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POLÊMICA
Moore diz que Monsanto tem direito de cobrar royalties sobre semente
Ex-Greenpeace defende transgênicos
DA REPORTAGEM LOCAL
Membro-fundador do Greenpeace em 1971, Patrick Moore, 56,
hoje defende o plantio e o consumo de alimentos geneticamente
modificados.
Após deixar o Greenpeace, em
1986, Moore fundou outra ONG,
batizada de Greenspirit. A organização, que também declara defender causas ambientais, funciona
como uma consultoria sobre biotecnologia. A defesa de transgênicos e do uso de energia nuclear estão no rol de temas polêmicos defendidos pela ONG.
Moore não vê incoerência na
atitude. "Defendo a ciência", diz.
A saída do Greenpeace, explica o
cientista canadense, foi motivada
pelo engajamento da ONG em
causas políticas em detrimento da
discussão científica.
Em sua passagem pelo Brasil, há
duas semanas a convite da Farsul
(Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Moore defendeu o uso de transgênicos
pelos agricultores brasileiros, ainda que o governo proíba o plantio
dos organismos geneticamente
modificados na próxima safra.
"Eu acredito que a desobediência
civil é justificada, pois os produtores e suas famílias estão fazendo
algo bom para eles e para o ambiente", diz.
A seguir entrevista concedida à
Folha.
(CÍNTIA CARDOSO)
Folha - O sr. foi um dos fundadores do Greenpeace, mas, após uma
década na instituição, o sr. a deixou em 1986. Quais os motivos?
Patrick Moore - Eu decidi sair para buscar solução em vez de ficar
apenas apontando problemas.
Hoje, o Greenpeace abandonou a
ciência e se engajou numa campanha contra os transgênicos que
não tem lógica nem tolerância.
Com certeza eles sabem que há
pelo menos uma boa invenção no
que diz respeito a produtos geneticamente modificados.
Folha - Durante sua visita ao Brasil [há duas semanas], o sr. defendeu os produtores brasileiros que
pretendem continuar a plantar
transgênicos, ainda que na ilegalidade. Por quê?
Moore - Eu acredito que eles têm
o direito de cultivar esses grãos.
Na minha avaliação, o problema
atual do Brasil é a atuação de segmentos oficiais que estão envolvidos em uma propaganda antitransgênicos. É por isso que nesse
caso eu acredito que a desobediência civil é justificada, pois os
produtores e suas famílias estão
fazendo algo bom para eles e para
o ambiente.
Folha - Mas o principal argumento do Greenpeace é justamente o
de que as plantas geneticamente
modificadas ameaçam a saúde e a
biodiversidade.
Moore - A agricultura em si já é
uma atividade que acaba com a
biodiversidade, já que destrói
áreas de floresta, por exemplo, para o cultivo. É impossível existir
risco zero em qualquer coisa na
vida. Mas não há nenhum problema conhecido e estudado que nos
leve a parar de plantar soja transgênica, por exemplo.
Obviamente há sempre o risco
de algo sair errado, mas isso ocorre em qualquer área da ciência.
Na verdade, há muitos benefícios,
como a redução dos níveis de erosão do solo, diminuição do volume utilizado de defensivos agrícolas, o que é sem dúvida um benefício para os sojicultores. Para usar
um exemplo brasileiro, já temos
milhões de hectares no Sul plantados há pelo menos seis anos e nada de mau aconteceu. Os fazendeiros não continuariam a plantar se fosse prejudicial para eles.
O Greenpeace só quer amedrontar. Por causa dessa histeria,
países da África que sofrem com a
fome não aceitam receber transgênicos.
Folha - Como o sr. avalia o argumento de que a adoção de transgênicos transformaria os produtores
em reféns de multinacionais como
a Monsanto?
Moore - O Brasil tem tecnologia
suficiente para produzir os seus
próprios produtos geneticamente
modificados. O Brasil não pode se
render às pressões e chantagens
de grupos como o Greenpeace.
Além disso, nada obriga os produtores a usarem as sementes
produzidas pela Monsanto. A cobrança de royalties é justa. É um
meio de os produtores custearem
os avanços em biotecnologia.
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