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TRIBUTAÇÃO
Produção de bens e serviços poderia ter metade da taxação atual, afirma deputado autor do projeto que cria o IUF
Imposto único reduz carga fiscal, diz Cintra
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o IUF (Imposto Único Federal) estivesse em vigor no país, a carga tributária sobre a produção de 42 setores da economia seria reduzida à metade.
A afirmação foi feita pelo deputado federal Marcos Cintra (PFL-SP), autor do projeto que cria o imposto único, durante debate promovido pela Folha na terça-feira à noite.
O debate foi coordenado por
Ives Gandra da Silva Martins, advogado e professor de direito tributário das universidades Mackenzie e Paulista. Participaram
também Osiris Lopes Filho, ex-secretário da Receita Federal e professor de direito tributário da
Universidade de Brasília, Américo Lacombe, advogado e ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP/MS) e Luiz
Zottmann, economista, ex-professor da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) do Rio e assessor da liderança do PPB no Congresso.
Cintra diz que o novo imposto
teria alíquota de 1,7% e incidiria
sobre os débitos e créditos feitos
no sistema bancário. Ele substituiria outros sete tributos federais, entre eles o IR, o IPI e a contribuição à Previdência Social.
Com a redução da carga tributária sobre aqueles 42 setores, que
englobam praticamente toda a
produção de bens e serviços no
país (veja quadro na página seguinte), as empresas teriam economia com despesas administrativas. Em consequência, os preços
finais dos produtos também cairiam, diz Cintra. Haveria ganhos
para empresas e trabalhadores.
Segundo o estudo do deputado,
a carga tributária sobre aqueles
setores está entre 25% e 30%, em
média. Com o IUF, ela cairia para
cerca de 10% a 15%. Hoje, nenhum setor analisado no estudo
tem carga acima de 30%. Com o
IUF, nenhum teria mais de 15%.
O objetivo do projeto é acabar
com os impostos denominados
arrecadatórios, permanecendo
apenas os chamados tributos que
têm a finalidade de regular a política econômica (casos dos impostos sobre exportação e importação, FGTS e PIS) e as taxas pela
prestação de serviços.
Na primeira etapa o imposto seria apenas federal. Num segundo
momento, a proposta prevê a
possibilidade de que os Estados e
municípios interessados possam
optar pela adesão à nova sistemática. Para isso, seriam realizados
plebiscitos em todo o país.
A proposta de emenda à Constituição (PEC nº 474) já foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Após aprovada, uma comissão especial foi criada para debater o tema. A partir de agora serão
realizadas audiências públicas.
Críticas
A idéia do IUF foi elogiada pelos
participantes do debate, mas também recebeu algumas críticas. Para Lacombe, "é preciso respeitar a
Constituição, caso contrário vamos cair em total insegurança legislativa". Para ele, o novo imposto poderia ser um atentado ao sistema federativo.
Zottmann acredita que se a arrecadação pretendida não for alcançada, por uma eventual sistemática de sonegação, o sistema
tributário nacional poderia se tornar vulnerável. Isso levaria o governo a ter de tomar outras medidas (aumentar a taxação sobre determinados produtos e serviços)
para suprir a perda de receita.
Para Lopes Filho, a proposta
abre uma nova discussão no país,
pois se trata de uma incidência
moderna de tributação. Ele define
essa incidência como a grande
fonte de tributação deste milênio.
Vantagens
Cintra enumera o que considera
as grandes vantagens do IUF: redução da carga tributária sobre
cada consumidor; simplificação
do atual sistema tributário; corte
de custos (para União, Estados e
municípios, que reduzirão o número de fiscais, e para as empresas, que não precisarão mais escriturar livros e recorrer à Justiça
para contestar tributos); maior
produtividade e maior lucro para
as empresas; aumento dos salários e redução do "custo Brasil".
Mas não é só isso. Cintra diz ainda que ninguém sonegaria o imposto (dadas as dificuldades para
isso e devido à alíquota baixa)
nem estaria isento dele (princípio
da universalidade), haveria transparência e seria proporcional aos
ganhos de cada pessoa.
País está preparado
Cintra diz que o país está preparado para a chegada desse novo
tributo. Seu argumento: os brasileiros carregam pouco dinheiro
na carteira ou no bolso -menos
de 2% do PIB circula nas mãos
das pessoas no Brasil, contra 7%
nos EUA e 15% no Japão.
Ou seja, hoje, o brasileiro paga
quase todas as contas com cheque
ou cartão. "É o pagamento por
impulso eletrônico", conforme
define o autor do projeto. Por isso, o novo imposto, a exemplo do
que acontece com a CPMF, seria
insonegável, segundo Cintra.
E se as pessoas passassem a andar com muito dinheiro, fizessem
os pagamentos com dinheiro,
passassem um cheque para outra
pessoa, ou seja, se houvesse a monetização da economia, com as
pessoas e empresas deixando de
usar os bancos, o que ocorreria?
Diante da inevitável pergunta,
Cintra é categórico: "Acho difícil
que as pessoas deixem de usar os
bancos. A alíquota de 1,7% é baixa
e não compensa correr o risco".
Outro argumento: hoje as empresas compram do exterior, de
outros Estados e de outros municípios. Por isso, diz Cintra, a empresa não vai sair carregando dinheiro para pagar suas compras.
Mudar a Constituição
No início do debate o professor
Gandra Martins esclareceu que a
proposta do deputado altera o sistema tributário nacional estabelecido pela Constituição Federal.
Essa parte compreende os artigos
145 a 156 da Constituição.
Gandra diz que o sistema brasileiro tem cinco espécies tributárias: os impostos, as taxas, as contribuições de melhoria (todos no
artigo 145), os empréstimos compulsórios (artigo 148) e as contribuições especiais (artigo 149).
O professor mostrou preocupação quanto ao comportamento
do mercado se o projeto for aprovado na forma proposta e passe a
vigorar. Para ele, a alíquota de 1,7%, incidente em sucessivas etapas, poderá ser muito elevada.
"Um planejamento tributário [feito pelas empresas para evitar a intermediação bancária" poderá descompassar a arrecadação do novo imposto. Por isso, entendo
que a proposta precisa ainda ser aperfeiçoada."
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