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País vive sem saída com crises econômica, social e política
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
O que o escritor Marcos Aguinis chama de "terceira geração de
desgraçados" é contemporâneo
de uma desgraça de proporções
consideráveis: a confluência de
três crises, como analisa o consultor Ricardo Rouvier, outro especialista em pesquisas.
Uma crise é econômica, dada
pela "paralisia do setor produtivo
e por uma dívida muito difícil de
pagar".
A segunda é social, refletida nos
16% de desemprego e mais 14%
de subemprego, o que faz com
que 30% da população economicamente ativa esteja "em situação
laboral complicada".
Por fim, há a crise política, com
o racha na base governista e o desprestígio crescente do presidente.
"Parece que não há timoneiro no
barco", diz Rouvier.
Quais as chances de a Argentina
resolver em prazo curto ou médio
cada uma de suas crises? Poucas,
quase nenhuma, a julgar pelo que
a Folha ouviu de especialistas em
Buenos Aires.
Sobre o lado econômico da crise, o resumo mais fiel é de Joaquín
Cottani, economista-chefe da corretora Lehman Brothers para a
América Latina, em artigo para o
jornal "La Nación":
"A Argentina tem uma moeda
sobrevalorizada, mas não pode
desvalorizar. Tem déficit fiscal,
mas não pode reduzir o gasto público. Sofre de depressão econômica, mas não pode aumentar a
quantidade de dinheiro em circulação nem reduzir impostos".
O deputado peronista Jorge
Luis Remes Lenicov e o analista
Rosendo Fraga coincidem em dizer que a eleição de outubro (para
renovar metade da Câmara dos
Deputados e a totalidade do Senado) se dará em condições econômicas difíceis.
Portanto são formidáveis as
chances de uma forte derrota governista, o que só acrescentará
combustível à já crepitante fogueira da crise política.
Não é, obviamente, a melhor
das situações para recriar confiança, que Francisco Panizza
(London School of Economics)
aponta como o fator central para
que dêem certo as medidas que o
ministro de Economia, Domingo
Cavallo, derrama sobre o país
uma atrás da outra.
Que confiança pode haver se os
cálculos de Rosendo Fraga indicam que 55% dos que trabalham
têm um desempregado na família, 40% sustentam economicamente um desempregado e 56%
têm medo de perder o emprego?
"Sem uma mudança dessa situação, é muito difícil que a população se decida a consumir", diz
Rosendo Fraga.
(CR)
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