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ARTIGO
Meta é mais "frouxa" do que imaginava o mercado
CELSO PINTO
do Conselho Editorial
A meta de 8% de inflação para este ano, podendo variar de 6% a
10%, é bem mais "frouxa" do que
imaginava e projetava o mercado.
Até aí, todos concordam. Mas
quais conclusões se podem tirar
desse fato?
A primeira, óbvia, é que o governo decidiu entrar no novo sistema
de metas inflacionárias de forma
bastante conservadora. Há razões
"estruturais" e "conjunturais" para isso.
Outra, nem sempre considerada,
é uma admissão tácita do governo
de que é desejável um gradualismo
na estabilização. Existem duas
boas razões para isso.
Uma é a necessidade premente
de baixar os juros reais, a única
forma de reduzir o estoque da dívida pública e afastar o temor de um
calote a médio prazo.
A segunda é o reconhecimento
de que a estabilização deve ser
compatível com um crescimento
razoável do PIB nos próximos dois
anos. Muita gente esquece que o
sistema de metas inflacionárias
não fixa apenas um teto para o aumento dos preços. Embute, também, uma hipótese para o crescimento da economia.
A faixa de flutuação dos preços
vale para os dois lados. Se furar o
teto, os juros sobem para segurar
os preços. Mas, se baixar além do
piso, o Banco Central terá que reduzir de forma mais agressiva os
juros.
Não para fazer mais inflação,
mas para evitar uma perda de produto além do que se considerou razoável ao fixar as metas. O horizonte para a inflação nos próximos
anos, nesse sentido, embute também o tamanho do sacrifício da estabilização, inversamente proporcional ao tempo que se vai levar
para trazer a inflação para níveis
internacionais.
As metas de 6% (com intervalo
entre 4% e 8%) para o próximo ano
e de 4% (de 2% a 6%) para 2001 são
certamente cautelosas. Pressupõem um gradualismo recomendável para uma estabilização que
não vai mais contar nem com o artificialismo do câmbio sobrevalorizado nem com uma estagnação
econômica prolongada, as duas
alavancas para a inflação próxima
de zero recente.
Mesmo sem considerar esses fatores, existiam boas razões técnicas para a prudência nas metas. Algumas são "estruturais".
Para funcionar bem, um sistema
de metas inflacionárias tem que
contar com um bom sistema de
previsão de preços, instrumentos
eficazes de ação e algumas certezas
sobre como esses instrumentos se
transmitem para os preços. No
Brasil há precariedade nas três
pontas.
As previsões são precárias, por
razões conhecidas. Existem três
instrumentos: juros, crédito e
compulsórios. Na prática, os compulsórios são tão gigantescos que
só dá para reduzi-los, não aumentá-los. Na vida real, sobram apenas
os juros.
Só que os mecanismos de transmissão dos juros para os preços,
no Brasil, são limitados. Segundo o
BC, a mudança dos juros só afetaria a demanda agregada via investimentos das empresas e consumo
de bens duráveis dos indivíduos.
Em outros países, a subida dos
juros gera uma perda de valor nos
investimentos financeiros. Ao sofrer a perda, via "efeito riqueza", os
indivíduos retraem o consumo. No
Brasil, as aplicações financeiras
são de curto prazo e muitas, indexadas diariamente: se os juros sobem, aumenta o rendimento financeiro dos aplicadores.
Outra razão "estrutural" é que a
meta usará uma inflação sem expurgo. É bom para a credibilidade,
mas é ruim para o sistema. Sem expurgo, o índice tende a ser mais
volátil: daí por que a faixa tão ampla de oscilação, de 2% para cima e
para baixo.
São várias as razões "conjunturais" prováveis para a cautela na
meta. Do lado externo, persiste o
temor com os juros americanos, a
Bolsa americana, a Argentina e
possíveis crises no Equador e na
Colômbia.
Do lado interno, é um indício de
cautela na área fiscal. Se o governo
perder nas enormes pendências
fiscais na Justiça, terá que compensar com ajustes que terão impacto
inflacionário: de novos aumentos
na gasolina até novos aumentos de
impostos.
Finalmente, como foi dito, a cautela sinaliza que o governo quer
viabilizar uma queda expressiva de
juros reais até o fim do ano. É vital,
do ponto de vista fiscal.
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