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Metas de inflação são vistas como fáceis
RICARDO GRINBAUM
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
As metas de inflação anunciadas
ontem pelo ministro da Fazenda,
Pedro Malan, são "frouxas", "fáceis" e "conservadoras", nas palavras de economistas consultados
pela Folha.
Para a maioria desses especialistas, a inflação deve ficar mais próxima ao piso da banda inflacionária fixada para este ano.
O governo estipulou uma meta
de 8%, com intervalo de variação
de dois pontos percentuais para cima e para baixo, ou seja, de 6% a
10%.
As metas para o ano 2000, de 6%,
e para 2001, de 4%, também foram
consideradas elevadas por alguns.
"O governo deveria mostrar um
pouco mais de firmeza em termos
de queda da inflação. Espero que,
apesar dessas metas frouxas, o governo persiga um resultado melhor e que só tenha fixado esses números por uma questão de prudência", diz Heron do Carmo,
coordenador do Índice de Preços
ao Consumidor da Fipe.
Na avaliação do ex-ministro
Mailson da Nóbrega, a inflação deve atingir, no máximo, 6% em 99.
"O Banco Central divulgou uma
meta muito folgada para não correr o risco de errar no fim do ano",
diz o ex-ministro, sócio da Consultoria Tendências.
"Houve uma dose de conservadorismo para a fixação da meta de
99. O governo poderia ter sido um
pouco mais agressivo, mas parece
ter privilegiado a questão da credibilidade", diz Mauro Schneider, vice-presidente da área de pesquisa
do banco ING.
Segundo ele, a opção se explica
porque, "se houver erro para baixo, o custo de credibilidade será
infinitamente menor que se houver um erro para cima".
Entretanto, o ex-presidente do
Banco Central Gustavo Franco
avalia que não haverá ganho de
credibilidade algum com tais metas. "Se a meta de inflação não for
um desafio, cumpri-la não trará
ganhos à credibilidade do país",
diz ele.
Para Gustavo Franco, a taxa estipulada para este ano, de 8%, deve
manter as ações do BC paralisadas
no combate à inflação. O BC, na
sua avaliação, só começará a intervir quando a inflação atingir 10%.
"Não há dúvida que em uma taxa
desse tamanho há um vírus de indexação", diz o ex-presidente do
BC.
Juros em queda
Não há dúvida, dizem os economistas, que as novas metas deixam
um amplo espaço para que o governo continue a política de redução de juros, o que foi comemorado pela indústria.
Para Heron do Carmo, da Fipe,
as metas escolhidas mostram que o
governo pretende trabalhar com
"taxas de juro mais baixas e crédito
mais folgado".
"Se o governo tivesse adotado
uma meta muito apertada, prevendo inflação anual de 6%, era sinal
de que poderia ter de subir os juros
e dificultar o crédito para conter a
alta dos preços", diz Boris Tabacoff, presidente da associação dos
fabricantes de papel e celulose.
"A meta de 8% mostra que o governo não quer parar a economia,
como fez no passado, para buscar a
inflação perto de zero", completa
Tabacoff.
Franz Reimer, diretor do departamento de pesquisas e estudos
econômicos da Fiesp, acha que não
só a meta de 8% indica que o governo não pretende frear ainda
mais a economia, como também
pode acelerar a recuperação.
"A meta em 8% favorece a queda
mais rápida dos juros e a redução
dos compulsórios que pesam sobre os depósitos bancários", diz
Reimer. "Essas metas de inflação
favorecem a recuperação da economia."
Heron do Carmo considera
"bom" que o governo busque dar
espaço para o crescimento econômico, mas faz ressalvas. "Preferia
dar espaço para o crescimento
com mais firmeza no controle da
inflação."
Para a maioria dos especialistas
ouvidos, a folga encontra-se apenas na meta para 99. "É uma meta
fácil de atingir. O mercado esperava que a flutuação fosse de 6% a
8%", diz Alexandre Azara, economista do banco BBA.
Quanto às metas para 2000 e
2001, os economistas acreditam
que não houve tanta surpresa.
"Uma inflação de 4% ou 6% é baixa, normal para o Brasil. Só estávamos registrando taxas inferiores
no ano passado porque o país estava em recessão", diz Azara.
O diretor-presidente do Dresdner Bank Brasil, Winston Fritsch,
vai mais longe. Para ele, as metas
inflacionárias para 2000 e 2001 são
até ambiciosas.
Segundo ele, o índice de 4% em
2001 só será consistente com uma
mudança fiscal, com a reforma tributária e a implementação da Lei
de Responsabilidade Fiscal.
Para o coordenador da Fipe, entretanto, o raciocínio é inverso.
Heron do Carmo avalia que 8% para 99 é uma boa meta, mas considera altas demais as metas dos dois
próximos anos.
"Minha expectativa para 2000
era de uma meta de 4% e não de
6%." Segundo ele, uma taxa mais
alta neste ano se justifica por causa
da desvalorização cambial, que
trouxe impacto sobre os preços,
como as tarifas de energia. "Mas
não se espera que isso se repita nos
outros anos", afirma ele.
Segundo ele, as bandas fixadas
pelo governo permitem que a inflação deste ano seja até inferior à
do ano que vem, já que o piso de 99
é 6% e o teto de 2000 é 8%. "Preferia ver metas em que a tendência
da inflação fosse necessariamente
de queda."
Colaborou a Agência Folha
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