São Paulo, Quinta-feira, 01 de Julho de 1999
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Metas de inflação são vistas como fáceis

RICARDO GRINBAUM
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

As metas de inflação anunciadas ontem pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, são "frouxas", "fáceis" e "conservadoras", nas palavras de economistas consultados pela Folha.
Para a maioria desses especialistas, a inflação deve ficar mais próxima ao piso da banda inflacionária fixada para este ano.
O governo estipulou uma meta de 8%, com intervalo de variação de dois pontos percentuais para cima e para baixo, ou seja, de 6% a 10%.
As metas para o ano 2000, de 6%, e para 2001, de 4%, também foram consideradas elevadas por alguns.
"O governo deveria mostrar um pouco mais de firmeza em termos de queda da inflação. Espero que, apesar dessas metas frouxas, o governo persiga um resultado melhor e que só tenha fixado esses números por uma questão de prudência", diz Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.
Na avaliação do ex-ministro Mailson da Nóbrega, a inflação deve atingir, no máximo, 6% em 99.
"O Banco Central divulgou uma meta muito folgada para não correr o risco de errar no fim do ano", diz o ex-ministro, sócio da Consultoria Tendências.
"Houve uma dose de conservadorismo para a fixação da meta de 99. O governo poderia ter sido um pouco mais agressivo, mas parece ter privilegiado a questão da credibilidade", diz Mauro Schneider, vice-presidente da área de pesquisa do banco ING.
Segundo ele, a opção se explica porque, "se houver erro para baixo, o custo de credibilidade será infinitamente menor que se houver um erro para cima".
Entretanto, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco avalia que não haverá ganho de credibilidade algum com tais metas. "Se a meta de inflação não for um desafio, cumpri-la não trará ganhos à credibilidade do país", diz ele.
Para Gustavo Franco, a taxa estipulada para este ano, de 8%, deve manter as ações do BC paralisadas no combate à inflação. O BC, na sua avaliação, só começará a intervir quando a inflação atingir 10%.
"Não há dúvida que em uma taxa desse tamanho há um vírus de indexação", diz o ex-presidente do BC.

Juros em queda
Não há dúvida, dizem os economistas, que as novas metas deixam um amplo espaço para que o governo continue a política de redução de juros, o que foi comemorado pela indústria.
Para Heron do Carmo, da Fipe, as metas escolhidas mostram que o governo pretende trabalhar com "taxas de juro mais baixas e crédito mais folgado".
"Se o governo tivesse adotado uma meta muito apertada, prevendo inflação anual de 6%, era sinal de que poderia ter de subir os juros e dificultar o crédito para conter a alta dos preços", diz Boris Tabacoff, presidente da associação dos fabricantes de papel e celulose.
"A meta de 8% mostra que o governo não quer parar a economia, como fez no passado, para buscar a inflação perto de zero", completa Tabacoff.
Franz Reimer, diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp, acha que não só a meta de 8% indica que o governo não pretende frear ainda mais a economia, como também pode acelerar a recuperação.
"A meta em 8% favorece a queda mais rápida dos juros e a redução dos compulsórios que pesam sobre os depósitos bancários", diz Reimer. "Essas metas de inflação favorecem a recuperação da economia."
Heron do Carmo considera "bom" que o governo busque dar espaço para o crescimento econômico, mas faz ressalvas. "Preferia dar espaço para o crescimento com mais firmeza no controle da inflação."
Para a maioria dos especialistas ouvidos, a folga encontra-se apenas na meta para 99. "É uma meta fácil de atingir. O mercado esperava que a flutuação fosse de 6% a 8%", diz Alexandre Azara, economista do banco BBA.
Quanto às metas para 2000 e 2001, os economistas acreditam que não houve tanta surpresa. "Uma inflação de 4% ou 6% é baixa, normal para o Brasil. Só estávamos registrando taxas inferiores no ano passado porque o país estava em recessão", diz Azara.
O diretor-presidente do Dresdner Bank Brasil, Winston Fritsch, vai mais longe. Para ele, as metas inflacionárias para 2000 e 2001 são até ambiciosas.
Segundo ele, o índice de 4% em 2001 só será consistente com uma mudança fiscal, com a reforma tributária e a implementação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Para o coordenador da Fipe, entretanto, o raciocínio é inverso. Heron do Carmo avalia que 8% para 99 é uma boa meta, mas considera altas demais as metas dos dois próximos anos.
"Minha expectativa para 2000 era de uma meta de 4% e não de 6%." Segundo ele, uma taxa mais alta neste ano se justifica por causa da desvalorização cambial, que trouxe impacto sobre os preços, como as tarifas de energia. "Mas não se espera que isso se repita nos outros anos", afirma ele.
Segundo ele, as bandas fixadas pelo governo permitem que a inflação deste ano seja até inferior à do ano que vem, já que o piso de 99 é 6% e o teto de 2000 é 8%. "Preferia ver metas em que a tendência da inflação fosse necessariamente de queda."


Colaborou a Agência Folha

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