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LUÍS NASSIF
Idéias para o segundo mandato
É possível pensar o futuro, em
meio ao vendaval político que
assola o país? Intelectual de respeito, especializado em história
do Brasil, especialmente no período Kubitschek, o ministro da
Produção, Celso Lafer, aposta
que sim.
Em uma análise recoberta de
paralelos históricos, ele julga
que FHC poderá cumprir dois
papéis simultâneos com seus
dois mandatos -o de Campos
Salles, que alcançou a estabilização, e o de Rodrigues Alves,
que promoveu o desenvolvimento-, com os instrumentos
utilizados por um terceiro presidente, o próprio Juscelino.
Do ponto de vista conceitual,
os paralelos são interessantes.
Sem estabilização econômica é
impossível o desenvolvimento,
porque os agentes econômicos
estão mais preocupados em preservar seus ativos. Conquistada
a estabilização, o segundo
mandato terá que ser do desenvolvimento.
Em sua opinião, o país experimentou dois programas bem-sucedidos de estabilização -o
Paeg, de Castelo Branco, e o
Plano Real. E dois bem-sucedidos de desenvolvimento: o Programa de Metas, de JK, e o Segundo Plano Nacional do Desenvolvimento, de Geisel.
O desafio do segundo mandato, segundo Lafer, consistirá em
trabalhar em torno de quatro
metas: continuação da redução
do custo Brasil (com as reformas tributária e administrativa entre outras), redistribuição
regional do desenvolvimento,
integração competitiva com o
mercado industrial e política
industrial, da qual a perna fundamental é a política de comércio exterior.
Brasil em Ação
O instrumento para a consecução desses objetivos é o "Brasil em Ação", no qual Lafer enxerga paralelos importantes
com o Plano de Metas de JK.
O grande sucesso do Plano de
Metas consistiu em trabalhar
conjuntamente o macro e o micro, por meio de projetos herdados da antiga Comissão Mista
Brasil-Estados Unidos, e tocados depois pelo BNDE.
No caso do Plano de Metas, o
grande nome aglutinador foi
Lucas Lopes -pai de Francisco
Lopes, o ex-presidente do Banco
Central-, que conseguiu juntar pessoas como Celso Furtado
a Roberto Campos. O "Brasil
em Ação" também se constitui
de um conjunto de projetos discutidos com os diversos Estados
e com o setor privado. Segue a
mesma lógica de aproximações
sucessivas, por meio de testes
com os próximos setores.
O Brasil em Ação se baseia no
conceito de eixos estruturantes,
com obras de infra-estrutura
visando ligar todos os pontos do
país. O Plano de Metas trabalhava com dois conceitos complementares: os pontos de estrangulamento e os pontos de
geminação (com potencial de
desenvolvimento).
O "Brasil em Ação" trabalha
com ambos. Primeiro, as obras
de infra-estrutura, resolvendo
os pontos de estrangulamento.
Depois, o mapeamento de oportunidades de investimento nessas rotas -a partir de um amplo trabalho tocado há dois
anos pelos Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES)- e que deverá
identificar os pontos de geminação. Outro ponto de geminação são as cadeias produtivas
-o conjunto de empresas que
trabalha em um mesmo ciclo de
produção.
O Plano de Metas foi bem-sucedido porque dispunha de um
sistema de acompanhamento e
implementação, por meio dos
grupos executivos. O Brasil em
Ação dispõe da figura dos gerentes responsáveis por cada
projeto.
O Plano de Metas trabalhava
com repasses do BNDES, conseguidos por meio de um adicional de Imposto de Renda. O
"Brasil em Ação", com investimentos complementares da iniciativa privada.
Nesse contexto, o papel do Ministério da Produção, segundo
Lafer, seria introduzir o elemento micro na análise macroeconômica. Os grandes autores econômicos se preocupam
com os macroequilíbrios
-câmbio, preços etc. Mas tem
que haver a sensibilidade da
macroeconomia, para completar o quadro. Sem essa sensibilidade, os erros de diagnóstico
são freqüentes. Basta ver o que
ocorreu com as discussões sobre
desvalorização cambial e inflação. O economista que mais
soube casar o macro com o micro -Delfim Netto- foi o que
de longe melhor anteviu as consequências da desvalorização.
Os "tempos"
O grande desafio do desenvolvimento, segundo ele, será compatibilizar os diversos "tempos"
que compõem a vida nacional,
de maneira a superar a crise política e completar a travessia.
Há o tempo financeiro, "on line", exigindo respostas imediatas, diz Lafer. Depois, o tempo
da mídia, que se baseia em
eventos, não em processos. Na
seqüência, o tempo econômico,
que tem de respeitar ciclos de
produção. Há o ciclo político,
também de eventos, e com as
características de um presidencialismo forte, dentro de uma
Federação E o tempo diplomático, das grandes negociações
comerciais.
É nos problemas de administração desses "tempos" que se
entende o problema político, no
qual o país está enredado.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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