazer muita barbeiragem por muito tempo para piorar essa situação."
Kanczuk afirma que nem
mesmo a redução da meta para
o superávit primário -economia para o pagamento de juros
da dívida pública- deve causar
preocupações, embora ele diga
duvidar da eficácia da medida
para estimular o crescimento
da economia.
Superávit e Petrobras
Originalmente, o governo tinha como objetivo fazer o setor
público economizar o equivalente a 3,8% do PIB neste ano e
usar os recursos para pagar juros. No mês passado, essa meta
foi reduzida para 2,5%, e parte
dessa mudança se deveu à exclusão da Petrobras dessas estatísticas fiscais, dando mais liberdade à estatal para aumentar seus investimentos.
Como essa alteração ainda
depende de aprovação do Congresso, os dados calculados pelo BC ainda seguem a metodologia antiga -incluindo a Petrobras. Por esse método, o superávit primário do setor público em março chegou a R$ 11,614
bilhões, e o resultado no primeiro trimestre foi de R$
20,909 bilhões, queda de 51%
ante o mesmo período de 2008.
O valor foi suficiente para
abater apenas uma parte dos
R$ 38,721 bilhões em juros que
incidiram sobre a dívida pública. A diferença (déficit nominal) foi de R$ 17,812 bilhões.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, classificou o resultado de
positivo. "Um resultado nominal desses é muito pequeno em
relação ao que se observa no
resto do mundo."
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