São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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País vive sem saída com crises econômica, social e política

DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O que o escritor Marcos Aguinis chama de "terceira geração de desgraçados" é contemporâneo de uma desgraça de proporções consideráveis: a confluência de três crises, como analisa o consultor Ricardo Rouvier, outro especialista em pesquisas.
Uma crise é econômica, dada pela "paralisia do setor produtivo e por uma dívida muito difícil de pagar".
A segunda é social, refletida nos 16% de desemprego e mais 14% de subemprego, o que faz com que 30% da população economicamente ativa esteja "em situação laboral complicada".
Por fim, há a crise política, com o racha na base governista e o desprestígio crescente do presidente. "Parece que não há timoneiro no barco", diz Rouvier.
Quais as chances de a Argentina resolver em prazo curto ou médio cada uma de suas crises? Poucas, quase nenhuma, a julgar pelo que a Folha ouviu de especialistas em Buenos Aires.
Sobre o lado econômico da crise, o resumo mais fiel é de Joaquín Cottani, economista-chefe da corretora Lehman Brothers para a América Latina, em artigo para o jornal "La Nación":
"A Argentina tem uma moeda sobrevalorizada, mas não pode desvalorizar. Tem déficit fiscal, mas não pode reduzir o gasto público. Sofre de depressão econômica, mas não pode aumentar a quantidade de dinheiro em circulação nem reduzir impostos".
O deputado peronista Jorge Luis Remes Lenicov e o analista Rosendo Fraga coincidem em dizer que a eleição de outubro (para renovar metade da Câmara dos Deputados e a totalidade do Senado) se dará em condições econômicas difíceis.
Portanto são formidáveis as chances de uma forte derrota governista, o que só acrescentará combustível à já crepitante fogueira da crise política.
Não é, obviamente, a melhor das situações para recriar confiança, que Francisco Panizza (London School of Economics) aponta como o fator central para que dêem certo as medidas que o ministro de Economia, Domingo Cavallo, derrama sobre o país uma atrás da outra.
Que confiança pode haver se os cálculos de Rosendo Fraga indicam que 55% dos que trabalham têm um desempregado na família, 40% sustentam economicamente um desempregado e 56% têm medo de perder o emprego?
"Sem uma mudança dessa situação, é muito difícil que a população se decida a consumir", diz Rosendo Fraga. (CR)



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