São Paulo, Quinta-feira, 01 de Julho de 1999
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NOVA ÂNCORA
Objetivo é pouco ambicioso, o que abre espaço para a manutenção da queda dos juros; para 2000, previsão é de 6%
Meta de inflação para este ano é de 8%

da Sucursal de Brasília

O ministro Pedro Malan, da Fazenda, anunciou ontem que a meta de inflação do Brasil para este ano é de 8%. Como há margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo, a meta será cumprida se a inflação de 99 ficar entre 6% e 10%.
O sistema de metas inflacionárias, que substitui o controle das cotações do dólar como garantia da estabilidade de preços no país, começa a vigorar a partir de hoje.
A meta anunciada para este ano é mais conservadora -menos ambiciosa- do que esperava o mercado. O próprio governo chegou a estudar uma meta de 6%.
Mas há uma vantagem: a meta de 8% permite ao Banco Central continuar reduzindo os juros básicos da economia, fixados hoje em 21% ao ano. Para uma inflação menor, os juros teriam que ser maiores.
"Há algum espaço para a queda dos juros e temos ainda um viés (tendência) de baixa", afirmou Armínio Fraga, presidente do BC.
Para o governo, o cenário externo é o fator que mais pode complicar o cumprimento das metas.
"A economia internacional é, neste momento, a principal fonte de incerteza na determinação das taxas futuras da inflação doméstica", diz o relatório do BC.
Por esse raciocínio, com o câmbio flutuante, qualquer turbulência externa pode elevar os preços do dólar e dos importados.
O cumprimento das metas será medido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O IPCA acumulado de janeiro a maio deste ano está em 3,76%. Nos últimos 12 meses até maio o índice está em 3,14%
No cenário elaborado para fixar as metas, o governo avalia que a inflação deste ano será afetada por dois tipos de choque -um positivo e outro negativo.
O choque positivo virá da área agrícola. A produção aumentou e, apesar da queda dos preços internacionais desses produtos, haverá elevação da renda agrícola. É que a desvalorização do câmbio compensou a queda de preços no mercado externo.
Esse choque positivo, sempre na visão do governo, deve reduzir a inflação ao consumidor em um ponto percentual neste ano porque vai diminuir o preço de produtos como feijão, soja e arroz.
O choque negativo será provocado pelos reajustes dos preços dos combustíveis e das tarifas telefônicas e de energia elétrica. Esses reajustes elevarão a inflação deste ano em 1,2 ponto percentual. No balanço dos dois choques, fica um aumento de 0,2 ponto percentual na inflação deste ano.

Metas para 2000 e 2001
As metas de inflação para os anos de 2000 e 2001 serão de 6% e 4%, respectivamente. Nos dois casos, também há margem de variação de dois pontos percentuais. Ou seja, a inflação poderá variar de 4% a 8% em 2000 e de 2% a 6% no ano seguinte. A meta de 2002 será anunciada em junho do próximo ano.
Fraga disse que a fixação das metas para os próximos dois anos levou em conta uma série de variáveis, inclusive eventuais aumentos de preços para compensar a desvalorização do real em relação ao dólar. Malan fez questão de repetir que a meta inflacionária complementa a política de ajuste fiscal em andamento.
"O objetivo não é acertar a taxa de inflação da semana, do mês, do bimestre ou mesmo do semestre, mas sim do longo prazo", afirmou Malan. Para ele, o sistema de metas inflacionárias "não será uma panacéia". Ele disse que o governo não está em busca da inflação zero.

Deflação
"Não queremos deflações ou aumento de desemprego", disse Malan, depois de questionado sobre a fixação de um piso para a meta de inflação. Para o ministro, a redução do nível de atividade econômica e o aumento do nível de desemprego não são consequências diretas de um regime de metas inflacionárias.
Malan disse também que serão anunciados em breve os nomes dos integrantes de uma comissão a ser criada para analisar a metodologia de cálculo do IPCA.
Com o tempo, disse o ministro, o governo quer divulgar também uma estimativa do chamado "núcleo da inflação", que exclui do cálculo dos índices a variação de preços provocada por choques externos ou internos.
Fraga disse que a atuação do BC será preventiva quando perceber que a inflação futura pode se desviar da meta prevista. Como sempre há uma defasagem entre uma ação do BC e seu impacto sobre a atividade econômica e os preços, um eventual sacrifício hoje pode reduzir custos maiores no futuro, disse Fraga.


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