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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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POLÊMICA

Moore diz que Monsanto tem direito de cobrar royalties sobre semente

Ex-Greenpeace defende transgênicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Membro-fundador do Greenpeace em 1971, Patrick Moore, 56, hoje defende o plantio e o consumo de alimentos geneticamente modificados.
Após deixar o Greenpeace, em 1986, Moore fundou outra ONG, batizada de Greenspirit. A organização, que também declara defender causas ambientais, funciona como uma consultoria sobre biotecnologia. A defesa de transgênicos e do uso de energia nuclear estão no rol de temas polêmicos defendidos pela ONG.
Moore não vê incoerência na atitude. "Defendo a ciência", diz. A saída do Greenpeace, explica o cientista canadense, foi motivada pelo engajamento da ONG em causas políticas em detrimento da discussão científica.
Em sua passagem pelo Brasil, há duas semanas a convite da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Moore defendeu o uso de transgênicos pelos agricultores brasileiros, ainda que o governo proíba o plantio dos organismos geneticamente modificados na próxima safra. "Eu acredito que a desobediência civil é justificada, pois os produtores e suas famílias estão fazendo algo bom para eles e para o ambiente", diz.
A seguir entrevista concedida à Folha.
(CÍNTIA CARDOSO)

Folha - O sr. foi um dos fundadores do Greenpeace, mas, após uma década na instituição, o sr. a deixou em 1986. Quais os motivos?
Patrick Moore -
Eu decidi sair para buscar solução em vez de ficar apenas apontando problemas. Hoje, o Greenpeace abandonou a ciência e se engajou numa campanha contra os transgênicos que não tem lógica nem tolerância. Com certeza eles sabem que há pelo menos uma boa invenção no que diz respeito a produtos geneticamente modificados.

Folha - Durante sua visita ao Brasil [há duas semanas], o sr. defendeu os produtores brasileiros que pretendem continuar a plantar transgênicos, ainda que na ilegalidade. Por quê?
Moore -
Eu acredito que eles têm o direito de cultivar esses grãos. Na minha avaliação, o problema atual do Brasil é a atuação de segmentos oficiais que estão envolvidos em uma propaganda antitransgênicos. É por isso que nesse caso eu acredito que a desobediência civil é justificada, pois os produtores e suas famílias estão fazendo algo bom para eles e para o ambiente.

Folha - Mas o principal argumento do Greenpeace é justamente o de que as plantas geneticamente modificadas ameaçam a saúde e a biodiversidade.
Moore -
A agricultura em si já é uma atividade que acaba com a biodiversidade, já que destrói áreas de floresta, por exemplo, para o cultivo. É impossível existir risco zero em qualquer coisa na vida. Mas não há nenhum problema conhecido e estudado que nos leve a parar de plantar soja transgênica, por exemplo.
Obviamente há sempre o risco de algo sair errado, mas isso ocorre em qualquer área da ciência. Na verdade, há muitos benefícios, como a redução dos níveis de erosão do solo, diminuição do volume utilizado de defensivos agrícolas, o que é sem dúvida um benefício para os sojicultores. Para usar um exemplo brasileiro, já temos milhões de hectares no Sul plantados há pelo menos seis anos e nada de mau aconteceu. Os fazendeiros não continuariam a plantar se fosse prejudicial para eles.
O Greenpeace só quer amedrontar. Por causa dessa histeria, países da África que sofrem com a fome não aceitam receber transgênicos.

Folha - Como o sr. avalia o argumento de que a adoção de transgênicos transformaria os produtores em reféns de multinacionais como a Monsanto?
Moore -
O Brasil tem tecnologia suficiente para produzir os seus próprios produtos geneticamente modificados. O Brasil não pode se render às pressões e chantagens de grupos como o Greenpeace. Além disso, nada obriga os produtores a usarem as sementes produzidas pela Monsanto. A cobrança de royalties é justa. É um meio de os produtores custearem os avanços em biotecnologia.


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