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LUÍS NASSIF
O IGP-M e o câmbio
Antes de acabar com a indexação no IGP-M dos
contratos de concessão, vamos
a um pequeno exercício de relações causais para tentar chegar ao foco do problema.
Ponto 1 - O capital externo
pode ser dividido em três grupos: o capital especulativo, o
capital de financiamento de
médio prazo e o capital de investimento. A maior fonte de
lucro do capital especulativo é
a volatilidade cambial; o
maior fator de risco do capital
de investimento é essa mesma
volatilidade cambial. Portanto
são bichos diferentes.
Se o valor do real cai pela metade, o lucro remetido pela
multinacional que tem receita
em reais (ou seja, o capital produtivo) cairá pela metade. O
valor do real no momento do
investimento é de somenos importância. O que importa é saber se aquele valor será mantido ou não.
Ponto 2 - A política econômica implementada pelo governo
FHC valorizou o real, liquidou
com os superávits comerciais e
deixou o país à mercê de capitais especulativos para fechar a
conta. A multinacional olhava
o crescimento da dependência
externa e relutava em investir
no Brasil, com receio de que o
câmbio não se sustentasse. Em
vez de corrigir a vulnerabilidade cambial, o governo criou
uma gambiarra: indexou as tarifas ao IGP-M, o índice que
melhor reflete as desvalorizações do câmbio.
Ponto 3 - A indexação em
IGP-M reduziu (mas não eliminou) o temor das múlti em
investir, mas criou um novo
problema: a indexação da economia, que explodiu agora no
colo do governo Lula. A cada
crise internacional há ataques
especulativos contra o Brasil, o
dólar sai, seu valor explode,
erodindo os lucros do capital
de investimento -e engordando os lucros do capital especulativo. O BC é obrigado a elevar os juros para impedir a inflação. Quando a inflação começa a ceder, a indexação dos
contratos traz a inflação passada para o presente, realimentando a inflação.
Ponto 4 - Agora, se fala em
acabar com a indexação em
IGP-M. Mas o ponto central é
outro. Sem a indexação dos
contratos e sem a garantia de
estabilidade cambial, quem vai
investir em dólares no país? E,
com volatilidade cambial e indexação, quem vai segurar a
inflação?
Repare que todo desajuste da
economia acaba sempre batendo no mesmo ponto: dependência de capital especulativo.
Sem reconstruir a estabilidade
cambial -por meio do aumento do superávit comercial- não haverá como sair
dessa armadilha.
Como constatou o economista Armando Castelar Pinheiro,
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) -no caderno Dinheiro deste domingo-, o período 1994/2002 foi o
que registrou as mais baixas
taxas de investimento de todo
o período analisado pelo órgão. A política atual do BC
-de valorização do real e redução do superávit comercial- fracassou em um período de abundância inédita de
capital financeiro internacional. Como se pretende ainda
acreditar nessa história de que
o capital volátil traz o capital
bom, agora com uma economia internacional em deflação
e sem disponibilidade de investimento no mercado internacional?
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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