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LUÍS NASSIF
Evolução no setor público
Hoje em São Paulo ocorrerá
a 14ª reunião preparatória do
lançamento do próximo Plano
Plurianual de Investimento.
Trata-se do mais importante
avanço no planejamento público brasileiro, desde que a
Comissão Mista Brasil Estados
Unidos obrigou o governo brasileiro a um plano de investimentos, para poder ter acesso
aos recursos oferecidos.
Na prática, vai se estender a
experiência do Brasil em Ação
para todo o orçamento público
brasileiro, mas dentro de uma
visão estratégica de longo prazo -algo que não se via no
país desde o Segundo Plano
Nacional de Desenvolvimento.
Após a abertura criou-se um
estereótipo na cabeça de economistas ideológicos de que
toda forma de planejamento
era viciada, posto que normativa e seletiva. Isso ocorria em
um momento em que os conceitos de planejamento avançavam celeremente no setor
privado, com o desenvolvimento de novas ferramentas
de análise e gerenciamento,
obrigando à definição de metas, à identificação dos meios,
à criação de indicadores de
acompanhamento, à montagem de uma estrutura de comando horizontal -com gerentes coordenando ações
complementares de departamentos diversos etc.
No caso brasileiro, o motor
das mudanças no planejamento foi a constatação de que não
havia mais recursos públicos
para atender às demandas nacionais. O Estado teria que suprir as necessidades com parcerias. Para buscar recursos na
sociedade, no entanto, havia a
necessidade de um projeto que
fosse viável do ponto de vista
privado.
A partir daí foi estruturado o
projeto dos "eixos nacionais"
-tendo como ponto de partida estudos produzidos por
Eliezer Baptista nos estertores
do governo Collor, que foram
recuperados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES)
após um alerta publicado pela
coluna no início de 1996.
A montagem do planejamento partiu de dois ângulos
de análise:
1) Quais os focos dinâmicos
da economia, dentro de uma
visão de futuro? Identificaram-se as atividades econômicas potenciais em todo o país,
que foram submetidas a uma
análise geográfica.
2) Esses estudos permitiram
identificar gargalos de infra-estrutura (os chamados "missing links"), pedaços de infra-estrutura sobrecarregados ou
incompletos. Resolvidos esses
gargalos, estariam criadas as
condições para o desenvolvimento pleno das potencialidades identificadas.
Investimentos
Os levantamentos foram efetuados segundo a premissa do
capital privado. Criou-se um
portfólio de investimentos, englobando os setores de energia,
transportes e comunicações.
Foram diagnosticados os chamados investimentos estruturantes também na área social
-educação, saúde, saneamento, habitação.
Ao todo, foram identificados
330 projetos em todo o país,
em gargalos ou elos complementares. Em vez de se sair desenhando projeto a projeto,
determinou-se uma varredura
em todos os ministérios, bancos de desenvolvimento, secretarias de planejamento estaduais, agências reguladoras,
para levantar o que já havia
em andamento ou aguardando decisão.
De 800 projetos pesquisados,
250 estavam no universo de
330 projetos estruturantes.
Havia a necessidade apenas de
mais 80 projetos para completar o portfólio.
O passo seguinte foi agrupar
os projetos em programas, para aumentar a sinergia. Não
adianta construir uma rodovia em área que não tem energia e assim por diante. Ao definir os projetos do setor público, ao mesmo tempo, haveria a
sinalização para os projetos do
setor privado. Para cada programa foi definido um resultado a ser alcançado, uma unidade de gestão, um espaço para parcerias e um elo de ligação entre o planejamento e o
orçamento.
Foram montados 57 grupos
de projetos geograficamente
situados. Depois, foram analisados, um a um, de acordo
com duas dimensões: contribuição para o desenvolvimento (em que o papel central seria do setor público) e atratividade ao setor privado.
Cada projeto foi entregue a
um gerente, que terá a incumbência de atuar como empreendedor, tratando não
apenas de fiscalizar as obras
públicas, como de buscar parceiros para os investimentos
privados incluídos no projeto.
Caberá a ele remover impedimentos de natureza legal, articular investidores, em um trabalho de gestão empreendedora. Vai ser responsável pela
atividade, ainda que não tenha dinheiro público envolvido. Por isso a gestão é fundamental. O perfil desse novo
funcionário público será o de
gerente empreendedor.
Esses projetos serão a base da
próxima peça orçamentária.
Em vez de recursos genéricos,
agora haverá a destinação para cada projeto, com metas a
ser alcançadas, que poderão
ser cobradas por toda a sociedade.
Populismo
É um país que tem camadas
geológicas. Ao mesmo tempo
em que se obtêm esses avanços
na área pública, aparece mais
um dos esqueletos da campanha da reeleição: a ordem irresponsável dada por FHC ao
Banco do Brasil para que assumisse títulos podres da dívida
paulista.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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